Finanças
Recuperação das aéreas após pandemia ganha novo obstáculo com guerra na Ucrânia
Alta do petróleo eleva custos, apesar de queda do dólar.
Ainda no caminho para se recuperar do baque da pandemia, as companhias aéreas agora se encontram em meio a mais uma dificuldade: a guerra na Ucrânia. Enquanto o conflito levou à disparada dos preços do petróleo e elevou o custo dessas empresas, há ainda o ruído sobre o efeito que pode haver sobre as viagens internacionais – todos fatores que vêm impactando com força as ações de aéreas nas bolsas de valores pelo mundo.
Desde a véspera da invasão da Ucrânia por tropas russas, a cotação do petróleo do tipo Brent, referência internacional, já acumula um avanço de cerca de 33%. No mesmo intervalo, as ações de aéreas na bolsa brasileira, Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), amargaram perdas de 30% e 26%, respectivamente.
“Uma das principais despesas das companhias aéreas são os combustíveis”, comenta Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que representa as companhias Gol e Latam Airlines, o querosene de aviação (QAV) responde por mais de um terço dos custos do setor aéreo.
“Isso vai impactar o resultado financeiro da empresa. As margens já são baixas. Os índices de endividamento, altos. Isso vai fazer com que o mercado continue sofrendo”, diz Gonçalvez.
Nesta terça-feira (8), a Abear divulgou um comunicado afirmando que o encarecimento do combustível de aviação poderá frear a retomada do setor após a pandemia e inviabilizar rotas de custos mais altos no curto e médio prazos.
Ainda segundo a associação das empresas aéreas, os custos das companhias têm uma fatia superior a 50% indexada ao dólar. Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante, aponta que a recente queda do dólar sobre o real, puxada por fatores como alta das commodities e fluxo estrangeiro, “pode compensar de uma forma relativa” o aumento dos combustíveis para as aéreas.
“Mas uma questão muito mais importante é a guerra, que impacta não só o movimento de retomada dos voos pós-coronavírus, mas principalmente pela alta do petróleo”, diz Cozzolino.
As incertezas sobre a guerra da Rússia, de fato, chegaram em um momento em que a recuperação das empresas parecia estar em curso. Nesta terça, a Azul informou que a demanda de passageiros por seus voos subiu 20,1% em fevereiro sobre o mesmo mês de 2021, quando boa parte das medidas de isolamento social ainda estavam em vigor. A Gol reportou um dia antes alta de 35% na demanda no mês passado.
“Para o ano de 2022, o turismo brasileiro deve voltar. Ele já está voltando, como Gol e Azul estão reportando nos seus dados de janeiro e fevereiro”, diz Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos. “Agora, o problema é que os custos estão subindo numa escalada como não se via há mais de 14 anos. Então, realmente isso é preocupante.”
Cruz lembra ainda que a queda das ações “não é uma exclusividade das aéreas brasileiras, as aéreas globais estão caindo”.
Desde a véspera da eclosão da guerra na Ucrânia, a ação da American Airlines (AALL34), por exemplo, acumula perdas de 18% em Wall Street, enquanto o papel da United Airlines (U1AL34) tem baixa de 26%. Na Europa, a ação de Air France – KLM (AIRF) tem recuo de 16% no mesmo período.
Ações de aéreas são oportunidade?
Não há consenso entre os analistas sobre o potencial das ações de aéreas. Fabrício Gonçalvez, da Box Asset Management, por exemplo, diz que esses papéis podem ser boas oportunidades de investimento no longo prazo, mas alerta que “no curtíssimo prazo, (deve haver) muita tensão, pois pode ter fortes oscilações para o papel”.
“Qualquer notícia sobre o conflito, seja um cessar-fogo ou seja a continuidade, vai gerar fortes oscilações. Então, no curtíssimo prazo essas ações seguem voláteis”, afirma.
Já Gustavo Cruz, da RB Investimentos, por sua vez, entende que “não é um bom momento para estar alocado em aéreas”. “Quando a Rússia invadiu a Geórgia, o barril de petróleo chegou a US$ 179 em junho de 2008”, compara. Nos últimos dias, a cotação do Brent tem ficado acima de US$ 130 por barril, batendo máximas em 14 anos.