Economia
Guerra na Ucrânia pode mudar curva de juros; entenda
Na primeira semana de conflito, curva se moveu pouco, mas altas mais bruscas podem ocorrer.
A primeira semana de guerra na Ucrânia pouco movimentou a curva de juros no Brasil. Esse cenário, no entanto, pode mudar. Dependendo dos rumos que o conflito com a Rússia tomar, é possível que o mercado brasileiro veja movimentos mais bruscos dos juros, afetando diretamente os investimentos.
É o que explica Eduardo Perez, analista de investimentos da NuInvest. “Se o mercado se comportar como os especialistas em commodities estão prevendo, as sanções impostas sobre a Rússia podem fazer com que a oferta dessas commodities diminua, resultando em maiores preços“, afirma.
Perez cita três exemplos. “Os grãos e cerais que a Rússia exporta, indo desde o trigo que usamos para o pão até o milho que serve de alimento para criação de frangos e outros tipos de proteína animal. O terceiro exemplo é o petróleo, que já vem apresentando elevação nos preços – e, basicamente, tudo hoje em dia depende do petróleo em algum momento da cadeia produtiva, seja para o plástico de embalagens, combustíveis para fretes entre produtores e consumidores e o próprio combustível na bomba para quem usa carro.”
O analista explica que, “com esses insumos mais caros, todo cadeia produtiva até que se chegue no produto final para o consumidor brasileiro encarece também. Então, o conflito tem a possibilidade de pressionar ainda mais o IPCA, e como consequência, a inflação mais persistente do que o esperado gera uma necessidade do Copom continuar com a taxa Selic em patamares mais altos e por mais tempo”.
Curva de juros invertida: até quando?
Perez aponta que, se as condições inflacionárias atuais permanecerem como está, a curva de juros, que atualmente está invertida (ou seja, com taxas de curto prazo mais altas do que as de longo prazo), se normalizaria apenas em 2026.
No entanto, a julgar pelos sinais mais duros do Banco Central com a inflação, a expectativa é de que essa normalização da curva ocorra já ao longo de 2022.
“O mercado estima uma inflação implícita aproximada de 5,5% ao ano a partir do ano que vem até um prazo de 10 anos, mas vale lembrar que o próprio Copom vem reforçando a missão de trazer a inflação para próximo da meta – mesmo que isso custe uma Selic em território contracionista por mais tempo e que a economia demore mais para se recuperar”, explica o analista.
“Se a inflação der sinais mais sólidos de desaceleração, a inversão da curva pode se normalizar durante o ano e o mercado vai diariamente recalibrando essas expectativas de inflação e juros conforme novos dados são divulgados.”