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Chegamos ao fim da era digital? Gil Giardelli responde

O roboticista Gil Giardeli é o convidado da segunda conversa da série ‘The Innovators’ no InvestNews.

Gil Giardelli - ©Marcos Mesquita
Gil Giardelli – ©Marcos Mesquita

Para meu segundo texto da série “The Innovators”, convidei Gil Giardelli, professor de MBA, escritor, inovador, roboticista e membro do World Federation Future Studies e da World Future Society. Ele é um dos mais importantes difusores de conceitos e atividades à inovação radical, sociedade em rede, colaboração humana, economia criativa e estudos do futuro.

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Comecei perguntando ao Gil sobre como deve ser o planejamento de uma empresa para os próximos 10 a 20 anos. Ele conta que esse modelo organizado de enxergar o futuro começou com a influência da década de 1930 nos Estados Unidos, quando o então presidente Franklin Delano Roosevelt iniciou o planejamento até os anos 2000. Depois disso, o mundo teve que repensar o futuro a longo prazo nos anos 1970 durante a crise do petróleo. E de lá pra cá com empresas como, por exemplo, a Philips, que começaram a pensar o futuro em 50 anos.

Hoje em dia, se uma empresa não estiver focada em eficiência financeira, eficiência da produtividade e eficiência da inovação, não tem nenhuma chance de sobreviver. Todas as empresas que admiramos possuem essas três eficiências como prioridade. Entretanto, o maior desafio é fazer empresas e conselhos pensarem mais a longo prazo e deixar de planejar por quarters.

Mas como uma empresa consegue fazer um planejamento de 20 a 30 anos? Como entender como será a evolução da tecnologia e quais serão as condições de inovação?

Para Gil, a impressão 3D, a manufatura molecular, o design biológico já são realidade. Ainda que em laboratórios de inovação das multinacionais gigantescas, mas já estão acontecendo. Essas tecnologias aliadas ao conceito de economia circular para a preservação do planeta já estão fazendo o futuro chegar mais rápido. Por exemplo, as duas maiores empresas de devices da Coreia do Sul – Samsung e LG – lançaram mais de 60 robôs sociais em 2020.

Gil conta que a NASA já começou a planejar o seu centenário daqui a 30 anos e garante que isso terá um grande impacto na sociedade, com casas planejadas para a gravidade zero. Não se sabe em qual Planeta, mas o ponto é o pensamento a longo prazo. Ele traz, também, o exemplo da BMW que já declarou não ser mais uma empresa do setor automotivo e, sim, uma empresa de conexões urbanas e intergalácticas. Já estão pensando no poder dos carros inteligentes levando para outras fronteiras.

Outro exemplo atual de disrupção com forte impacto global é o da China que acaba de lançar a primeira moeda criptografada atrelada a um Banco Central. O objetivo é quebrar a dependência da economia frente ao dólar e ao ouro. E serão essas moedas criptografadas que poderão ser usadas em viagens espaciais.

E o Brasil?

Gil demonstra muita preocupação com o desenvolvimento digital do governo brasileiro. Infelizmente, no índice que mostra a introdução dos países na economia da inteligência artificial, o Brasil estava na 40ª posição em 2019 e termina como 62º em 2020. E por que? Porque nosso país não está conseguindo introduzir inteligência artificial nas áreas mais básicas, como saúde, transporte, educação, saneamento, entre outras.

Para o Brasil ser uma nação inovadora, todos os conceitos do século 21 devem ser repensados. Comentei com ele que muitos CEOs e empresários vieram me procurar durante a pandemia pedindo dicas de cursos, livros, pessoas para seguir. Muitos em busca de uma reciclagem de conhecimento.

O maior inimigo de um CEO, segundo Gil, é cumprimento das metas de quarters, pois o resultado dentro das expectativas deixa o alto escalão em uma posição mais confortável e tira a sensibilidade de aprender sobre o novo. Que ninguém duvide: inovação requer uma boa dose de inquietação.

O ponto alto da minha conversa com esse expert brasileiro foi quando ele foi firme ao afirmar que chegamos ao fim da era digital e ao fim da quarta revolução industrial. Ele sente que muitos brasileiros estão optando por não querer renovar o conhecimento e criando, com isso, uma sociedade da ignorância. Um empresário ou executivo precisa, necessariamente, investir em sua capacitação técnica.


Todo CEO que não tiver uma cabeça de ciência de dados terá problemas nos próximos 20 anos.

O MBA mais procurado do mundo hoje não fica mais numa escola de negócios nos Estados Unidos e nem na Europa. É o Programa Yunpei da Universidade de Pequim, na China, e ensina aos alunos (todos CEOs e altos executivos) Python para negócios. Caso não esteja familiarizado sobre o que é Python, trata-se da linguagem mais utilizada de inteligência artificial para análises de dados.

Como as empresas podem planejar o futuro?

E sobre o avanço da biotech? As pessoas terão mesmo chips por todo o corpo, inteligência artificial na corrente sanguínea, cérebro conectado à nuvem, vida eterna? Segundo Gil, a indústria global de biotecnologia já tem capacidade para fazer uma pessoa viver 200 anos. E todo os desdobramentos vão impactar diversas indústrias a partir do estudo do DNA de cada indivíduo. Tudo será personalizado de acordo com o DNA de cada um. Essa revolução já começou.

Gil conta que na China revelaram que 18 bebês já viverão 200 anos. Mas se o nosso corpo pode estar preparado, como fica a mente? E como vai ser o trabalho para pessoas que viverão mais de 200 anos? De que forma funcionaria uma renda básica universal? Com a biotech evoluindo tão rapidamente, o ser humano deixa de ser um passageiro na Terra para assumir o papel de zelador do planeta.

Será que estamos preparados para tanta responsabilidade? Talvez você possa ler meu artigo daqui 200 anos para conseguir responder a essa pergunta.

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