Economia

Mercado espera alta de 0,5 ponto na Selic; reunião do Copom começa nesta terça

Expectativa é de que a taxa de juros passe para 13,75%; próximos passos geram dúvida.

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira (2) sua reunião para decidir o rumo da Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. A expectativa é por uma alta de 0,5 ponto percentual, levando os juros de 13,25% a 13,75% ao ano. A decisão será anunciada na quarta-feira (3).

Segundo dados da B3 sobre contratos de opção de Copom, considerando a expectativa do mercado, a probabilidade de alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic na reunião desta semana é de 87%. Também é vislumbrada uma possibilidade de alta de 0,25 ponto, mas a probabilidade é menor, de 11%.

A dúvida maior do mercado no momento é o que deve acontecer em seguida: uma interrupção do ciclo de aumento de juros ou novas elevações. Os dados da B3 sobre Opção de Copom mostram o mercado dividido nas expectativas para a reunião de setembro: 66% de probabilidade de alta de 0,25 ponto percentual e 32% de manutenção da taxa.

Um dos fatores na avaliação do mercado é a mudança nas perspectivas de inflação. Há diversas semanas, o Boletim Focus, em que o Banco Central reúne as projeções de diversos especialistas, tem mostrado que as projeções de inflação para 2022 têm caído, enquanto para 2023 o movimento é o oposto. 

Isso porque, com medidas como a limitação temporária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre combustíveis, energia elétrica entre outros, a expectativa é de algum alívio sobre os preços no curto prazo, mas, por outro lado, maior pressão inflacionária no ano que vem. 

Nesse cenário, André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, acredita que o Copom elevará a Selic em 0,25 ponto agora e encerrará o ciclo de alta. “Porque já estão evidentes algumas coisas. A primeira delas é que a taxa de inflação em 2022 vai ficar mais baixa, a gente tem essa leitura. E também se criou a perspectiva de que a política monetária já está bastante contracionista. Ou seja, está bastante elevada a taxa de juros no Brasil, dados os desafios que a gente tem no país”, afirma. 

Política monetária “contracionista” significa um patamar de taxa de juros que reduz o consumo ao ponto de esfriar a atividade da economia.

Camila Abddelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, acredita em uma elevação de 0,5 ponto agora, apontando como justificativa a “persistência inflacionária”. “Por mais que a gente venha acompanhando no Focus as revisões para baixo na expectativa de inflação de 2022, em grande parte essas revisões baixistas são ocasionadas pela desoneração tributária. Tem uma preocupação com a desancoragem de 2023, com as revisões para cima, justamente pelo efeito da retomada de alguns tributos, como é o caso dos federais.”

Abddelmalack também vê a possibilidade de o BC encerrar o ciclo de alta da Selic agora. “O BC pode aproveitar essa janela de oportunidade agora da reunião de agosto, por conta da recente desaceleração da inflação corrente e também a expectativa de deflações para julho e agosto, para encerrar o ciclo de elevação dos juros”, diz ela. 

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, também acredita em alta de 0,5 ponto nesta semana. Entre as razões, ele cita a mudança de cenário desde a última reunião do BC, em junho. “Por um lado, tem um cenário de inflação de curto prazo um pouco mais favorável com a questão dos impostos, mas provavelmente vai ter uma revisão da projeção de inflação para 2023. Diante desse cenário, ele deve seguir o ciclo, porque a inflação ainda demanda um ajuste adicional. Então, segue subindo juros.”

Mas Costa acredita que, possivelmente, o BC deve interromper o ciclo de alta de juros em setembro. No entanto, para ele, o comunicado que o Copom deve divulgar nesta quarta deverá deixar essa possibilidade em aberto, diante das incertezas como o cenário fiscal, com aumento de gastos do governo antes das eleições.

“Olhando pra frente, o que a gente imagina é que o BC, na comunicação, não vai fechar completamente a chance de uma nova alta na reunião subsequente, de setembro. Mas a gente acha que ele vai sinalizar que é um ajuste de menor magnitude ou vai dar um sinal de pausa”, acredita o economista.

O que deve acontecer com a Selic em 2023?

O mercado acredita que a Selic vá cair em 2023 em relação ao patamar de 2022. A questão é o quanto e em que ritmo. Nesta segunda-feira (1º), a projeção da taxa básica de juros da economia no ano que vem passou de 10,75% para 11%. 

Perfeito, da Necton, acredita que os juros devam ficar congelados em 2023 por cerca de 6 meses até começarem a cair. “Para 2023, a leitura geral é que vai ficar parada, estacionada a taxa de juros até o próximo governo decidir o que quer fazer da vida. Não importa se o presidente Bolsonaro ou o ex-presidente Lula, dificilmente o BC vai querer cortar a taxa de juros antes disso, de saber da parte fiscal. Isso demora uns 6 meses.”

“Então, é por isso que a gente imagina uma taxa de juros estacionada ao longo de pelo menos metade do ano que vem, para só começar a cortar a partir do segundo semestre, quando tiver mais clareza da parte fiscal”, diz Perfeito.

O time de analistas da Guide Investimentos acredita que a Selic deve ficar estacionada em 13,75% até maio de 2023, mas não descarta a possibilidade de um avanço maior que o esperado até lá.

“Dado o elevado patamar em que a taxa já se encontra e pelo fato que vemos a inflação e atividade desacelerando em breve, reiteramos nossa visão de uma Selic terminal em 13,75% com espaço para redução da taxa em maio de 23, mas acreditamos que a autoridade monetária (o BC) não irá fechar as portas para uma elevação adicional na reunião desta quarta-feira e pode realizar esse feito a depender da evolução do cenário”, escreveram em relatório.

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