Os EUA sempre foram considerados um país que oferece risco zero de calote. Os títulos públicos deles seriam o porto mais seguro possível para o seu dinheiro.

Não dá mais para afirmar isso, ao menos não com todas as letras. Quem disse foi a Moody’s, uma das três grandes agências de classificação de risco, ao lado da Fitch e da S&P. Nesta sexta (16), ela rebaixou os EUA: da classificação máxima no ranking deles, Aaa, para a segunda posição, Aa1.

Demorou, na verdade. Suas duas pares já tinham feito a mesma coisa. A Fitch, em 2023; a S&P, no já longínquo 2011. 

Lá em 2011, a S&P decidiu tirar a nota máxima dos EUA porque a dívida pública americana tinha chegado a 95% do PIB – a maior desde 1947. Desde o pós-pandemia, ela está num patamar bem mais alto, acima de 120%. Foi aí que a Fitch e, agora, a Moody’s, passaram também a entender que havia algo de podre no reino da dívida americana. 

Em termos nominais, os valores da dívida realmente assustam. Aqui:   

2021: US$ 28,43 trilhões

2022: US$ 30,93 trilhões

2023: US$ 33,17 trilhões

2024: US$ 35,46 trilhões 

Em suma: um salto de 25% em quatro anos.

Vale lembrar que um calote propriamente dito nos títulos é uma hipótese absurda. Isso criaria um colapso na economia global. As reservas internacionais do Brasil, por exemplo, estão praticamente todas em títulos públicos dos EUA. O caixa das grandes empresas também.

A possibilidade realista é: caso a demanda por títulos americanos diminua e o governo fique sem gás para rolar a dívida, ligam-se as impressoras de dinheiro para pagar (em termos menos lúdicos, “emite-se moeda”).

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O problema é que isso equivale a calote. A chegada do dinheiro novo criaria uma inflação fora do controle. Ou seja, tiraria valor dos dólares que estão em circulação agora. A nota de US$ 100 que sobrou da sua última viagem perderia poder de compra de forma acelerada.

Essa possibilidade, a de criar inflação para rolar a dívida, também é extremamente remota. Mas, dizem as três grandes agências de classificação de risco, maior do que zero. 

No momento, só nove países têm nota máxima, triple A, das três grandes agências: Alemanha, Holanda, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, Canadá, Austrália e Singapura.

Só para constar: a nota do Brasil, pela Moody’s, é Ba1 – sete posições abaixo da classificação atual dos EUA. Nas outras duas agências, as notas são equivalentes. Estamos na zona chamada “grau especulativo”, abaixo da ideal, a do “grau de investimento”. Segunda divisão.