A União Europeia suspenderá por 90 dias suas primeiras contramedidas contra as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em um comunicado no X.

“Tomamos nota do anúncio feito pelo presidente Trump. Queremos dar uma chance às negociações. Enquanto finalizamos a adoção das contramedidas da UE que tiveram forte apoio de nossos Estados-membros, nós as colocaremos em espera por 90 dias”, disse ela.

A União Europeia aprovou na quarta-feira tarifas que atingirão cerca de € 21 bilhões (US$ 23,2 bilhões) em mercadorias americanas como retaliação às taxas de 25% impostas pelo presidente Donald Trump no mês passado sobre as exportações de aço e alumínio do bloco.

A maioria dos 27 estados-membros da UE votou a favor das penalidades, algumas das quais começarão a vigorar em meados de abril. As tarifas visarão estados americanos politicamente sensíveis e incluirão produtos como soja da Louisiana, estado natal do presidente da Câmara Mike Johnson, além de diamantes, produtos agrícolas, aves e motocicletas.

A Comissão Europeia, braço executivo do bloco, declarou em comunicado que as contramedidas podem ser suspensas a qualquer momento “caso os EUA concordem com um resultado negociado justo e equilibrado”.

Mais lenha na fogueira comercial

A medida, se acabar sendo colocada em prática, pode intensificar a crescente guerra comercial transatlântica, com os EUA também tendo aplicado uma tarifa universal de 20% em quase todas as exportações europeias, além de uma taxa separada de 25% sobre automóveis e algumas autopeças.

Trump disse que anunciará tarifas adicionais sobre madeira, chips semicondutores e produtos farmacêuticos. Todas as novas tarifas de Trump estão atingindo cerca de € 380 bilhões em produtos da UE.

Algumas das tarifas da UE entrariam em vigor em 15 de abril, enquanto outra lista em meados de maio e uma terceira em 1º de dezembro, segundo informou a Bloomberg anteriormente. A maioria dos produtos visados enfrentará um nível tarifário de 25%, com algumas categorias sujeitas a taxas de 10%. Com o adiamento, as primeiras taxas, se entrarem em vigor, ficariam para 15 de julho.

Bourbon foi poupado para não prejudicar o champanhe

O bourbon foi removido da lista do bloco sob pressão dos estados-membros após Trump ameaçar aplicar tarifas de 200% sobre vinhos, champanhes e outras bebidas alcoólicas da França e de outros países.

Trump tem atacado repetidamente a UE, o maior parceiro comercial dos EUA, dizendo que ela foi formada para “enganar” os EUA e que o superávit comercial do bloco em mercadorias é evidência de uma relação injusta. A taxa tarifária média ponderada pelo comércio da UE foi de 2,7% em 2023, segundo dados da Organização Mundial do Comércio.

“Eles criam regras e regulamentos que são projetados por uma única razão: para que você não possa vender seu produto nesses países”, disse Trump no início desta semana. “E não vamos permitir que isso aconteça.”

O chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, discutiu parâmetros de possível engajamento em questões comerciais com seus homólogos americanos na terça-feira à noite, segundo um porta-voz da comissão. As negociações até agora produziram poucos progressos e os funcionários americanos ainda não parecem ter um mandato claro de negociação de Trump, de acordo com pessoas familiarizadas com as discussões.

O braço executivo do bloco está trabalhando em uma “folha de termos” de potenciais áreas para negociação, incluindo tarifas mais baixas, regulamentos e padrões, informou a Bloomberg anteriormente.

Crescimento da UE em risco

A votação de quarta-feira ressaltou a unidade das capitais da UE diante da crescente disputa comercial de Trump. As medidas americanas ameaçam eliminar grande parte da expansão da zona do euro que o Banco Central Europeu prevê para este ano e o próximo.

Além disso, a comissão, que trata de assuntos comerciais para o bloco, está preparando um conjunto de contramedidas para retaliar contra as chamadas tarifas recíprocas que entraram em vigor na quarta-feira. A comissão planeja anunciar seus planos no início da próxima semana e depois iniciar consultas com os estados-membros, disse um porta-voz.

As tarifas universais destinam-se a atingir todas as barreiras comerciais que as exportações americanas enfrentam no exterior, como tarifas, regulamentos domésticos e impostos, incluindo o imposto sobre valor agregado. A presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, disse anteriormente que a UE “tem muitas cartas na manga”, incluindo tarifas retaliatórias e o direcionamento de empresas americanas de serviços e tecnologia.

França, Alemanha e outros países pediram à comissão que considere implantar o instrumento anti-coerção do bloco — a ferramenta comercial mais poderosa da UE, projetada para contra-atacar nações que usam medidas comerciais e econômicas de forma coercitiva, informou a Bloomberg anteriormente.

O bloco ainda quer encontrar uma solução negociada para a disputa tarifária, mas até agora não conseguiu se envolver em negociações significativas com a administração americana.

Novas taxas miram Harley-Davidson e jeans americanos

Para a UE, a luta sobre as tarifas americanas de metais começou em 2018 durante o primeiro mandato de Trump, quando os EUA atingiram quase $7 bilhões de exportações europeias de aço e alumínio com tarifas, citando preocupações com a segurança nacional. Na época, autoridades em Bruxelas zombaram da noção de que a UE representava tal ameaça.

Nessa primeira salva, os EUA atingiram produtos de aço com tarifas de 25% e alumínio com 10%, e incluíram isenções para certos produtos.

O bloco de 27 nações reagiu visando empresas politicamente sensíveis com taxas retaliatórias, incluindo motocicletas da Harley-Davidson Inc. e jeans da Levi Strauss & Co. As medidas foram aplicadas produto por produto e incluíam mercadorias agrícolas e vestuário, além de produtos de aço e alumínio.

Os dois lados concordaram com uma trégua temporária em 2021, quando os EUA removeram parcialmente suas medidas e introduziram um conjunto de cotas tarifárias acima das quais as tarifas são aplicadas aos metais, enquanto a UE congelou todas as suas medidas restritivas.