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O líder da oposição conservadora da Alemanha, Friedrich Merz, venceu a eleição federal deste domingo (23), terminando confortavelmente à frente do partido de extrema-direita AfD e dos Social-Democratas do atual chanceler, Olaf Scholz.
O bloco CDU/CSU de Merz obteve 28,8% dos votos, seguido por 20,2% para a Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo estimativas da emissora pública ARD. Os Social-Democratas (SPD) ficaram em terceiro lugar, com 16,2% – o pior resultado do partido desde a Segunda Guerra Mundial.
O voto tem um peso particular, pois a maior economia da Europa enfrenta crescimento estagnado, a guerra da Rússia na Ucrânia e a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de iniciar uma guerra comercial global que pode prejudicar o já debilitado setor industrial alemão.
“Nós vencemos esta eleição”, declarou Merz a uma multidão eufórica na sede da CDU em Berlim, enfatizando que um governo de coalizão deve ser formado o mais rápido possível. “O mundo lá fora não vai esperar por nós – e não vai esperar por longas discussões de coalizão.”
O euro abriu em leve alta no mercado asiático, subindo 0,3%, para US$ 1,0487. Com as pesquisas de boca de urna alinhadas às expectativas do mercado, a atenção dos investidores agora se volta para a rapidez com que Merz conseguirá formar um governo.
Enquanto a contagem final dos votos segue em andamento, a Europa enfrenta uma série de desafios existenciais que precisam ser abordados imediatamente. Líderes da União Europeia realizarão uma reunião emergencial na próxima semana para discutir a situação da defesa do bloco, considerando a possibilidade de os EUA removerem seu vasto apoio militar e financeiro à Ucrânia.
Washington também iniciou negociações de paz – uma perspectiva que pode remodelar a arquitetura de segurança do continente por anos – sem envolver a Europa ou Kiev.
O SPD reconheceu a derrota, e Scholz classificou o resultado como “amargo”. Falando a seus apoiadores, ele declarou: “É um mau resultado e isso também é minha responsabilidade.”
O bloco de centro-direita CDU/CSU de Merz precisará de pelo menos um parceiro de coalizão para garantir a maioria na câmara baixa do parlamento, o Bundestag. Quanto maior o número de partidos na coalizão, mais complicada se torna a formação do governo.
As opções mais prováveis para aliança de Merz são o SPD – quase certamente sem um papel no gabinete para Scholz – ou os Verdes. Dependendo da composição final do parlamento, Merz pode precisar de ambos, formando uma instável coalizão de três partidos.
Se apenas cinco partidos garantirem cadeiras no parlamento e as projeções atuais se mantiverem, o bloco liderado pela CDU e o SPD terão apoio suficiente para obter maioria na câmara baixa.
O co-líder do SPD, Lars Klingbeil, ressaltou a influência de seu partido sobre Merz ao sugerir que poderia optar por não participar da aliança – deixando a difícil tarefa de formar governo nas mãos do líder da CDU.
“Ressalto aqui que a responsabilidade pode ser assumida em um governo, mas também na oposição”, disse Klingbeil. “A tarefa de governar agora cabe a Friedrich Merz.”
A extrema-direita da AfD, que obteve sua maior fatia de votos da história, deve se tornar a principal força de oposição no parlamento.
A AfD defende que a Alemanha saia da União Europeia e de sua moeda única, além de querer expulsar centenas de milhares de imigrantes em uma repressão contra pessoas sem documentação. Três de seus diretórios estaduais, localizados no leste da antiga Alemanha comunista, são classificados como extremistas e estão sob vigilância da inteligência doméstica alemã.
Scholz encerrou sua impopular e turbulenta coalizão de três partidos com os Verdes e os Democratas Livres (FDP) em novembro, após meses de disputas sobre o endividamento do governo.
Ele demitiu o ministro das Finanças, Christian Lindner, do FDP – um defensor rígido da disciplina fiscal que insistia em manter o limite constitucional de endividamento da Alemanha –, o que levou à antecipação das eleições em sete meses. Scholz continuará governando interinamente com os Verdes até que um novo governo seja formado, o que pode levar semanas ou até meses.
A Alemanha precisa urgentemente de reformas profundas para restaurar a competitividade de seus setores industriais estratégicos. A perspectiva de um novo governo mais favorável aos negócios e cortes nas taxas de juros elevaram a confiança dos investidores ao maior nível em dois anos.
No entanto, a Alemanha continua especialmente vulnerável aos problemas econômicos da China, e seu superávit comercial com os EUA atraiu a ira de Trump. As relações transatlânticas foram abaladas pela decisão da nova administração dos EUA de iniciar negociações diretas com a Rússia sobre um acordo de paz para a Ucrânia sem envolver os aliados da Otan.
“Sei da grande responsabilidade e da dimensão do trabalho que agora enfrentamos”, afirmou Merz.
O mercado de ações da Alemanha está sendo negociado perto de recordes históricos, impulsionado pelos lucros crescentes que as empresas alemãs geram no exterior. O índice DAX tem sido beneficiado pelas expectativas de que Merz possa formar uma aliança com o SPD para seguir uma agenda mais favorável ao mercado.
Alguns investidores esperam que a Alemanha flexibilize ou reforme seu limite de endividamento líquido – o chamado “freio da dívida” – sob o novo governo. Merz sinalizou que pode estar disposto a discutir uma reforma, mas enfatizou que cortes profundos nos generosos gastos sociais da Alemanha teriam que ser implementados primeiro.
O freio da dívida está incorporado à Constituição alemã, o que significa que uma mudança exigiria uma maioria de dois terços no parlamento. Esse é um obstáculo significativo, já que provavelmente exigiria apoio da oposição.
Gritos de comemoração foram ouvidos na sede da AfD na noite da eleição, quando a emissora pública anunciou que o partido de extrema-direita está a caminho de se tornar a principal força de oposição no próximo parlamento.
O avanço da AfD – que anteriormente havia atingido um pico de 13% em 2017 – marca mais um capítulo no crescimento da extrema-direita na Europa. A candidata do partido, Alice Weidel, eufórica com o resultado, prometeu ultrapassar a CDU/CSU e vencer a próxima eleição, em entrevista à emissora estatal.
“Nós vamos caçá-los”, disse Weidel.