O consumo das famílias hispânicas mal avançou nos 12 meses até junho, segundo a empresa de pesquisa Numerator. Enquanto isso, os gastos de famílias brancas e negras continuaram em alta, embora em ritmo mais lento que em 2024.
Os hispânicos — que representam quase 20% da população dos EUA — foram um motor fundamental do consumo durante a recuperação da pandemia. Mas o grupo começa a reduzir seu nível de compras após anos de aumentos de preços e em meio a um mercado de trabalho em desaceleração.
De redes de restaurantes como o Jack in the Box a varejistas de desconto como a Ross, um número crescente de empresas que dependem desse público para uma parcela significativa dos negócios tem notado a retração.
“As famílias hispânicas estão enfrentando ventos contrários financeiros desproporcionais”, disse Shawn Paustian, analista da Numerator. “Esses consumidores não conseguem mais absorver os custos crescentes — muitos estão compensando ao migrar para marcas mais baratas ou comprar embalagens menores para gerenciar o orçamento.”
Política de imigração
A repressão do presidente Donald Trump contra imigrantes também teve efeito inibidor, mesmo entre a maioria dos hispânicos que são cidadãos ou têm status legal.
“Estamos fazendo menos festas, nos reunindo menos, usando mais serviços de delivery e, portanto, consumindo menos”, disse Ana Valdez, presidente da Latino Donor Collaborative, organização sem fins lucrativos que fornece dados e pesquisas sobre essa comunidade. “Os latinos estão sentindo isso e está impactando nosso consumo mesmo quando estamos completamente, legitimamente aqui.”
A Constellation Brands, fabricante das cervejas Corona e Modelo, disse nesta semana que os hispânicos — responsáveis por cerca de metade de seus clientes — estão comprando menos cerveja premium. “O comportamento de compra mudou”, afirmou o CEO Bill Newlands em uma conferência.
Impacto nos negócios
O GEN Restaurant Group, uma rede de churrasco coreano, relatou sentir o impacto da aplicação da lei de imigração em áreas como Califórnia, Texas e Nevada, onde muitos clientes e trabalhadores são hispânicos.
As lojas Ross com maior concentração desse público tiveram desempenho pior que em outros mercados, segundo a varejista. O Jack in the Box, que também opera a rede mexicana Del Taco, destacou retração semelhante em teleconferência de resultados.
Angel Leston, dono de dois restaurantes em Newark, Nova Jersey, disse que a demanda caiu este ano, em parte pela incerteza econômica mais ampla, mas principalmente por causa do “medo pairando no ar” em meio às batidas de imigração.
“Sempre costumávamos ter multidões de pessoas caminhando pelas ruas a qualquer hora do dia. Agora, em um dia normal, está quase vazio”, contou Leston, 38 anos, que administra o restaurante espanhol Casa d’Paco.
Peso da inflação
A retração dos consumidores hispânicos espelha a das famílias de baixa renda, mais expostas ao peso da inflação. Quatro em cada cinco hispânicos afirmam que o aumento dos preços está dificultando o pagamento por bens e serviços não essenciais — acima da média nacional, segundo a Numerator.
“A economia está terrível, especialmente a comida”, disse Antonia Rivera, 58 anos, caixa de cafeteria que vive no bairro de Brickell, em Miami. Rivera, natural da Nicarágua, contou que passou a frequentar supermercados mais baratos em um bairro próximo, já que carnes, queijos e outros produtos dispararam de preço.
Embora os trabalhadores hispânicos tenham os menores salários entre os principais grupos demográficos dos EUA, o tamanho absoluto da comunidade significa que seus hábitos de consumo têm impacto direto na economia americana.
O Census Bureau estima que a população hispânica ou latina ultrapassará 66,5 milhões de pessoas neste ano e representará um em cada quatro residentes dos EUA até 2050. Esse crescimento desproporcional ajudou os gastos dos consumidores latinos a avançarem 4,9% ao ano nos cinco anos até 2023 — mais que o dobro do ritmo entre não latinos, segundo relatório da Latino Donor Collaborative em parceria com o Wells Fargo.
“Se o país pega um resfriado, nós também pegamos — e pneumonia também”, disse Patty Juarez, vice-presidente executiva do Wells Fargo, que lidera a estratégia hispânica e latina do banco. “Não somos imunes a nada que acontece. Somos parte deste país, mas acho que nossa contribuição desproporcional realmente faz as pessoas prestarem atenção.”