Exportamos US$ 7 bilhões em aço e alumínio para os EUA em 2024. Caso as novas tarifas anunciadas na noite desta segunda-feira (10) derrubem essa cifra em apenas 10%, US$ 700 milhões, já seria o bastante para quase triplicar nosso déficit comercial com eles – tendo em vista que, no ano passado, ele foi de US$ 253,3 mi.

Não é possível cravar o quanto as novas tarifas, de 25% sobre o aço e o alumínio, vão derrubar nossas exportações para os EUA. Mas dá para inferir que não é simples para eles taxar tudo, com Trump determinou. Vejamos o caso do aço.

Não existe um único tipo de aço. Há dois grandes reinos em que eles se dividem. Um é o do aço semi-acabado. Trata-se de blocos retangulares do metal que servem e matéria-prima para o aço-laminado – como chapas e bobinas, que vão efetivamente para a indústria.

94% do aço semi-acabado dos EUA vem de outros países – de acordo com uma análise do UBS. Contando “todos os aços”, a fatia importada cai para 25%. É que o forte da siderurgia americana é importar essa matéria-prima e beneficiá-la nas siderúrgicas. E o forte do Brasil é exportar esse aço mais “cru”: 57% do que mandamos para eles em 2024 era aço semi-acabado.

Ao taxar essa matéria prima em 25%, os EUA não têm como substituir de cara tudo o que importam por produção própria. O mais provável, então, é que em algum momento aconteça algo parecido com 2018, quando Trump criou cotas de importação. No caso do aço semi-acabado, a cota para o Brasil ficou em 3,5 milhões de toneladas, o equivalente a 85% do que tínhamos exportado para eles um ano antes, em 2017.

Já a história do aço laminado é mais complexa. A concorrência aí é com as siderúrgicas americanas. Nesse caso, seria mais factível para a produção local substituir uma grande fatia das importações.

Entre acabados e semi-acabados, a indústria brasileira exportou 305 produtos diferentes feitos integral ou parcialmente de ferro ou aço, como barras, tubos, fios, talheres, redes ou latas. Eles tiveram como destino 200 países, mas os EUA sozinho responderam por 44% das vendas.

Com isso, somos o segundo maior vendedor de aço para os EUA, com pouco mais US$ 6 bilhões – atrás apenas do Canadá.

Entre as siderúrgicas do Ibovespa, a situação é a seguinte. Usiminas e CSN vendem relativamente pouco para os EUA – entre 1% e 4% de sua produção. Já a Gerdau acaba beneficiada. Ela tem uma operação nos EUA. 40% do Ebitda da companhia vem de lá. E tudo o que ela vende nos Estados Unidos ela produz nos Estados Unidos. Um mercado americano mais fechado, então, acaba sendo bom para a brasileira – tanto que as ações da Gerdau, subiram 5,21% hoje na bolsa.

O caso do alumínio

Segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o Brasil exportou US$ 4,6 bilhões em bens de alumínio em 2023 – entram aí das matérias-primas até utensílios domésticos.

Mas os EUA foram o destino de apenas US$ 685 milhões, ou 15% do total. Ficaram atrás do Canadá (US$ 1,2 bilhão) e da Noruega (US$ 753 milhões).

Em 2024, segundo dados da Abal antecipados ao InvestNews nesta segunda-feira (10), o Brasil aumentou em 16% suas exportações de alumínio para os EUA, chegando a US$ 796 milhões. Mas a participação no total de exportações do setor teve uma leva queda, de 15% para 14%.

No ranking de maiores exportadores para os EUA, ocupamos a 17ª em 2023, com Canadá, Emirados Árabes Unidos e China no pódio.

Nesse mercado, também somos especialistas em matéria-prima. As do alumínio são a bauxita e a alumina. Sozinha, a alumina representa 60% das exportações brasileiras “de alumínio” para os EUA — a bauxita representa 0,7%, só para constar.

Ou seja, se as tarifas americanas excluírem os bens semimanufaturados ou manufaturados, isso quer dizer que US$ 4 em cada US$ 10 que o Brasil embolsou em 2023 vendendo alumínio para os EUA seriam poupados de qualquer impacto.

Outros países, porém, têm uma relação ainda menos diversificada com o Brasil. Levando em conta nossos três maiores importadores de alumínio, a proporção de alumina entre o total exportado para o Canadá foi de 94,6%; para a Noruega, 100%.