Os Estados Unidos devem impor uma tarifa de 104% sobre a China nesta quarta-feira (9). A informação é de uma autoridade da Casa Branca, publicada pela Reuters, depois que Pequim não suspendeu suas tarifas retaliatórias sobre os produtos norte-americanos até esta terça-feira, conforme havia sido estabelecido pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Por outro lado, o The Wall Street Journal noticiou que há a possibilidade de o governo Trump reduzir as tarifas no futuro. “O presidente pode considerar reduzir as taxas, caso outros países cheguem a um acordo sobre comércio recíproco”, disse o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, durante uma audiência no Comitê de Finanças do Senado nesta terça-feira.
Greer também detalhou as negociações com o Japão para reduzir tarifas e outras barreiras de mercado.
Os EUA buscarão mais acesso ao mercado, segundo Greer, incluindo produtos agrícolas e a eliminação de “obstáculos estruturais” para bens industriais dos EUA, como regulamentações e padrões.
Além disso, os EUA também pretendem alinhar controles de exportação e obter compromissos para a compra de produtos energéticos americanos, como gás natural liquefeito.
Mercados globais estáveis
Ainda segundo a Reuters, os mercados globais se estabilizaram depois de dias de liquidação. As quedas foram provocadas pelas taxas de Trump, que aumentaram os temores de recessão e derrubaram uma ordem de comércio global que está em vigor há décadas. Os índices acionários dos EUA abriram em alta após uma venda contundente que eliminou trilhões de dólares desde a semana passada.
Trump já implementou uma tarifa de 10% sobre quase todas as importações para o maior mercado consumidor do mundo. E ainda implementou tarifas específicas de até 50% sobre muitos parceiros comerciais, o que deve entrar em vigor nesta quarta-feira (9).
A China se recusou a ceder ao que chamou de “chantagem” e prometeu “lutar até o fim” depois que Trump ameaçou aumentar as tarifas para 104% em resposta à decisão da China de igualar as tarifas “recíprocas” anunciadas por Trump na semana passada.
Trump indicou que uma solução pode ser possível.
“A China também quer um acordo, mas não sabe como começar. Estamos aguardando a ligação deles. Isso vai acontecer”, informou ele nas redes sociais.
Dezenas de países estão oferecendo concessões para evitar as tarifas. O governo de Trump diz que já iniciou conversações com vários deles até o momento, incluindo Japão e Coreia do Sul.
China se prepara para guerra de atrito
A China está se preparando para uma guerra de atrito, e produtores estão fazendo alertar sobre lucros e procurando planejar novas fábricas no exterior. Citando o aumento dos riscos externos, o Citi reduziu sua previsão de crescimento do PIB da China em 2025 de 4,7% para 4,2%.
Algumas empresas estão alertando que aumentarão os preços.
A fabricante de chips Micron disse a clientes que adotará uma sobretaxa relacionada às tarifas a partir de quarta-feira, enquanto os varejistas de roupas dos EUA disseram que estão atrasando os pedidos e adiando as contratações.
Os tênis de corrida fabricados no Vietnã, que hoje são vendidos no varejo por US$ 155, custarão US$ 220 quando a tarifa de 46% imposta por Trump a esse país entrar em vigor, de acordo com um grupo do setor.
Os consumidores estão estocando enquanto podem. “Estou comprando o dobro de qualquer coisa – feijão, enlatados, farinha, o que for”, disse Thomas Jennings, 53 anos, enquanto empurrava um carrinho de compras pelos corredores de um Walmart de Nova Jersey.
Enquanto as duas maiores economias do mundo trocam farpas, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou de “ignorantes e rudes” os comentários feitos pelo vice-presidente JD Vance em uma recente entrevista à Fox News.
Ao defender as tarifas de Trump, Vance criticou o modelo econômico dos EUA por prejudicar seus próprios trabalhadores: “Pedimos dinheiro emprestado aos camponeses chineses para comprar as coisas que esses camponeses chineses fabricam.”
O Vietnã solicitou um adiamento de 45 dias, enquanto a Indonésia anunciou concessões para as importações dos EUA, incluindo a redução de impostos sobre produtos eletrônicos e aço.
Os mercados de ações encontraram uma base mais firme na terça-feira, depois de alguns dias angustiantes para os investidores, o que levou alguns líderes empresariais, incluindo aqueles próximos a Trump, a pedir ao presidente que reverta o curso.
As ações europeias saíram de mínimas de 14 meses após quatro sessões consecutivas de fortes vendas, enquanto os preços globais do petróleo se estabilizavam depois de caírem para os menores níveis em quatro anos.
Contratarifas na Europa
A Comissão Europeia, por sua vez, está pensando em contratarifas de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja, nozes e salsichas, embora outros itens em potencial, como o uísque bourbon, tenham sido deixados de fora da lista, segundo um documento visto pela Reuters. As autoridades disseram que estão prontas para negociar.
O bloco de 27 membros está lutando com tarifas sobre automóveis e metais já em vigor, e enfrenta uma tarifa de 20% sobre outros produtos na quarta-feira. Trump também ameaçou impor tarifas sobre as bebidas alcoólicas da UE.