Economia

A nota de R$ 200 gera inflação? 5 mitos e verdades sobre seu dinheiro

Memes à parte, o que é fato e o que é invenção na polêmica sobre a nova nota que vai circular na mão do brasileiro.

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Memes criados após a notícia de que o BC vai lançar uma nova cédula de R$ 200

A notícia de que o Banco Central vai lançar uma cédula no valor de R$ 200 gerou fortes reações. A nota que será estampada com a imagem do lobo-guará foi alvo de críticas e memes. Piadas à parte, houve quem dissesse que a novidade denuncia a volta da hiperinflação e também quem lembrasse que dinheiro vivo só serve para facilitar atos criminosos. O que é verdade e o que é invenção no debate que envolve dinheiro vivo? Por que, afinal, o governo decidiu imprimir cédulas em plena pandemia?

É a primeira vez em 18 anos que o país cria uma cédula de novo valor para se juntar às já existentes: de R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100. A intenção é que a Casa da Moeda imprima 450 milhões de unidades em 2020, totalizando um valor de R$ 90 bilhões. Por segurança, o governo não divulgará a imagem da cédula até seu lançamento oficial, previsto para agosto.

A explicação do próprio Banco Central foi de que o momento é oportuno para o lançamento porque houve aumento da demanda por papel-moeda durante a pandemia da covid-19. Sabe-se que boa parte do auxílio emergencial pago a milhões de brasileiros foi distribuída em dinheiro vivo, especialmente entre os que não têm acesso aos meios digitais. Segundo dados do BC, 60% da população ainda utiliza dinheiro vivo para consumir. Em março, isso representava aproximadamente R$ 216 bilhões. 

Diante da forte reação ao lançamento da nova cédula, o InvestNews consultou economistas e reuniu alguns mitos e verdades sobre a impressão de dinheiro na economia:

1 – A nota de R$ 200 indica que há risco de hiperinflação?

  • Mito

A criação de uma cédula mais valiosa gera o “efeito psicológico” de que o dinheiro está perdendo valor. Mas faz sentido? Essa sensação está na memória coletiva do brasileiro, que durante décadas viu seu poder de compra desaparecer diante da hiperinflação. Para o professor de finanças do Ibmec, Gilberto Braga, a nota de R$ 200 vem para corrigir uma defasagem de quase 20 anos das cédulas que circulam hoje no país. “Nesse período, a desvalorização da moeda foi bastante acentuada, razão pela qual o poder de compra da cédula caiu”, explica.

O próprio secretário do Tesouro, Bruno Funchal, afirmou que considera muito difícil que a nova cédula cause inflação, diante do cenário de aumento de preços “extremamente baixo”. De fato, o país está longe de ver os preços acelerarem tão cedo. Em abril e maio, o indicador oficial da inflação (IPCA) apresentou deflação em razão da crise econômica, levando as projeções para 2020 de 1,67%, enquanto a previsão para o PIB é de queda de 5,77%, segundo o boletim Focus divulgado na segunda-feira (27).

A professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, pontua que embora a alta dos preços esteja historicamente baixa, a percepção do brasileiro é de inflação maior. “A inflação ficou mais baixa, mas os alimentos e bens essenciais, que é o que a população de fato consome, ficaram mais caros”, compara. O que também gera a percepção de inflação maior é o fato de a economia começar a se recuperar, mas a oferta não reagir na mesma velocidade por causa da pandemia, o que acaba pressionando os preços.

2 – A nova cédula facilita atos ilícitos?

  • Mito

Uma das principais reações ao lançamento da cédula de R$ 200 foi em relação à facilidade que notas de maior valor oferecem para quem deseja cometer atos criminosos como corrupção. Segundo Braga, em qualquer lugar no mundo é comum que a cédula de maior valor seja a mais visada para falsificação e para o pagamento de transações ilícitas. “Isso não tem a ver necessariamente com a criação da moeda, mas com uma anomalia presente em todas as economias do globo”, acrescenta. Juliana, do Insper, acredita que há um certo exagero em associar a criação de uma cédula mais valiosa a crimes como lavagem de dinheiro. “Quem quer fazer corrupção faz, não importa se a nota é alta ou baixa”, diz. 

3 – O Brasil está emitindo dinheiro novo?

  • Mito

É preciso diferenciar a criação de uma cédula de novo valor da emissão de dinheiro novo na economia. Essa segunda hipótese acontece quando o BC coloca moeda em circulação, como lembra Juliana. “A Casa da Moeda gasta uma grana para imprimir as notas, mas isso não é aumento de base monetária”. No passado do Brasil, a impressão de dinheiro esteve associada à hiperinflação. Todas as vezes em que o governo brasileiro imprimiu dinheiro e despejou na economia, o resultado foi um descontrole inflacionário que perdurou durante os anos de 1980, até chegar ao auge entre 1989 e 1990, quando os preços aceleraram a um ritmo de 80% por mês. Para evitar o repasse ilimitado de recursos do BC, a solução foi cortar esse “cordão umbilical” e impor regras mais rígidas. Em outros países, um exemplo que deu errado na emissão de dinheiro foi na Alemanha após a Primeira Grande Guerra. O governo emitiu moeda nova para financiar a crise econômica deixada pelo conflito. O resultado foi uma das piores hiperinflações que se conhece, chegando a 29.500% por mês (ou cerca de 20% por dia). Hoje, no entanto, vários países do mundo passam por um período de inflação baixa, como o Brasil, e juros próximos a zero.

4 – O BC pode ter percebido que vai faltar moeda?

  • Verdade

Segundo Juliana Inhazs, do Insper, a justificativa do BC de que a nova nota serve para aumentar a liquidez, porque as pessoas estariam usando mais dinheiro vivo após o pagamento do auxílio emergencial. Dados do BC mostram que o aumento nos pedidos de seguro-desemprego durante a crise elevou muito a necessidade de dinheiro em circulação, para R$ 342 bilhões em 2020, frente a R$ 281 bilhões em 2019. Outra hipótese é que a população estaria guardando mais dinheiro em casa durante a pandemia. Isso sugere que o BC pode querer se antecipar a uma falta da moeda no futuro, quando a economia voltar a reagir. O primeiro sinal dessa reação viria do mercado financeiro, com as bolsas mostrando forte recuperação enquanto as economias mostram extrema fragilidade. O PIB anualizado dos EUA no segundo trimestre caiu 32,9%. “O BC pode ter visto um efeito que a gente ainda não vê. Que os preços do mercado financeiro se recuperaram antes da economia real e está se antecipando para ter numerário suficiente”, acredita Juliana.

5 – Uma nota mais valiosa reduz a quantidade de cédulas em circulação?

  • Verdade

Por que criar uma cédula mais valiosa em vez de disponibilizar mais notas de R$ 100 e R$ 50? A criação de uma cédula de maior valor, na verdade, reduz a necessidade de imprimir cédulas menos valiosas. A desvalorização do real nas últimas décadas obrigou o brasileiro a carregar uma quantidade maior de cédulas para adquirir a mesma quantidade de bens e serviços, o que expõe a população a maiores riscos, como assaltos e manipulação, acredita Braga, do Ibmec. Quando se transporta R$ 1.000, hoje é preciso ter 10 notas de R$ 100. Com a nota de R$ 200, a quantidade de cédulas cai pela metade. “Se por um lado representa um custo maior, por outro lado vai diminuir a necessidade e quantidade de notas menores”, afirma o professor. 

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