O governo Trump está considerando cortar significativamente as tarifas sobre importações chinesas — em alguns casos, mais da metade — como forma de reduzir as tensões com Pequim, que vêm afetando o comércio e os investimentos globais, segundo fontes com conhecimento das discussões.
Embora o presidente Donald Trump ainda não tenha tomado uma decisão final, fontes afirmam que o tema está sendo avaliado com várias possibilidades na mesa. Um integrante do governo afirmou que Trump não tomará uma decisão unilateral: qualquer redução nas tarifas exigiria contrapartidas de Pequim.
(Adendo InvestNews: a diminuição do tom de Trump mexeu com os mercados financeiros no Brasil e nos EUA. No início da tarde desta quarta-feira (23), o Ibovespa subia cerca de 1,5%. E, segundo o Wall Street Journal, os principais índices dos EUA estavam na mesma toada: o S&P 500 avançou 1,5%; Nasdaq Composite, 2,5%.)
Queda nas tarifas para a China
Segundo um alto funcionário da Casa Branca, as tarifas sobre produtos chineses podem cair para algo entre 50% e 65%.
Há também a possibilidade de adotar um modelo em camadas, como o proposto por um comitê da Câmara dos EUA no fim do ano passado: 35% para itens considerados sem risco à segurança nacional e pelo menos 100% para produtos estratégicos para os interesses americanos. Essa proposta previa a implementação gradual das taxas ao longo de cinco anos.
“O presidente Trump tem sido claro: a China precisa fechar um acordo com os Estados Unidos. Quando decisões sobre tarifas forem tomadas, virão diretamente dele. Qualquer outra coisa é pura especulação”, disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai.
Na terça-feira (22), Trump declarou que está disposto a reduzir as tarifas sobre produtos chineses e que os atuais 145% impostos durante seu segundo mandato devem cair. “Mas não chegarão a zero”, afirmou. A fala foi bem recebida por investidores, que vinham se assustando com o tom agressivo da Casa Branca nas últimas semanas.
Na quarta-feira (23), a China sinalizou abertura para retomar negociações comerciais, mas alertou que não participará de conversas sob ameaças contínuas dos EUA. Em círculos de formulação de políticas em Pequim, as declarações de Trump foram vistas como um recuo, segundo fontes com acesso ao governo chinês.
Mercado dos EUA fechado
Mesmo com um corte pela metade, as tarifas ainda manteriam o mercado americano praticamente fechado para muitos fabricantes chineses de máquinas elétricas e equipamentos, entre outros produtos. Analistas apontam que, nesse nível, o comércio entre os dois países poderia praticamente secar em poucos meses.
Fontes próximas à Casa Branca afirmam que Trump teria margem para reduzir tarifas e, ainda assim, continuar com sua estratégia de “desacoplamento” dos EUA em relação à economia chinesa. “Seria como aliviar a pressão sem realmente mudar nada”, disse uma das fontes.
Essa abertura para um possível acordo representa uma mudança em relação ao último mês, marcado por aumentos mútuos de tarifas e declarações duras, que levaram os mercados globais a algumas das piores semanas em anos.
Tarifas como pressão
Segundo o Wall Street Journal, o governo americano pretendia usar as negociações tarifárias como forma de pressionar outros parceiros comerciais a limitar seus laços com a China. Ainda assim, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que há espaço para uma nova rodada de negociações, que precisaria envolver diretamente Trump e o presidente chinês Xi Jinping — embora os dois não conversem desde que Trump retornou à Casa Branca.
Com o aumento das tensões, Trump indicou recentemente que gostaria de receber um telefonema de Xi. Autoridades americanas também sugeriram que o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, entrasse em contato com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Até o momento, Pequim não respondeu.
Encontro com FMI e Banco Mundial
Uma delegação de altos funcionários chineses, incluindo o ministro das Finanças, Lan Fo’an, e o presidente do Banco Central da China, Pan Gongsheng, está em Washington nesta semana para os encontros de primavera do FMI e do Banco Mundial.
Até agora, eles não agendaram reuniões com o governo americano e devem deixar a capital na quinta-feira, segundo fontes. No entanto, isso pode mudar caso algum encontro com autoridades da administração seja confirmado.
Traduzido do inglês por InvestNews
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