A UE pisou no acelerador para concluir o acordo com o Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O objetivo é criar um mercado integrado de 780 milhões de consumidores na Europa e aqui.
Após mais de duas décadas de negociações, as duas regiões chegaram a um acordo político em dezembro para um tratado de livre‑comércio. Diante das novas tarifas de Trump, a Áustria anunciou que abandonaria sua histórica oposição ao pacto, impulsionando o processo de ratificação.
O acordo pretende elevar o comércio de bens além do volume atual de cerca de € 110 bilhões, reduzindo tarifas para a maioria das exportações europeias aos maiores países da América Latina, ao mesmo tempo em que abre o mercado europeu a mais importações, inclusive de produtos agrícolas. O acordo também poderia ajudar montadoras europeias afetadas pelas tarifas automotivas de Trump – o que significaria carros importados mais baratos no Brasil.
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Mas a UE não se limita ao Mercosul. Ela já possui a maior rede de acordos comerciais do mundo, com 75 parceiros e mais de €2 trilhões em comércio. Nos últimos meses, avançou negociações com Emirados Árabes Unidos, Malásia, Indonésia, Tailândia, Índia e Reino Unido (para redefinir as relações pós‑Brexit). Os acordos de livre‑comércio respondem por cerca de 45% do comércio da UE com países externos, e pactos pendentes de adoção ou ratificação até o ano passado somam mais de €185 bilhões.
Em novo pivô para a Ásia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a UE explorará cooperação com o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP), que vai da Austrália ao Canadá — dos quais os EUA se retiraram em 2017. O primeiro‑ministro da Nova Zelândia, Christopher Luxon, propôs usar o CPTPP como base para um bloco comercial mais amplo com a UE.
Ministros das Finanças da UE, reunidos em Varsóvia, comprometeram‑se a aprofundar “parcerias existentes ao redor do mundo, bem como a selar novos acordos vantajosos para ambas as partes”, disse o chefe da economia do bloco, Valdis Dombrovskis. “A imposição de tarifas universais é equivocada e prejudicará profundamente o crescimento econômico, os consumidores e as empresas em ambos os lados do Atlântico.”
Em paralelo, o principal negociador comercial da UE, Maroš Šefčovič, viajará a Washington para pressionar pela redução das tarifas que o presidente Trump impôs a €380 bilhões das exportações europeias. Na semana passada, Trump anunciou uma tarifa “recíproca” de 20% sobre quase todas as exportações do bloco, que depois adiou por 90 dias, mantendo uma alíquota de 10% nesse período. Os EUA também aplicam sobretaxa de 25% sobre aço, alumínio, carros e autopeças europeias, e Trump já sinalizou tarifas adicionais sobre madeira, chips semicondutores e produtos farmacêuticos.
Nesta semana, Trump elevou a tarifa sobre produtos chineses para 145%, gerando preocupação de que Pequim direcione suas exportações para a UE. Em conversa com o premier Li Qiang, von der Leyen discutiu criar um mecanismo para monitorar desvios e definir sanções. Von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, viajarão a Pequim em julho para uma cúpula, onde também tratarão de cooperação em cadeias de suprimento de veículos elétricos e atualização de acordos aduaneiros.
Alguns Estados‑membros, como Espanha, defendem laços mais estreitos com a China — movimento que o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, comparou a “cortar a própria garganta”. A maioria, porém, permanece cética: o primeiro‑ministro francês, François Bayrou, alertou que Pequim busca “substituir todos os produtores europeus nos setores agrícola e industrial”.