Luiz Inácio Lula da Silva e Claudia Sheinbaum conversaram por telefone na quarta-feira (23), segundo nota do governo brasileiro, enquanto os dois países se preparam para os impactos de novas tarifas sobre bens exportados aos Estados Unidos, caso Trump leve adiante sua ameaça mais recente: uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras a partir de 1º de agosto.
Os dois líderes de esquerda concordaram que o vice-presidente Geraldo Alckmin irá ao México em agosto para trabalhar em um possível acordo. Esse acordo pode abranger comércio bilateral nas áreas de farmacêuticos, energia, agricultura e aeroespacial. Alckmin será acompanhado por uma delegação de empresários brasileiros nos dias 27 e 28 de agosto.
Lula enfatizou “a importância de aprofundar as relações econômicas e comerciais entre os dois países, especialmente diante do atual momento de incerteza”.
Sheinbaum afirmou que a conversa tratou do fortalecimento da cooperação econômica, especialmente nas indústrias farmacêutica e de etanol — áreas em que o Brasil tem ampla experiência. Ela esclareceu, contudo, que não houve discussão sobre um acordo de livre comércio. Segundo a presidente, o México busca fortalecer alianças com países como Brasil, Canadá e União Europeia, além do já existente acordo com os EUA (USMCA).
Lula e Sheinbaum já haviam se encontrado no ano passado durante o G20 no Rio e mais recentemente no G7, no Canadá. Em paralelo, os dois países têm buscado estreitar laços em setores estratégicos: neste ano, o Brasil foi o país convidado de honra em um evento aeroespacial no México.
Os dois governos mantêm conversas discretas desde antes da posse de Trump, em janeiro, antecipando mudanças nas políticas comerciais e migratórias dos EUA. Mas essas negociações ganharam urgência nos últimos meses, segundo uma fonte com conhecimento do tema.
As ameaças de Trump aos exportadores brasileiros têm relação com sua defesa de Jair Bolsonaro, que responde a acusações de tentativa de golpe. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chegou a cancelar o visto de um ministro do STF que supervisiona o julgamento, após a corte ordenar uma operação de busca na casa de Bolsonaro. Lula criticou a postura de Trump, classificando-a como interferência estrangeira indevida.
O México, por sua vez, já vem tentando diversificar seus parceiros comerciais, já que cerca de 80% de suas exportações vão para os EUA. Neste ano, o país fechou um acordo comercial com a União Europeia.
Segundo Jimena Zuniga, analista da Bloomberg Economics, a aproximação do Brasil com o México faz parte de um movimento mais amplo de diversificação de mercados. Ela citou os esforços recentes do Mercosul — bloco liderado pelo Brasil — para ampliar relações com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA).
Zuniga acrescenta que Sheinbaum deve agir com cautela para não dar a entender que está se alinhando ao Brasil em detrimento dos EUA.
Trump já cumpriu parte das ameaças tarifárias neste ano. Em relação ao México, ele cogita uma tarifa de 30% sobre a pequena parcela das exportações mexicanas que não estão cobertas pelo USMCA — apesar da cooperação do país em questões migratórias e de segurança.
Sheinbaum disse que seu governo apresentou um plano para reduzir o déficit comercial dos EUA com o México, na tentativa de evitar a tarifa. Negociadores mexicanos estão em Washington e, se necessário, ela mesma discutirá o assunto diretamente com Trump na próxima semana.