Mesmo com a Selic mantida no mesmo patamar desde agosto do ano passado, a taxa de juros média cobrada pelos bancos nas operações de cartão de crédito rotativo continua subindo. Em abril, a alta foi de 14,4% e atingiu 447,5% ao ano, o maior patamar desde março de 2017. Especialistas ouvidos pelo InvestNews avaliam que a alta inadimplência e o maior endividamento das famílias elevam o spread bancário.
Os juros do rotativo (quando o consumidor deixa de pagar o valor mínimo da fatura) chegaram em abril ao seu patamar mais alto desde março de 2017, quando alcançaram 490,33% ao ano.
No último trimestre, de fevereiro a abril, ja taxa média acumulada de juros do rotativo subiu 32%, e 35,8% durante o ano de 2023. No período dos últimos 12 meses, a alta de juros foi de 83,7%.
No mês passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que vai negociar com os bancos a redução dos juros do rotativo do cartão, que é a linha de crédito mais cara do mercado.
Taxa de juros mais alta em 6 anos
O economista Rodrigo Simões, professor da FAC-SP (Faculdade do Comércio), fatores como endividamento das famílias, atraso nos pagamentos de contas e inadimplência contribuem para o grande volume dos juros do cartão.
“Primeiro, de cada dez famílias, três estão inadimplentes no Brasil. De todas as famílias brasileiras, 78,3% estão com endividamento alto sobre o orçamento. O atraso nas dívidas de cartão de crédito vem aumentando, então isso o banco também leva em consideração. E quando somamos esses três fatores, o alto endividamento das famílias, a parcela de inadimplência e atraso nos pagamentos de contas, contribui para a formação do spread, que é a alta de juros do cartão de crédito.”
economista Rodrigo simões
Simões explica que com a economia fraca, o aumento da taxa do desemprego e manutenção das taxas altas de juros em 13,75% ao ano para conter a inflação são uma “tempestade perfeita” para esse encarecimento.
“As pessoas em uma situação difícil acabam atrasando boa parte das suas contas e dão preferência ao consumo de itens básicos como alimentação, gás, energias e água”, disse.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, disse que o aumento do endividamento da população e das empresas e adiciona risco às operações de crédito de um modo geral.
“Por isso a taxa do cartão e demais linhas de empréstimos aumentaram, pois a chance de inadimplência está aumentando no sistema como um todo, e para evitar ou reduzir esse risco, os agentes estão aumentando as taxas para ‘desincentivar’ o não pagamento, e também adicionar o seu custo de operação em caso de calote.”
Jefferson Souza, especialista em investimentos da Semeare, afirma que a taxa alta faz com que o valor da dívida suba tanto que acaba se tornando impagável para a maioria das pessoas.
Quem é o usuário do cartão de crédito?
Nesta semana, o Banco Central divulgou um balanço sobre o perfil do usuário de cartão de crédito no Brasil.
Em junho de 2022, 84,7 milhões de clientes de cartões de crédito no Brasil possuíam saldo devedor (que refere ao valor da compra, seja ela parcelada ou não, que ainda não foi pago pelo cliente e sobre o qual pode ou não incidir juros) relacionado a essa forma de pagamento. O número é 30,9% maior do que o apurado em junho de 2019, que era de 64,7 milhões.
De acordo com o BC, o aumento de clientes com saldo devedor pode ser explicado pela entrada de novos players no mercado nos últimos anos, principalmente no segmento de cartões pós-pago, o que fez com que uma parcela significativa da população brasileira passasse a ter acesso a um ou mais cartões de crédito. No período analisado, instituições de pagamento e bancos digitais aumentaram sua base de usuários em 27,6 milhões.
Ainda de acordo com o documento, o percentual do uso do rotativo e do rotativo não migrado (valor que permanece no sistema de crédito rotativo por mais de 30 dias, prazo máximo previsto, após a fatura não ter sido paga integralmente no seu vencimento), estava entre 17% e 20%, independentemente do número de vínculos dos usuários.
Em junho de 2022, a quantidade de cartões de crédito era de 190,8 milhões e representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil, de 107,4 milhões de pessoas.
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