Economia

Pensa em mudar de carreira? Veja se é a hora certa e como se preparar

Especialistas apontam que ter uma reserva de emergência e um bom planejamento são essenciais antes de dar os primeiros passos.

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Insegurança, angústia, insatisfação, problemas de relacionamento com a gestão, desmotivação com a carga de trabalho, salário e rotina profissional, falta de perspectivas e perda de sentido do trabalho. Estes são os principais fatores que motivam as pessoas a optarem pela transição de carreira.

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De acordo com a professora e orientadora de carreira Adriana Gomes, quando a pergunta “o que estou fazendo aqui?” começa a ser persistente na vida profissional de uma pessoa, é hora de fazer uma revisão de carreira. Segundo ela, é um sinal de alerta.  

A orientadora de carreira também destaca que quando a pessoa avalia que qualquer coisa pode ser melhor do que aquela que ela esteja vivendo profissionalmente, também pode ser outro fator de atenção. “A relação de trabalho vai dando sinais o tempo todo”, diz.

Já o coach de carreira Bruno Galvani aponta que um indicador que pode sinalizar que a pessoa precisa de mudança profissional é quando ela faz trocas frequentes de emprego dentro de um mesmo segmento de atuação por insatisfação.

Galvani recomenda ainda que a pessoa se questione se ela realmente precisa mudar de profissão ou se o descontentamento é momentâneo. “Será que eu preciso fazer transição de carreira ou são outros aspectos que devo mudar em relação ao que estou passando no momento atual? Esse é um dos questionamentos que se deve fazer. O profissional precisa observar e ter certeza se a insatisfação está, ou não, relacionada a outros fatores, além de ter claro o que gosta no trabalho”, esclarece.

O coach alerta, no entanto, que a transição de carreira é um caminho difícil a seguir. “A pessoa tem que saber que terá um caminho espinhoso pela frente, não é fácil, precisa estar preparada”, diz Galvani.

Para enfrentar o desafio de fazer uma transição de carreira, os especialistas ouvidos pelo InvestNews recomendaram 5 dicas. Confira:

1 – Entenda a transição de carreira

Os profissionais precisam ter claro em mente que existem tanto a mudança de carreira quanto a de emprego.

Quando se fala em transição de carreira, ela é mais complexa, pois não se trata de apenas buscar uma nova oportunidade em outra empresa, mas de seguir um novo rumo profissional, algo que possa ser distante da atuação do momento e da experiência que o profissional tenha.

Por exemplo, um advogado. Ele pode mudar de segmento e manter a profissão. Um advogado trabalhista pode optar pela área cível. Galvani explica que é uma mudança um pouco mais branda, pois a formação é a mesma e altera somente o segmento de atuação. “Fazer uma pós-graduação, criar relacionamentos interno e aplicar para vagas facilitam essa mudança. No caso de um engenheiro que quer ser advogado, é uma mudança total. Ele precisa começar do zero, estudar, se formar e ir para o mercado de trabalho”, explica o coach.

2 – Tenha autoconhecimento

Gomes sugere que a pessoa que deseja fazer transição de carreira precisa se autoconhecer, pois, a partir daí, mais adequadas serão as escolhas feitas.

Assim, é importante fazer uma autoanálise identificando os pontos fortes, fracos, de fragilidade, competências que são interessantes desenvolver, características, habilidades, comportamentos e seus diferenciais.

A pessoa precisa fazer uma análise criteriosa de si ou então contar com a ajuda de profissionais, que podem oferecer uma análise externa, além de ter o auxílio de ferramentas capazes de apontar crenças e valores que nem sempre são tão facilmente percebidos e que podem ser determinantes para esta decisão.

Além disso, é importante a pessoa destacar o que a motiva e a faz feliz profissionalmente.

3 – Tenha um planejamento financeiro consistente

Tanto Galvani quanto Gomes apontam que é essencial fazer um planejamento financeiro antes de colocar a transição de carreira em prática. Afinal, será preciso ter recursos disponíveis tanto para investir na mudança quanto para se manter durante essa fase.

“Algumas faixas etárias são mais fáceis de se recolocar no mercado de trabalho, outras mais difíceis. Nem sempre a pessoa mantém o salário que tinha. Por isso, é importante ter reserva financeira. Quanto menos depender do salário, mais autonomia para tomar suas decisões”, explica a professora.

