O ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto voltou a defender um ajuste fiscal mais robusto. Para Campos Neto, hoje vice-chairman do Nubank, diante do nível elevado de endividamento do país, a conta sempre chega — a diferença está em como ela será paga.

“Quando você tem uma dívida tão grande, o ajuste vem sempre. A questão é que ele pode vir pela inflação, por um imposto regressivo em que quem está embaixo paga mais a conta, pode vir via impostos penalizando o capital ou até pela desorganização do mercado, um custo que recai sobre quem financia o governo”, afirma Campos Neto durante o evento Fronteiras do Investimento, realizado pela Nu Asset em parceria com o InvestNews.

O ex-presidente do BC avalia que há um quadro de instabilidade que, inevitavelmente, será resolvido de alguma forma. O desafio seria o de “escolher o caminho menos doloroso”. 

“No final das contas, uma instabilidade tende a se resolver. A questão é qual a melhor forma de resolver isso: de uma forma organizada, cortando gastos. Se o governo não conseguir entender que tem que cortar gastos agora, vai acabar tendo que fazer isso numa situação muito pior do que hoje”, reforça.

O executivo lembra ainda que o problema não é exclusivamente do Brasil. “Incluo os Estados Unidos, que hoje, em muitas décadas, têm um debate fiscal mais acirrado”, disse, ao lembrar que o endividamento acelerou após a pandemia e agora pressiona os governos a encontrar soluções.

Em linha com Campos Neto, o vice-presidente da gestora BlackRock, Nathan do Nascimento afirmou que o Brasil tem se beneficiado com a saída parcial de recursos do mercado dos EUA para os emergentes, motivado pelo enfraquecimento do dólar diante das incertezas causadas pelas tarifas do presidente americano Donald Trump e pelo crescimento mais acelerado do endividamento do país.

Mas a má notícia é que a questão da sustentabilidade da dívida brasileira ao longo do tempo pode voltar a afastar o capital estrangeiro. O executivo ressalta que “não podemos subestimar o desafio fiscal que enfrentamos”.

Nascimento explica que o resultado fiscal que o governo precisa entregar para apenas estabilizar a dívida ao redor de 80% do PIB, ou seja, só evitar que cresça,seria um superávit entre 2% e 2,5% do PIB. O problema é que a missão se torna muito difícil, porque o orçamento público é “90% engessado”.