Trump afirmou que a nova tarifa, que representa um aumento de cinco vezes em relação à alíquota de 10% imposta pelos EUA ao Brasil no início de abril, também foi motivada pela “relação comercial muito injusta” com o país, dizendo que ela tem sido “longe de ser recíproca”.
Na carta que enviou ao governo brasileiro, Trump acusou o Brasil de promover “ataques contra eleições livres”. Citou ainda a atuação do STF com a acusação de ter censurado redes sociais americanas: “como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro.”
Veja o que o Brasil exporta para os EUA
Entre janeiro e dezembro de 2024, importamos R$ 40,6 bilhões dos EUA e exportamos R$ 40,3 bilhões, uma diferença de US$ 253,3 milhões – ínfima para esse padrão de grandeza. Trata-se do menor déficit com eles em 10 anos.
O câmbio ajudou. Dólar alto é ruim para quem importa coisas, mas é bom para quem exporta. Se um exportador vendeu R$ 1 milhão em grãos para os EUA no final de 2023, com o dólar a R$ 4,84, o comprador lá fora pagou, em moeda americana, US$ 207 mil. A mesma venda de R$ 1 milhão um ano depois, com o câmbio a R$ 6,18, custou apenas US$ 162 mil ao cliente gringo – 22% a menos.
Ou seja: quanto mais sobe o dólar, mais competitivos ficam os produtos brasileiros lá fora – sem que o exportador precise baixar o preço em reais. Em 2024, mesmo os exportadores que aumentaram seus preços para acompanhar a inflação brasileira (4,8% no ano), ainda puderam cobrar bem menos em dólar.
Os setores que mais trouxeram dinheiro foram os de petróleo, produtos siderúrgicos (como lingotes e chapas de aço), e aviões (incluindo peças de aeronaves). No ano passado, por exemplo, a Embraer recebeu a maior encomenda de jatos executivos de sua história: 182 unidades, de três modelos diferentes. O pedido veio da americana Flexjet, uma empresa de fretamento de aeronaves, e inclui contratos de manutenção. No total, o negócio envolve US$ 7 bilhões.
Trata-se de algo emblemático. Apesar de a exportação de matéria prima para os EUA ter um papel relevante, a de produtos de alto valor agregado é bem forte.
No caso do setor de siderurgia, os EUA já haviam subido as taxas sobre aço, alumínio e derivados para 50% em 4 de junho. Conforme sugere o documento enviado ao governo, a nova tarifa de 50% seria cobrada a parte de outros encargos setoriais: “cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Isso sugere que será cumulativa, ou seja, a taxação total sobre os produtos metálicos brasileiros pode alcançar 100%.
Veja a íntegra da carta envia por Trump
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA