O corte de 0,25 ponto percentual nos juros americanos, para 4,25%, já estava precificado. A novidade veio na previsão do Fed para o futuro próximo.

Essas projeções fazem parte de um documento chamado “dot plot“, que sai a cada três meses. A última vez foi em junho. Cada um dos membros do Fomc (o Copom dos EUA) dá sua previsão para como estarão os juros no fim deste ano – e dos próximos.

No dot plot de junho, a mediana para o final de 2025 deu 3,9%. Como os cortes são feitos geralmente em múltiplos de 0,25 pp, isso sinalizaria 4% ao fim do ano. Se tivessem mantido esse número, com o corte de 0,25 pp agora, significaria a previsão de apenas mais um corte de 0,25 pp.

Agora, no dot plot de setembro, a mediana deu 3,6%. Como o juro-alvo do Fed, nos últimos anos, não é um número cravado, mas um intervalo, isso significaria reduzir a banda atual (de 4% a 4,25%) para uma entre 3,5% e 3,75%.

Um corte adicional de 0,50 pp, portanto. Bem maior que o 0,25 pp de antes

Por conta disso, logo que veio o anúncio, as bolsas subiram e os juros futuros caíram. Nos EUA, esse movimento perdeu força. No Brasil, se mantém. O juro real do IPCA+2040, por exemplo, caiu para 7,02%, vindo de 7,09%. O Ibovespa sobe 1%.

Dólar

“Dot Plot” significa “gráficos de pontos”, em alusão à forma como esse relatório do Fomc apresenta as previsões sobre o rumo das taxas. Esse conjunto de estimativas tem, claro, um nome oficial formal: Sumário de Projeções Econômicas.

Se para 2025 a previsão basicamente caiu de um juro final em 4% para um em 3,5%, para 2026 não há uma mudança tão óbvia. A média caiu de 3,6% para 3,4%. Na prática, continua em 3,5% – ainda que mais perto desse alvo do que antes.

Quanto mais caem os juros lá fora, maior a tendência de queda para o dólar. Como para 2026 ficou tudo mais ou menos na mesma, isso talvez ajude a explicar porque o dólar caiu a R$ 5,27 logo que vieram as novas previsões, mas logo depois, com os dados mais digeridos, voltou aos R$ 5,30, em leve alta de 0,06%.

Para 2027, a média das previsões aponta para 3,1%. Significaria, na prática, o fim do aperto monetário. O Fed considera que o juro ideal para o longo prazo é de 3%, com a inflação em 2%. A partir da taxa de juro atual, isso significaria um corte de mais 1,25 pp nos próximos dois anos.

Não que seja possível escrever qualquer coisa na pedra. Jerome Powell sai da presidência do Fed em 2026. Isso torna tudo mais imprevisível.

Bola de cristal

O Dot Plot apresenta as projeções feitas pelos 19 integrantes do Fomc. O colegiado é composto pelos 7 integrantes do Conselho de Governadores e pelos 12 presidentes regionais do BC americano, dos quais apenas 5 têm direito a voto nas decisões.

O relatório representa, de várias maneiras, o cenário-base dos dirigentes — caso tudo se desenrole conforme o esperado. A questão é que esse “conforme o esperado” variou muito nos últimos anos.

Um exemplo: no Dot Plot divulgado em junho de 2024, nenhum integrante projetou que o BC dos EUA iria reduzir os juros em um ponto percentual até o fim daquele ano. A mediana previa apenas um corte de 0,25 ponto.

Quanto mais longe é a projeção mais difícil também se torna que os cenários ocorram exatamente como o previsto. Em dezembro de 2019, o Fed passou longe de estimar uma taxa de juros perto de zero para 2020. E daí veio a pandemia.

E, no fim de 2020, quando a economia americana ainda se debatia na recessão induzida pela pandemia, a maioria dos integrantes viu as taxas próximas de zero até o fim de 2023. Mas daí veio a inflação.

Além dos juros, o Dot Plot traz previsões para vários outros indicadores, como inflação, desemprego e crescimento do PIB. O Fed usa o índice de despesas de consumo pessoal (PCE) calculado pelo Departamento de Comércio para determinar o quanto os preços estão acima da sua meta de 2% de inflação.

Fed vê inflação convergindo para a meta

O relatório mostra que os integrantes veem seu indicador preferido subindo para a taxa 3% no fim quarto trimestre de 2025. A nova projeção manteve a previsão do documento anterior. Excluindo alimentos e energia, que são categorias mais voláteis, só a variação de preços dos setores “básicos” podem chegar a 3,1% no mesmo período, também em linha com a projeção feita no trimestre anterior.

No médio prazo, porém, o consenso no Fed é o de que a inflação começa a convergir para a meta. Os integrantes do Fomc veem o PCE chegar ao patamar dos 2% em 2027, mais precisamente em 2,1%. Daí para a frente, o índice se manteria em 2% no longo prazo.

Enquanto isso, a taxa de desemprego deve subir para 4,5% em 2025, ainda maior que o nível atual de 4,3%. O Fed revisou ligeiramente para cima as perspectivas do mercado de trabalho. Para 2026 e 2027, o Fomc revisou as previsões para 4,4% e 4,3%, cerca de 0,1 ponto abaixo do estimado em junho em ambos os casos.

Essas projeções ajudam a explicar por que os dirigentes do Fed ainda esperam reduzir os custos de empréstimo, mesmo com a inflação dando sinais de poder subir ainda mais. É que o mercado de trabalho americano vem dando mostras de desaceleração.

O foco agora está no mercado de trabalho

O Fed tem um mandato duplo: controlar a inflação e manter saudável o nível de emprego na economia. A inflação nos EUA, de seu lado, tem se mantido comportada.

Apesar de estar acima da meta do Fed, de 2% ao ano, o patamar do PCE está dentro da faixa do regime de metas do BC americano, que prevê a possibilidade de a inflação ultrapassar a meta desde que haja “convergência das expectativas” no longo prazo. Em outras palavras: a inflação não precisa estar na meta para o juro começar a cair. Basta que ela esteja claramente em direção à meta.

O presidente do Fed Jerome Powell declarou anterioremente que o crescimento mais fraco foi visto como um “contrapeso” para a parte da inflação, que os dirigentes acreditam que pode vir principalmente das tarifas.

Já em termos de crescimento, espera-se agora que a economia dos EUA tenha um desempenho melhor do que o colocado em junho. As novas estimativas colocam o avanço do PIB americano em 1,6% em 2025 ante 1,4% da previsão anterior. O Fed enxerga ainda expansões de 1,8% e 1,9% nos dois anos seguintes.

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