A turnê da cantora Beyoncé “Renaissance” movimentou bem mais que seus próprios fãs: mexeu até com os dados da economia de um país. É o que afirma o economista-chefe do banco dinamarquês Danske Banke, Michael Grahn, que esta semana atribuiu o aumento da inflação na Suécia aos dois shows que abriram a turnê da cantora em Estocolmo, no mês anterior. A notícia repercutiu no Brasil, mas a hipótese de o fenômeno ser parecido no país é remota, segundo economistas.
Segundo Grahn, a inflação de maio na Suécia “provavelmente” foi impactada para cima pelo evento, embora seja difícil calcular em quanto. O índice de preços oficial do país avançou 9,7% no mês passado, bem acima das expectativas.
Em um tuíte, Grahn diz acreditar que, “provavelmente”, pelo menos dois terços (0,2 ponto percentual da alta de 0,3 ponto percentual) da alta nos preços vista em restaurantes e hotéis teriam sido impactados pela vinda dos fãs da cantora na capital sueca.
O economista também cita o provável impacto do preço dos ingressos, que teria elevado a inflação do entretenimento. “Esperamos que esse pico inesperado seja revertido em junho, quando os preços dos hotéis e dos ingressos devem voltar ao normal”, concluiu na postagem.
Um índice de preços que exclui custos de energia e o efeito de mudanças na taxas de juros mostrou um aumento 8,2% na inflação em relação ao ano anterior, de acordo com a Statistics Sweden na quarta-feira (14). O resultado ficou acima da estimativa mediana de 7,8% em uma pesquisa da Bloomberg, assim como os 8,1% esperados pelo Riksbank.
A economista e professora da FGV Carla Beni observa que inflação é um aumento constante e consecutivo de preços por pelo menos um trimestre, enquanto que o caso a Beyoncé, se foi um aumento pontual, depois deve voltar ao normal.
“Se isso foi uma ‘desculpa’ para que o segmento de turismo acabe aumentando seu patamar de preços, ela [inflação] poderia ser um gatilho, mas é uma possibilidade quase que folclórica e até muito interessante quando você pensa na ideia de que um show dela poderia provocar um processo inflacionário”.
CARLA BENI, economista e PROFESSORA DA FGV
‘Fenômeno Beyoncé’ pode se repetir no Brasil?
A notícia sobre o efeito da turnê repercutiu na imprensa brasileira e entre os fãs da diva pop no país. Por aqui, ainda não há informações oficiais sobre a vinda da cantora, mas especula-se que ela poderia fazer sua turnê na região em 2024.
Segundo o economista da FGV André Braz, o efeito visto na Suécia dificilmente se repetiria em um país como o Brasil, visto que a nação escandinava possui apenas 5% do território e da população brasileira.
“A visita de uma figura pop naquele país tem muito mais por mexer na estrutura daquele local do que o mesmo fenômeno em um país de dimensão continental”.
ANDRÉ BRAZ, ECONOMISTA DA FGV.
Outra explicação para o efeito é que Estocolmo viveu um “boom” de turismo durante a turnê. À CNN, Grahn afirmou que muitos fãs vieram de outros países para os dois shows que tiveram ingressos esgotados no país, uma vez que os preços eram relativamente mais baratos do que em outras regiões e a moeda sueca muito depreciada em relação a outras.
Já em cidades brasileiras onde acontecem grandes shows, como São Paulo e Rio de Janeiro, o fenômeno da vinda de estrangeiros é menos comum, além do fato de serem grandes cidades, já estruturadas para receber eventos de maior porte, observa Brás.
O economista da FGV diz que fenômeno semelhante no Brasil foi visto somente quando o país sediou a Copa do Mundo de 2014, quando houve um efeito claro nos preços, especialmente de hotéis e passagens aéreas.
“Os preços desses serviços subiram muito em uma época na qual não teriam tanto fôlego se não fosse a Copa aqui. O evento mobilizou o país inteiro, teve jogos em praticamente todas as regiões, isso obrigou as pessoas a viajar, atraiu torcedores interessados no evento para várias regiões ao mesmo tempo. O evento mexeu com os números de inflação pela sua magnitude e tempo de duração”, relembra Brás.
Veja também
- Mercado de arte esquenta e Nova York terá megaleilão de obras avaliadas em R$ 8,7 bilhões
- Horário de verão pode favorecer bares, mas companhias aéreas temem ‘nó logístico’
- Selena Gomez virou bilionária, e não foi por causa da música
- EUA processam Live Nation, dona da Ticketmaster, por monopólio
- Warner Bros Discovery relata prejuízo acima do esperado após greves em Hollywood