O presidente do Banco Popular da China (PBOC), Pan Gongsheng, apresentou nos termos mais claros até agora sua visão para o futuro de uma nova ordem monetária global, após décadas de domínio do dólar americano. Ele prevê que um sistema mais competitivo deve se consolidar nos próximos anos.

“No futuro, o sistema monetário global poderá continuar a evoluir para uma situação em que algumas moedas soberanas coexistam, compitam e se equilibrem mutuamente”, disse Pan nesta quarta-feira (18), em um discurso no Fórum Lujiazui anual, em Xangai.

Pan afirmou que houve discussões em todo o mundo sobre como reduzir a dependência excessiva de uma moeda única, acrescentando que o status global do yuan melhorou nos últimos anos.

A confiança nos Estados Unidos está diminuindo após meses de políticas erráticas do presidente Donald Trump. Os investidores vêm reduzindo suas reservas em dólar ultimamente, levando a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, a falar sobre um potencial “momento global do euro”.

Desde que Trump voltou à Casa Branca este ano, o dólar perdeu mais de 10% de seu valor em relação ao euro, à libra e ao franco suíço, e está em queda em relação a todas as principais moedas do mundo.

Pan citou comentários do BCE, afirmando que o domínio do dólar dos EUA é cada vez mais incerto e que o euro pode desempenhar um papel mais importante globalmente. Lagarde fez uma rara visita a Pequim na semana passada e conversou com o premiê Li Qiang, enquanto a segunda maior autoridade da China pedia maior cooperação entre seu país e o BCE.

No mesmo evento em Xangai, Wang Xin, diretor do departamento de pesquisa do PBOC, alertou que, embora a confiança no mercado do dólar tenha enfraquecido, seu status futuro dependerá de como outras moedas vão se desenvolver.

“Seria uma melhoria se passássemos de um sistema que depende excessivamente do dólar para um em que várias moedas importantes competem entre si, o que colocaria tanto incentivos quanto restrições aos países que as emitem”, disse ele.

A China também vem posicionando o yuan como um rival do dólar americano. É uma extensão dos esforços do presidente Xi Jinping para transformar a China em uma potência financeira com uma moeda estável o suficiente para exercer um papel crescente no comércio global, especialmente com o aumento das tensões com os EUA durante o segundo mandato de Trump.

Os riscos tarifários deste ano intensificaram essa iniciativa, com alguns exportadores dos EUA solicitando a liquidação em moedas alternativas, incluindo o yuan, para conter o impacto das oscilações do dólar, de acordo com um funcionário do US Bancorp.

Enquanto isso, o Banco Popular da China mudou o foco de esforços prolongados para sustentar o yuan, passando a se preocupar com o risco de uma valorização rápida. Após atingir seu nível mais fraco desde 2007 em abril, o yuan onshore se recuperou, valorizando-se mais de 1% neste trimestre.

Xi Jinping, presidente da China. Foto: Ken Ishii/Press Pool

O discurso de Pan “destaca passos firmes em direção à internacionalização do renminbi”, escreveram economistas do Morgan Stanley, incluindo Robin Xing, em uma nota na quarta-feira.

Pan abriu o discurso nesta quarta-feira, anunciando diversas medidas que serão implementadas em Xangai para abrir os mercados financeiros da China e promover o alcance global de sua moeda.

O esforço inclui a criação de um centro de operações para avançar na internacionalização do yuan digital e explorar a negociação de contratos futuros de yuan, o que aumentaria a variedade de produtos disponíveis para os operadores de câmbio. O PBOC também incentivará as empresas comerciais a emitir títulos offshore na cidade.