A gigante dos bens de consumo Unilever anunciou no início deste mês que sua firma de 81 funcionários na Nova Zelândia vai adotar, em forma de teste, uma semana de trabalho de quatro dias mantendo remuneração integral.
Não é a primeira vez que empresas de grande porte experimentam o modelo. A Microsoft do Japão, país conhecido por ter algumas das mais longas jornadas de trabalho do mundo, adotou folgas às sextas-feiras por todo mês de agosto de 2019. O resultado, segundo a empresa, foi um aumento de 40% na produtividade, com 92% dos funcionários aprovando a medida.
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Mas é na Nova Zelândia que a ideia tem sido impulsionada com maior expressividade. Até a primeira-ministra, Jacinda Ardern, declarou que a flexibilização da semana de trabalho seria ideal para incentivar a economia e o turismo do país enquanto as fronteiras permaneciam fechadas por causa da pandemia.
Antes da Unilever, a Perpetual Guardian, dedicada ao aconselhamento para planejamento de riqueza familiar e investimentos financeiros, uma das maiores da Nova Zelândia, foi a pioneira em adotar a semana de quatro dias.
Uma ideia antiga
A jornada de trabalho nem sempre foi como a conhecemos hoje. As lutas sociais para estabelecer um limite de oito horas diárias de trabalho, por exemplo, começaram apenas no século XIX, na esteira da Revolução Industrial, e a sua implementação, só no início do século XX.
Porém, apesar do persistente e óbvio interesse dos trabalhadores em diminuir a carga de trabalho e, ao mesmo tempo, garantir igual ou maior salário, isso não é o que move a organização responsável por pensar a semana de quatro dias na Nova Zelândia.
“Diferentemente dos movimentos que pensam isso como uma pauta exclusivamente social, nosso foco é a produtividade. Como manter o mesmo nível de produção com um menor tempo de trabalho”, explica Andrew Barnes, um dos fundadores da Perpetual Guardian e membro da “Semana de 4 Dias”.
Sua argumentação se sustenta em exemplos que apenas focaram na questão social do trabalho. Em 1998, a França introduziu um limite semanal de 35 horas de trabalho, o que gerou um breve impacto, seguido de diversos problemas com trocas de turnos de trabalho e exploração de brechas na legislação.
Ele afirma ter encontrado resistência entre os outros membros do conselho administrativo, mas no fim o resultado os levou a concordar. “Nós tínhamos diminuído ou encurtado as reuniões, às vezes usando teleconferência. As faltas médicas foram praticamente zeradas.”
“Todas as empresas que conversamos relataram um aumento de produtividade”, conta Charlotte Lockhart, diretora executiva da organização.
Os benefícios também escapam do interior das empresas. Lockhart conta que o tempo livre dos funcionários é geralmente gasto com sua família ou comunidade, levando bem-estar e aumento do consumo no comércio local.
Barnes inclusive mostra alguns efeitos indiretos desta prática, como a diminuição das emissões de carbono no meio ambiente, já que um grande número de pessoas não precisa fazer o deslocamento entre sua casa e o trabalho.
O que falta para virar realidade?
Os membros da organização estão confiantes de que podem mudar a mentalidade dos executivos para embarcar na ideia. Além de site próprio, escreveram até um livro intitulado “The Four Day Week” (A Semana de Quatro Dias), que confessaram estar sendo traduzido em português.
Perguntados sobre o porquê da Microsoft não ampliar o programa, já que os resultados são tão impressionantes, eles mostraram alguns entraves. “A Microsoft depende de vários trabalhadores com contratos variados, intermitentes por exemplo, o que pressupõe alguns ajustes para dar escala ao programa”, explica Lockhart.
Barnes também citou um fator importante. “Grandes corporações tentem a ficar mais quietas sobre o assunto. Imagine, são milhões de trabalhos diretos e indiretos, e eles não querem seus funcionários eufóricos com a ideia, ou incertos sobre seu pagamento.” Ele confessa que a mudança tem sido melhor aproveitada em empresas pequenas, cujo conselho é também mais flexível.