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Economia

‘Demissões voluntárias’ dos EUA podem chegar ao Brasil, dizem especialistas

Mas, enquanto nos EUA há alta oferta de vagas e salários crescendo, no Brasil os motivos são outros.

Placa sinaliza feira de trabalho em Nova York 03/09/2021 REUTERS/Andrew Kelly

O mercado de trabalho nos Estados Unidos vive um momento peculiar nos últimos meses: com muitas vagas disponíveis, os trabalhadores podem escolher. Com o mercado aquecido, eles se demitem voluntariamente em busca de posições melhores (o que tem feito os salários subirem continuamente por lá). No Brasil, não há alta de salários e nem uma larga oferta de vagas. Mas, ainda assim, especialistas apontam que é possível que uma onda de demissões voluntárias também aconteça por aqui. 

Em 2021, 47 milhões de norte-americanos pediram demissão, segundo dados do US Bureau of Labor Statistics, que acompanha o mercado de trabalho nos Estados Unidos. Isso significa que praticamente um em cada três trabalhadores deixou o emprego. 

O número representa um verdadeiro salto em relação ao começo da pandemia. Em abril de 2020, foram 2,1 milhões, menos do que a metade dos 4,4 milhões somente em março de 2022.  

Pedidos de demissão nos Estados Unidos. (Elaboração: Samy Dana)

Especialistas apontam que entre os principais motivos para essa “demissão em massa”, que vem sendo nomeada também como a “grande renúncia” dos trabalhadores dos Estados Unidos, está o auxílio pesado pago pelo governo americano aos trabalhadores desde o começo da pandemia, aliado às medidas de estímulo à economia. 

Somente em novembro do ano passado, por exemplo, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um pacote de investimentos em infraestrutura de US$ 1,2 trilhão. 

Neste cenário, as vagas de emprego em aberto nos EUA permanecem perto de recordes, enquanto a taxa de desemprego segue perto de 3,6% – mínima em dois anos, e bem próxima ao patamar pré-pandemia.

Em estudo recente sobre os gastos das famílias nos EUA, pesquisadores do Bank of America apontaram a alta no consumo inclusive entre as pessoas de classe mais baixa, em um movimento também creditado ao mercado de trabalho aquecido. Há quase duas vagas abertas para cada desempregado no país, e os salários por hora estão subindo à taxa mais rápida em anos, a ritmo anual de 5,6%.

Nesse cenário, há uma percepção generalizada entre os trabalhadores de que, mesmo deixando o emprego sem outro em vista, dá para conseguir outro melhor. De fato, a briga por empregados lá tem sido tão acirrada que há empresas que chegam a pagar prêmio de US$ 10 mil para quem aceitar o emprego. 

Isso pode acontecer no Brasil?

Mulher coloca currículo em caixa no centro de São Paulo
Mulher coloca currículo em caixa no centro de São Paulo 06/10/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

Um estudo da Blue Management Institute, consultoria do mercado de trabalho, chamou a atenção para a possibilidade de uma “onda de demissões voluntárias” também no Brasil – embora por motivos diferentes do cenário dos Estados Unidos

A pesquisa ouviu 48 gestores de recursos humanos de empresas com receita anual acima de R$ 1 bilhão. 52% dos diretores de RH de grandes empresas afirmam que aumentaram os pedidos de demissão de forma análoga ao que aconteceu nos EUA e na Europa. 

Especialistas brasileiros em emprego veem alguns motivos principais que podem estar puxando uma tendência de demissões voluntárias no país. Um deles é a própria melhora no mercado de trabalho, ainda que num ritmo mais lento.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), a taxa de desemprego ficou em 11,1% no trimestre de janeiro a março de 2022, o que representa estabilidade em relação ao trimestre anterior, mas uma melhora na comparação com os 14,9% do mesmo período de 2021. Atualmente, falta trabalho para quase 12 milhões de brasileiros – número que passava de 15 milhões no ano passado.

No começo da pandemia, com medo do desemprego, muitos trabalhadores aceitaram trabalhos abaixo da própria experiência e qualificação. Com o mercado melhorando, essas pessoas conseguem uma posição mais condizente.  

Os salários, no entanto, não estão subindo de maneira generalizada como nos Estados Unidos. Ainda de acordo com o IBGE, em março o rendimento real habitual do trabalhador foi de R$ 2.548, uma queda de 8,7% em relação a igual trimestre de 2021. 

Outra diferença em relação ao fenômeno que ocorre nos Estados Unidos é a abrangência desse possível fenômeno. No mercado norte-americano, a onda de demissões atinge tanto trabalhadores qualificados como não qualificados. O mesmo não ocorre por aqui. Segundo especialistas, a tendência sugere que entre os trabalhadores qualificados (sobretudo do setor de tecnologia) é de que pode faltar mão de obra.

* Com informações da Reuters

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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