Com o mundo no meio do furacão da guerra tarifária, é muito difícil fazer qualquer previsão – seja dos efeitos concretos desse embate, seja de qual pode ser o seu desfecho.
Segundo o vice-presidente do Bradesco, Bruno Boetger, responsável pelo Banco de Atacado da instituição, o conflito entre Estados Unidos e China – que respinga em outros países do mundo – “escalou” muito mais rápido do que se imaginava. E isso aumenta ainda mais o grau de incerteza para o mercado e para as empresas. “A gente está tentando digerir o que está acontecendo, mas a gente não sabe onde isso vai acabar”, define.
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Mesmo com a falta de visibilidade, há algumas pistas do que vem pela frente. Veja quais são:
- O aumento das tarifas vai aumentar os custos de produção de vários produtos. E isso vai ser ruim para o crescimento econômico. Esse efeito já está sendo sentido pelas bolsas de valores, que acumulam quedas expressivas esta semana – o S&P tem queda de 8,6% em cinco dias, o Índice SSE Composite, de Xangai, perde quase 5%, e o Ibovespa recua 5,5%.
- Mesmo com toda essa queda das ações pelo mundo, a bolsa brasileira continua mostrando um desempenho muito pior em termos de valor de mercado do que a americana. Um jeito de medir isso é olhando para a relação preço x lucro. Enquanto as ações do S&P estão sendo negociadas a uma relação preço x lucro projetado de 20 vezes, acima da média histórica, o indicador das ações do Ibovespa está em 7 vezes, abaixo da média histórica. A diferença entre as duas bolsas é de mais de três vezes, a maior já observada.
- Embora a diferença entre as duas bolsas seja grande, é cedo para dizer que esses preços mais baixos vão atrair o investidor estrangeiro no curto prazo. Isso porque nos momentos de excessiva incerteza, os ativos mais seguros acabam sendo o destino do capital externo.
- Outro efeito da alta das tarifas será a inflação. Mas, mesmo com esse risco no cenário, o mais provável é que o esfriamento da atividade global abra caminho para um corte de juros, a começar pelo americano. No Brasil, o mais provável é que a Selic suba mais 0,25 ponto para 14,5%. Mas volte a cair ao longo do segundo semestre.
- Juros mais baixos no Brasil podem ser um estímulo importante para que os investidores voltem a alocar recursos em bolsa, aproveitando algumas das boas oportunidades que se encontram no mercado. Mas é muito cedo para pensar em novas empresas na bolsa. Para o Bradesco, há espaço para ofertas de ações ao longo do segundo semestre entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, mas apenas por empresas já listadas (follow-on).