Tal perspectiva impacta diretamente as aplicações atreladas ao CDI, que se mantêm altamente atraentes para quem busca liquidez (poder sacar os recursos a qualquer momento), afirma Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander. “A gente brinca que o pós-fixado [título que acompanha a variação da taxa Selic ou do CDI] é a parcela de equilíbrio da carteira. Então, com uma Selic mais alta como temos hoje, acaba sendo muito atrativo e faz bastante sentido”, diz Camargo.
Nessa modalidade, no entanto, o investidor não pode perder de vista o comportamento da inflação. A variação da inflação é que determina qual é o ganho real de um investimento. Se a aplicação não estiver atrelada a um índice de preços, como o IPCA, então uma disparada da inflação vai acabar reduzindo muito o ganho real. Exemplo: se o rendimento creditado for de 10,5% e a inflação estiver em 4%, o ganho real será de apenas 6,5%, isso sem contar os impostos. Portanto, se os níveis de inflação futura estiverem muito altos, talvez seja necessário ajustar a estratégia.
Ainda no palco dos investimentos, o juro elevado traz luz também para as aplicações prefixadas, aquelas em que a taxa de retorno é determinada no momento do aporte de recursos. Isso, desde que o investidor fique com o papel em carteira até o vencimento.
Viviane Silva, analista da BB Investimentos, diz que as operações prefixadas de curto prazo podem ser uma alternativa de travar rendimentos a taxas atrativas, caso se concretize a hipótese de a Selic voltar a cair em 2025.
E aqui vale um alerta importante: o mercado trabalha em cima de expectativas. Se o investidor estiver convencido de que o cenário vai melhorar e a Selic poderá voltar a cair, faz sentido garantir no prefixado um rendimento superior a 10,5% para um horizonte de três anos ou mais, por exemplo.
Porém… se a situação econômica exigir um aumento da Selic em nível superior ao que foi contratado lá atrás, o investidor terá que se contentar com a taxa previamente negociada.
E se eu vender meu papel prefixado antes do vencimento?
Existem dois cenários possíveis: se o juro que está travado no momento da aplicação for maior que a Selic no momento do resgate, você sai ganhando. Se for menor, perde. Nos dois casos, a magnitude – para cima ou para baixo – vai depender do apetite por aquele papel no mercado secundário de negociação, a chamada “marcação a mercado” dos preços dos títulos.
Com vocês, os papéis de inflação
Para quem deseja se proteger da inflação e garantir também uma taxa prefixada, entra em cena os títulos indexados ao IPCA, públicos e privados.
E a boa notícia é que os prêmios oferecidos por esses papéis estão em patamares elevados em relação à média histórica. “Além de proteger o poder de compra do portfólio, esses títulos entregam atualmente uma taxa de juro real elevada quando comparada aos últimos 14 anos”, diz Camargo, do Santander. “É o que traz mais equilíbrio para a carteira no momento.”
Um exemplo é o título público Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029, que oferecia recentemente a variação da inflação mais 6,4%. Segundo especialistas, é uma alternativa particularmente interessantes para aplicações com horizonte de médio e longo prazo.
Crédito privado, mocinho ou vilão?
Se a ideia é buscar retornos ainda maiores na renda fixa, um personagem importante são os papéis privados. Mas antes de qualquer apresentação vale lembrar que, para obter ganhos mais elevados, é preciso correr mais risco. Simples assim.
Lembrete feito, vamos recapitular que, no início de 2023, a confiança do investidor em ativos de crédito foi abalada quando a gigante varejista Lojas Americanas pediu recuperação judicial. Isso fez com que o mercado passasse a exigir uma remuneração ainda maior para correr o risco de comprar esses papéis e, eventualmente, não receber. Esse “prêmio” recuou um pouco desde então, mas ainda existe, avalia Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management.
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Como referencial, todos os índices de debêntures [título de crédito privado] divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) superam o desempenho dos índices atrelados aos títulos públicos, no acumulado dos últimos 12 meses.
Mas por que o papel privado é tão mais arriscado?
O estrategista do Santander explica que o risco de crédito é mais difícil de mensurar porque ele não se resume a um índice, a um número. Para saber se uma empresa é mais arriscada do que outra, é preciso analisar diversas variáveis, como capacidade de geração de caixa, controle de custos, nível de endividamento etc. Além disso, o ambiente de juro alto por mais tempo torna mais dura ainda a vida das empresas, pois impacta o planejamento financeiro, pode pressionar o custo da dívida, pode influenciar as vendas, e por aí vai. Tudo isso reforça a importância da seletividade e cautela nas alocações em papéis privados.
Na dúvida, diversifique
Conhecendo todos os personagens da renda fixa, o investidor pode até achar que já tem o seu favorito, mas não custa repassar outro aviso importante para a plateia: ter bem claro o objetivo da aplicação e o horizonte de investimento, fatores que vão guiar a estratégia mais
adequada.
Quer investir, mas não sabe exatamente o que fará com o dinheiro no futuro? Bom, neste caso faz mais sentido ainda a boa e velha recomendação dos especialistas de diversificar as aplicações. Nesse sentido, a recomendação clássica é distribuir os recursos pensando
em três diferentes cenários: deixar uma reserva que possa ser sacada a qualquer momento, alocar uma parcela com vencimento no médio prazo e outra que irá “hibernar” na carteira por um longo período.