Finanças
Após rombo da Americanas, ação AMER3 derrete 90% em 1 mês
Incertezas seguem sobre tamanho do rombo, passos da recuperação e a empresa irá se financiar.
O escândalo envolvendo o rombo bilionário da Americanas (AMER3) completa um mês neste sábado (11), período em que o papel da empresa na bolsa acumulou uma forte queda de 90% na bolsa de valores. Para especialistas, as incertezas devem seguir pressionando e não há perspectivas de recuperação do papel por enquanto.
Isso porque, um mês após a eclosão do escândalo, as incertezas seguem sobre o tamanho do rombo, os passos da recuperação judicial e como a empresa fará para se financiar. “A situação da companhia não é fácil. O clima que se gerou no mercado de crédito após o anúncio de recuperação judicial pela Americanas deixou os bancos ainda mais restritivos na concessão de novas linhas de crédito, spreads mais altos e balançou o mercado de capitais”, resume Eduardo Lobo, gestor de fundos de crédito da SOMMA Investimentos.
Nesta quinta-feira (9), a Americanas conseguiu aval da Justiça para emitir debêntures de até R$ 2 bilhões. Desse valor, metade deve ser financiado pelos acionistas de referência da empresa – o trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, fundadores da empresa de private equity 3G Capita.
“De imediato, será aportado R$ 1 bilhão, que, vale lembrar, é importante para o capital de giro da empresa e manter o funcionamento da operação, incluindo o pagamento a fornecedores”, comenta Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável. Mas ele ressalta em seguida que o valor “está bem longe do número que os bancos pedem”.
Nesse cenário, Lobo, da SOMMA, diz que a expectativa é de que “daqui para a frente este movimento se repita”. “A empresa precisa de recursos para pagar seus fornecedores, que agora só recebem à vista, além de seu passivo não financeiro, o que forçará que novas captações sejam realizadas”.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL, comenta: “a maioria do mercado se pergunta: o grupo de empresários que inclui os 3 homens mais ricos do Brasil deseja salvar a empresa, seu legado e reputação? Ou preservar seu capital frente aos desafios que a empresa vem sofrendo desde que o escândalo veio a público?”
É hora de investir em AMER3?
Especialistas ouvidos pelo InvestNews não recomendam a compra da ação de Americanas, ou mesmo investimentos em debêntures a empresa.
“Para os investidores, tanto de ações como de debêntures, o momento está muito mais próximo de um prejuízo do que de acerto. Não é o momento de entrar no papel, porque a gente não sabe o que vai acontecer e qual o tamanho desse rombo”, aconselha Rodrigo Pinheiro Salvador, Sócio da HCI Invest e planejador financeiro.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL, aponta que “o acionista vem vivendo dia a dia o drama. Os pequenos especuladores lotam as salas de bate papo para comprar e vender tentando ganhar com a oscilação e os grandes ou zeraram sua posição ou estão fazendo o mesmo”.
A perspectiva hoje é a pior possível, sem notícias, sem fato relevante positivo. Qualquer palavra é motivo para altas expressivas ou quedas violentas, uma montanha russa sem cinto de segurança e muitos não têm apetite de correr este risco. Quem compra já fica com o dedo no gatilho para venda e quem vende tem medo de virar o dia e sair algum fato relevante positivo de negociações.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL
Entenda o caso
Nas últimas semanas, a varejista se viu envolvida em uma série de disputas judiciais com seus credores após anunciar que encontrou “inconsistências judiciais” da ordem de R$ 20 bilhões.
Em meio à forte reação do mercado e rebaixamento das notas de crédito pelas principais agências de classificação de risco, a Americanas pediu recuperação judicial em 19 de janeiro, com dívidas de mais de R$ 40 bilhões. O pedido foi aceito horas depois pela Justiça.
Relembre abaixo os principais acontecimentos no último mês em torno do caso Americanas:
Dia | Acontecimento |
11/1 | Americanas anuncia que encontrou ‘inconsistências contábeis’ de R$ 20 bi. O então presidente da empresa Sergio Rial, e o diretor de Relações com Investidores, André Covre, deixam seus cargos. |
12/1 | Rial diz que rombo de R$ 20 bi pode ser ainda maior. |
12/1 | Ação da Americanas despenca 77% na bolsa e perde mais de R$ 8 bilhões em um só dia. |
13/1 | Americanas ganha na Justiça proteção contra vencimento antecipado de dívidas. Decisão cita dívidas de R$ 40 bi e preparatória de processo de recuperação judicial, mas empresa nega. |
17/1 | Nota da Americanas é rebaixada por agências de classificação de risco; varejista contrata empresa para renegociar dívidas |
18/1 | Justiça reverte decisão que protegia Americanas de cobrança antecipada pelo BTG |
18/1 | Bradesco pede à Justiça que só permita que a Americanas retire recursos do banco com aval prévio |
19/1 | Com dívidas de R$ 43 bi, Americanas pede recuperação judicial; Justiça aceita horas depois |
20/1 | B3 exclui ação da Americanas de todos os 14 índices dos quais fazia parte, incluindo Ibovespa |
23/1 | ‘Trio 3G’ se manifesta: Acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira dizem não ter conhecimento de ‘inconsistências contábeis’. |
24/1 | Santander e Safra pedem suspensão de recuperação de Americanas; Justiça nega |
24/1 | Justiça suspende bloqueio de R$ 1,2 bilhão da Americanas pedido pelo BTG |
25/1 | Americanas pede recuperação judicial nos EUA |
26/1 | BTG recorre consegue que STJ mantenha bloqueio de R$ 1,2 bilhão da Americanas |
2/2 | Administrador judicial indica dívida R$ 6,7 bi maior, a quase R$ 48 bi |
10/2 | Em um mês, ação AMER3 acumula perda perto de 90% |
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