Economia
Fed eleva taxa de juros nos EUA em 0,25 ponto percentual
A decisão veio em linha com o esperado pelo mercado, apesar de crise bancária.
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (22) que decidiu elevar a taxa de juros norte-americana em 0,25 ponto percentual. A decisão veio em linha com o esperado pela maior parte do mercado.
Com a decisão, a taxa passa a um intervalo de 4,75% a 5%. O aumento vem em um cenário de inflação ainda longe da meta (6% em 12 meses até fevereiro, contra o propósito de 2%), embora as recentes crises de liquidez entre alguns bancos do país tenham levantado a discussão sobre uma possível pausa no ciclo de alta de juros.
No comunicado, o Federal Open Market Committee (FOMC) destacou que o mercado de trabalho continua dando sinais de força, enquanto “a inflação continua elevada”. “O Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo”, reforçou.
Sobre a crise bancária, o texto afirma que “o sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente”. “Acontecimentos recentes devem resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas e pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos é incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação”, disse o Fed.
Depois da divulgação da decisão, o chefe do Fed, Jerome Powell, disse que as autoridades do banco central norte-americano consideraram não aumentar os juros nesta reunião por causa das incertezas surgidas do colapso do Silicon Valley Bank (SVB). A declaração foi feita em coletiva de imprensa.
Comunicado: próximos passos
O Fed indicou que o ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos pode continuar. “O Comitê antecipa que algum endurecimento adicional da política pode ser apropriado para atingir uma postura de política monetária que seja suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2% ao longo do tempo”, disse no comunicado.
O Comitê diz que “levará em conta o aperto cumulativo da política monetária, as defasagens com que a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos econômico-financeiros”.
Mas, apesar do reforço da mensagem de rigidez contra a inflação, o Fed apontou que pode “ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas”.
O Fed informou que, para isso, continuará monitorando dados como “condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação”.
Repercussão
Boa parte do mercado considerou o comunicado do Fed mais “dovish” que o esperado – ou seja, mais propenso a interromper o ciclo de alta dos juros -, mesmo deixando em aberto um novo aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião.
“Esse tom dovish podemos observar pela fala em relação às condições de crédito nos EUA. Mesmo citando que o sistema bancário lá está ‘à salvo e resiliente’, o FOMC informou que as condições de crédito nos EUA devem ficar mais restritivas para famílias e empresas, e isso deve impactar na atividade econômica”, comenta André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
Marcelo Oliveira, co-fundador da Quantzed, diz que o Fed “falou muito do mesmo sobre controlar inflação, que o mercado de trabalho continua quente”, “mas deu uma mensagem que o mercado aparentemente gostou, dizendo que estão olhando a situação dos bancos, e que isso pode afetar a política daqui pra frente”.
“De certa maneira, o mercado acha que isso pode fazer o Fed não subir mais as taxas“, resume Oliveira.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que “o comunicado oficial foi bem ponderado, mas poderíamos afirmar que foi marginalmente dovish”. Ele também destacou o trecho sobre a crise de alguns bancos americanos e globais, “abrindo espaço para incertezas, mas já verbalizando que a crise resultará na restrição de crédito e pesará sobre atividade e inflação”.
Também comentando esse trecho, Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, diz que “no comunicado eles não detalharam a situação do sistema bancário, apenas qualificaram como ‘sólido e resiliente’, tentando não dar insumos para que haja uma efervescência do mercado com essa situação. Então, estão tentando amenizar a preocupação dos investidores“.
De maneira geral, especialistas viram no comunicado sinais de que o ciclo de aumento dos juros está perto do fim, embora não se espere corte das taxas ainda em 2023.
“Tudo indica que já está no final desse ciclo de alta. Provavelmente mais uma alta de 0,25 na próxima reunião e aí os juros devem permanecer altos, em torno de 5%, pelo tempo necessário para trazer a inflação para a meta. Novos cortes, aparentemente, neste ano não estão previstos”, diz Bruno Mori, economista e sócio fundador da consultora Sarfin.
Abdelmalack, da Veedha, aponta que “é necessário acompanhar mais dados porque, eventualmente, se houver novos sinais de pressão inflacionária ou o mercado de trabalho ficar muito resiliente, o mercado pode voltar a precificar uma taxa de juros ao final do ciclo mais próxima de 6 do que de 5%”.
“Não parece o cenário mais provável neste momento, mas é necessário acompanhar os dados”, diz Abdelmalack.
Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move, aponta que “se espera apenas mais um aumento de juros” nos Estados Unidos. Com isso, o mercado tem uma previsibilidade, mas “se o cenário macro não piorar e se os bancos não quebrarem“.
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