As cargas, destinadas ao embarque ainda neste ano e no início de 2026, somam cerca de 250 mil toneladas, segundo pessoas com conhecimento do assunto, que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar com a imprensa. A soja será embarcada pela região do Noroeste do Pacífico e pelo Golfo dos EUA.
A secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, afirmou em uma publicação nas redes sociais na quinta-feira (30) que a nação asiática concordou em comprar pelo menos 12 milhões de toneladas neste ano e que as vendas devem subir para 25 milhões de toneladas anuais nos próximos três anos.
Os futuros de soja em Chicago encerraram a sexta-feira (31) no nível mais alto em quase 16 meses, acumulando alta mensal de 11%.
O Brasil como alternativa
Apesar da boa notícia após a guerra tarifária imposta pelo presidente Donald Trump, o nível de comprometimento da China com as compras de soja ressalta as limitações da dependência americana como parceiro comercial.
Analistas observaram que os números apenas devolvem o comércio aos patamares anteriores. Desde a primeira guerra comercial de Trump, a China reduziu drasticamente sua dependência das safras dos EUA, recorrendo principalmente ao principal produtor mundial, o Brasil, para atender sua demanda.
As indústrias processadoras de soja e operadores do setor esperam que a China reduza uma tarifa adicional de 10% sobre a soja americana, implementada no início deste ano como parte das medidas de retaliação contra Washington, embora Pequim ainda não tenha confirmado isso oficialmente. Mesmo com esse corte, porém, os embarques dos EUA ainda enfrentariam tarifas de 13%, o que os torna pouco competitivos em relação ao Brasil.
Otimismo e cautela
O acordo deve trazer alívio para os produtores rurais americanos, que enfrentam dificuldades devido à inflação e aos altos custos de insumos, mesmo enquanto a China vinha evitando a soja dos EUA em favor da sul-americana. O comércio entre EUA e China somou mais de US$ 12 bilhões no ano passado.
“Nossos agricultores estão muito felizes. Sugiro que saiam e comprem tratores maiores e mais terras”, disse Trump a repórteres na sexta-feira. “Ninguém jamais viu algo assim.”
A China havia reservado seus primeiros carregamentos de soja dos EUA no início da semana, poucos dias antes da cúpula entre Trump e Xi, encerrando uma pausa de meses que vinha prejudicando os agricultores americanos. Agora, os operadores de mercado observam a possibilidade de novas compras chinesas, embora alguns questionem se os termos do acordo serão realmente cumpridos.
“Há um senso cauteloso de otimismo de que houve uma redução nas tensões entre China e Estados Unidos e também a percepção de que os dois países ainda estão longe de resolver todas as suas diferenças, o que nos deixa vulneráveis a uma nova escalada que poderia desfazer esses acordos a qualquer momento”, escreveu Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX, em nota.
As compras recentes da China provavelmente foram feitas por estatais, incluindo o Cofco Group, segundo fontes. Mais aquisições são esperadas, mas ainda há pouco incentivo para que as processadoras privadas recorram à soja americana, já que a operação continua não lucrativa, mesmo com algumas tarifas reduzidas.
O Cofco Group não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Os contratos futuros da soja encerraram ontem com alta de 0,7%, a US$ 11,1525 por bushel, após recuarem até 0,6% no início da sessão.