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Podígios da FTX vão de amizade juvenil a traição após colapso

Bankman-Fried e Wang, se enfrentam e oferecem relatos conflitantes sobre o fiasco da cripto e sobre quem é o culpado.

Eles percorreram um longo caminho juntos, de “atletas” de olimpíadas de matemática na adolescência a companheiros de fraternidade do MIT e bilionários cripto. Mas com promotores públicos federais pressionando os dois, um deles iria se voltar contra o outro.

“Podemos fazer isso funcionar,” Sam Bankman-Fried disse no Signal, um aplicativo de mensagens criptografadas. Gary Wang não respondeu.

Era meados de novembro, dias após o colapso da FTX, a bolsa de ativos digitais que os dois fundaram. Eles estavam em uma cobertura de US$ 40 milhões no Caribe.

Wang, o crânio em software da FTX e guardião-mor dos segredo da bolsa cripto, estava enfurnado em um dos cinco quartos do imóvel à beira-mar onde trabalhava com Bankman-Fried e outros oito. Ele saiu, com dois advogados que vieram de Nova York ao lado dele. Wang deu a notícia de que estava saindo.

“Eu meio que disse: ‘Você já se decidiu ou quer falar sobre isso?’” conta Bankman-Fried, relembrando sua última conversa com Wang, em uma entrevista na casa de seus pais na Califórnia. “Ele disse que já estava decidido, e foi isso.”

O que Wang não disse foi que ele iria trair seu amigo.

Aqueles momentos finais em Nassau — a mensagem de Bankman-Fried no Signal foi enviada em seguida — marcaram um ponto de inflexão para os dois, em uma trajetória de ascensão espetacular, e queda mais espetacular ainda, da FTX, que foi uma das maiores bolsas de criptomoedas do mundo.

Por uma década e meia, quase o total de suas vidas adultas, Bankman-Fried e Wang traçaram juntos um percurso de sucesso alucinante. Bankman-Fried aparecia como o garoto prodígio das criptomoedas disposto a gastar bilhões para salvar a humanidade. Wang era um mistério.

Entrevistas com pessoas próximas a Wang no ensino médio, na faculdade e na FTX, e análises de centenas de páginas de documentos relacionados à saga jurídica em andamento, preenchem algumas lacunas. Ex-funcionários da FTX falaram sob condição de não serem identificados. O advogado de Wang, Ilan Graff, não quis comentar.

Enquanto Bankman-Fried alcançava a fama mundial, Wang vivia longe das multidões — sorrindo, acenando com a cabeça — mas sempre se retirarando para a reclusão de sua mente brilhante.

Sam Bankman-Fried, cofundador e CEO da FTX, em Hong Kong, China, na terça-feira, 11 de maio de 2021/Crédito: Bloomberg

Agora Bankman-Fried e Wang, amigos desde a adolescência, se enfrentam. Eles oferecem relatos conflitantes sobre o fiasco da FTX e sobre quem é o culpado. O relacionamento dos dois cofundadores e as questões sobre quem poderia ter controlado quem se tornaram centrais no caso da FTX.

Wang e Caroline Ellison, ex-chefe da corretora Alameda Research da FTX, se declararam culpados de uma série de acusações. Eles estão cooperando com os promotores públicos na esperança de receberem sentenças mais leves.

Wang também colaborou com a equipe que administra a massa falida da FTX, respondendo a perguntas sobre o funcionamento interno da bolsa cripto, com o envolvimento de seu advogado, de acordo com três pessoas familiarizadas com o assunto.

Bankman-Fried, em liberdade condicional sob fiança de US$ 250 milhões, mas confinado na casa de seus pais com um monitor eletrônico preso ao tornozelo, se declarou inocente e deve ser julgado em outubro.

Mais do que Ellison, que também foi namorada de Bankman-Fried, Wang pode oferecer um relato mais intrincado do que realmente aconteceu na FTX, dizem pessoas de dentro da empresa.

E, no entanto, durante todo esse tempo, apesar das manchetes dos tablóides, Wang permaneceu uma espécie de enigma.

“Foi um grande choque”, disse Tommy Tang, que era copresidente do clube de matemática com Wang em sua escola de ensino médio em New Jersey. “É realmente incrível descobrir que seu colega de classe tinha uma fortuna de vários bilhões de dólares e agora pode enfrentar anos de prisão.”

Wang impressionava os colegas com suas habilidades de programação desde os tempos de escola. Ele era visto pelos colegas como o gênio silencioso da FTX, um gênio solitário que trabalhava em horários estranhos.

Sua amizade incomum com Sam Bankman-Fried, conhecido como SBF, uniu a FTX desde o início. Um ex-colega comparou o tímido Wang a um par de braços mecânicos que Bankman-Fried podia manipular à vontade. Funcionários se perguntavam se Wang poderia um dia representar um risco para a empresa. Se alguma coisa acontecesse a Wang, diziam, tudo poderia desmoronar como um castelo de cartas.

E desmoronou. Em 11 de novembro, a FTX entrou em recuperação judicial. As ondas de choque ainda estão reverberando.

“Um cooperador como Gary Wang é incrivelmente valioso para o governo”, disse Mark Kasten, advogado do escritório Buchanan Ingersoll & Rooney. “Eu diria que SBF sentiu as paredes se fechando.”

 

Os advogados da FTX inicialmente culparam Wang por tentar bloquear os esforços para recuperar bilhões de dólares em dinheiro de clientes. Wang apontou para Bankman-Fried. Ele disse aos promotores que Bankman-Fried estava tentando protelar a falência, na esperança de que as Bahamas pegassem leve com a FTX e, quem sabe, deixassem o Bankman-Fried recuperar o controle.

As acusações cruzadas continuam. Em uma audiência em dezembro em um tribunal federal no sul de Manhattan, Wang se declarou culpado de acusações como fraude eletrônica e conspiração para cometer fraude de derivativos. O supercodificador da FTX testemunhou que entre 2019 e 2022 ele foi instruído a alterar o código da FTX. Ele disse que fez as mudanças sabendo que elas dariam “privilégios especiais” à Alameda.

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