A engarrafadora de refrigerantes Arca Continental reportou mais de 2% de queda no volume no país, depois de uma retração de 5% no trimestre anterior.
Já a Coca-Cola Femsa, a maior engarrafadora mundial do icônico refrigerante, viu os volumes no México diminuírem 10% no segundo trimestre em relação ao ano anterior. A empresa — que possui a Coca-Cola e a Fomento Economico Mexicano (Femsa) como acionistas — deve divulgar uma nova rodada de resultados nesta sexta-feira (24).
O culpado? A chuva incessante, que tem mantido os clientes de vários setores, de refrigerantes a cerveja, em casa.
Indicadores do México
Quedas como essas para empresas que o Scotiabank chamou de “indicadores mexicanos” são “muito incomuns”. “O fator mais impactante tem sido o clima”, diz analista Felipe Ucros.
Em uma teleconferência sobre os resultados financeiros na quinta-feira (23), o CEO da Arca, Arturo Gutiérrez Hernández, citou o aumento das chuvas e as temperaturas mais baixas neste ano, juntamente com a fraqueza econômica, como ventos contrários no México — e acrescentou que a empresa espera que esses fatores melhorem adiante.
A Femsa e outra gigante do varejo, o Walmart, com lojas no México e na América Central, citou condições climáticas atípicas como fatores negativos nos últimos relatórios trimestrais.
Em junho, o México registrou o mês mais chuvoso em três anos, de acordo com dados do governo. Desde então, a capital tem enfrentado precipitações tão fortes que atrapalharam ainda mais o trânsito e fecharam o aeroporto internacional.
Só neste mês, fortes chuvas no centro e no sudeste do país causaram inundações e deslizamentos de terra, deixando pelo menos 76 mortos e dezenas de desaparecidos.
Inflação
A implacável temporada de chuvas deste ano se somará a outros problemas que afetam os lucros corporativos. O setor de consumo do México já foi afetado pelo enfraquecimento do sentimento devido às persistentes pressões inflacionárias, ao aumento dos custos trabalhistas devido à elevação do salário mínimo e a uma guerra comercial global que turvou as perspectivas para a economia global.
Recentemente, analistas do Bank of America escreveram que esperam “resultados fracos em geral” para os varejistas mexicanos, e citaram, em parte, devido ao clima “adverso”.
A confiança mais fraca do consumidor e remessas menores também estão incentivando os consumidores a comprar itens de menor valor, marcas próprias e caixas pequenas, disseram.
Dos 10 piores desempenhos do índice Mexbol nos últimos seis meses, cinco eram companhias de consumo. Além da Arca e da Coca-Cola Femsa, a lista inclui a Femsa, empresa por trás da onipresente rede de lojas de conveniência Oxxo.
Representantes da Femsa, da Coca-Cola Femsa e da Walmex não quiseram comentar, pois as empresas estão em período de silêncio antes dos resultados do terceiro trimestre. Um pedido de comentário da Arca não foi respondido imediatamente.
Em nota de 13 de outubro, após as recentes chuvas torrenciais, Rodolfo Ramos e Juan Ponce, analistas do Bradesco, disseram que o trágico evento “provavelmente será tema de discussão” das empresas também nos resultados do quarto trimestre.
Investidores
Para investidores como Baillie Gifford, que detém ações da Femsa e da Walmex, os impactos de curto prazo não alteram sua tese de que os gastos do consumidor se estabilizarão ao longo do tempo.
“Há claramente coisas acontecendo no México que impactaram o sentimento do consumidor”, disse Andrew Stobart, gestor de investimentos da empresa sediada em Edimburgo.
“Estamos focados na perspectiva de três a cinco anos, aceitando que o desempenho dos lucros no curto prazo será volátil.”
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