A orientadora de carreira aponta ainda que essa mudança é complexa, e que algumas pessoas demoram anos para fazê-la. Por isso, é importante entender que uma mudança de carreira traz mudança salarial e possíveis perdas financeiras. “São fatores para levar em consideração, além de ter claro em qual momento de vida ela está”, diz.

Galvani alerta também que não se deve fazer a mudança de carreira sem antes estar com seu planejamento financeiro bem projetado. Ele explica que o profissional pode correr o risco de, no meio desse processo, acabar fazendo dívidas. “É preciso analisar também as perdas e ganhos. Será que o que ela vai perder agora compensará lá na frente? A parte financeira precisa ser avaliada. Isso é essencial. Caso contrário, é um pulo no abismo”, afirma.

Gomes sugere ainda que, além do planejamento financeiro, a pessoa trace um plano de como fará a transição de carreira como um todo e que ele seja executado gradualmente. Além disso, ela explica que a hora certa de essa mudança acontecer é algo muito pessoal, que vai depender do momento de cada pessoa, que deve ter claro o que motiva tomar essa decisão.

4 – Conheça o mercado e experimente atividades

É importante o profissional fazer um levantamento de informações do mercado de trabalho que deseja atuar e entender as demandas dele e as experiências exigidas antes de bater o martelo sobre a mudança.

Para isso, faça um mapeamento e procure, por exemplo, as vagas que você deseja e observe as qualificações solicitadas.

Os especialistas recomendam também que a pessoa experimente a profissão nova que deseja, ou seja, se for possível, que ela faça um trabalho frila, por exemplo, para que consiga vivenciar a rotina e funções para perceber se ela se identifica e gosta.

“Tem muitas pessoas que fantasiam sobre atividades profissionais. E nem sempre é assim. É bom conversar com pessoas que atuam nas áreas desejadas e tentar ter uma experiência dentro desse novo setor que interessa. É preciso cruzar o que o mercado está oferecendo e o que você deseja e fazer um balanço”, orienta Gomes.

5 – Qualifique-se

Qualificação é fundamental para a inserção em uma nova carreira. Dependendo da mudança desejada, uma pós-graduação ou especialização já podem ser interessantes para, além de acrescentar conhecimento, ter a possibilidade de o profissional fazer novos contatos profissionais.

Além disso, a qualificação pode tornar o profissional mais competitivo, seja para trabalhar em uma empresa  ou empreender.

E, além de investir em estudos, é importante buscar informações, acompanhar sites, perfis de redes sociais para ficar por dentro das movimentações do mercado de trabalho desejado e demostrar às pessoas seus novos interesses.

Galvani explica que as redes sociais podem ser grandes aliadas neste processo. Ele recomenda, por exemplo, que o profissional não utilize o LinkedIn somente para acompanhar publicações, ou fazer as suas, mas, também, fazer contatos com novos profissionais. “Se você se interessa por determinada profissão ou empresa, mande mensagem privada para alguém que trabalhe nessa companhia e pergunte como é a rotina, o trabalho e a empresa”, sugere.

Além disso, conseguir novas oportunidades nem sempre está associado ao conhecimento acadêmico e experiência profissional. Gomes avalia que o mercado de trabalho brasileiro nunca viveu um momento tão democrático em relação às carreiras como agora. Ela explica que muitas empresas hoje em dia estão dando valor para as competências socioemocionais, para pessoas que tenham maturidade, habilidade de comunicação e relacionamento.

“Essas pessoas acabam conseguindo uma abertura maior para conquistar uma vaga tanto quanto as que possuem formação acadêmica. A diversidade está nas organizações. As empresas estão revendo questões de gênero, idade, cultura etc. Hoje isso está muito presente nos processos seletivos”, destaca a professora.

6 – Conte com o apoio de familiares

Dar os primeiros passos na transição de carreira não é tarefa fácil e, se a pessoa faz ela de forma sozinha, pode ser ainda mais difícil, avaliam os especialistas ouvidos pelos InvestNews.

Galvani recomenda buscar ajuda de quem está por perto, sejam pais, filhos, esposa ou marido. “Deixar claro que está neste processo, e que precisa de apoio do familiar, é jogar aberto com quem está próximo de você, pois é um momento muito difícil”, destaca.

Gomes também defende esse apoio familiar. Ela aponta que a pessoa precisa saber em qual momento de vida ela está e que deve falar com familiares, pois se torna difícil fazer esse tipo de mudança sem apoio de pessoas. “É como nadar contra a correnteza. É um momento como um limbo. Quem estiver envolvido nessa relação próxima, precisa apoiar nesse processo de mudança”, conclui.

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