Você conseguiu. Fez o planejamento, seguiu à risca a estratégia e juntou dinheiro para comprar um carro zero km à vista. Agora é só desfrutar e desfilar. Mas será mesmo? Automóvel tem custo. E não é necessariamente barato manter o veículo no dia a dia.
Todos os anos, você vai ter despesas inadiáveis. E custos que aumentam com o tempo de uso. Ser dono de um veículo significa pagar IPVA, seguro e revisões regularmente. Mas o maior custo vem da depreciação, ou seja, do quanto o carro se desvaloriza com a rodagem.
A conta é simples. O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) tem uma alíquota de 4% sobre o valor do veículo em São Paulo e em vários outros Estados. Um seguro anual custa, em média, 6% nessa mesma base.
Já para fazer uma revisão na concessionária a cada 10 mil quilômetros rodados, você vai desembolsar algo em torno de R$ 1 mil. Tem ainda o licenciamento, que tem uma taxa de R$ 160. E com a depreciação, seu carro perde cerca de 25% do valor de um ano para outro.
É claro que o uso do automóvel traz outros custos, como combustível, estacionamento e, eventualmente, reparos. Mas são valores variáveis de acordo com o perfil de cada usuário. Em termos de gastos comuns a todos os motoristas, imposto, taxas, revisões e depreciação valem para qualquer veículo e embutem certa previsibilidade. Além disso, são despesas feitas anualmente.
Comprar ou alugar?
Um carro com valor de R$ 100 mil, como um HB20 TGDI automático, portanto, vai custar cerca de R$ 36 mil por ano. Ou R$ 3 mil mensais no primeiro ano de uso.
Esses números trazem à tona uma segunda maneira de você ter um veículo zero km e pagar menos por isso. Trata-se dos contratos de assinatura de veículos.
Nos últimos anos, houve uma multiplicação de ofertas desse serviço. Isso porque não apenas as locadoras de automóveis, como Localiza, Movida, Turbi, Unidas e UseCar, mas também as própria montadoras entraram no negócio. É possível alugar e pagar mensalmente por veículos novinhos diretamente da Audi, Caoa Chery, Fiat, Ford, Jeep, Mistubishi, Nissan, Renault, Toyota e Volkswagen.
Os contratos padrões desse serviço preveem o uso do veículo por períodos de no mínimo um ano a até três anos. Mas qual a vantagem de assinar por mais tempo? É que os compromissos mais longos trazem descontos maiores nas mensalidades, porque o valor do carro se deprecia e, consequentemente, os custos fixos, como IPVA e seguro, também diminuem.
As assinaturas oferecem ainda a flexibilidade para trocar de carro no final do prazo contratado. Além disso, o cliente deixa de se preocupar com pagamento de IPVA, seguro, licenciamento e manutenção.
O mesmo HB20 TGDI automático vai custar nesse sistema em torno de R$ 2,7 mil por mês em uma assinatura de 12 meses. Isso significa, de cara, uma economia de R$ 3,6 mil comparado a comprar o veículo. Mas no cenário atual com os juros a caminho de alcançar o maior nível de 10 anos, a vantagem de alugar o carro por temporada pode valer mesmo em um período maior, de 36 meses.
Investir para assinar
Se você pegar os R$ 100 mil que juntou para comprar o automóvel à vista e aplicar em um produto de renda fixa conservador, como um CDB que paga 100% do CDI, o certificado vai render um juro real, ou seja, quando se desconta a inflação, de mais de 8% ao ano. Isso se considerarmos a taxa básica Selic atual de 13,25%, que serve como referência para o ganho do CDI.
Significa que, se quiser manter o capital principal protegido da variação de preços, basta usar só a parcela do juro real. No exemplo citado, seria um retorno bruto de R$ 8,2 mil no ano. Se for descontado o imposto de renda de 20% que incide sobre rendimentos resgatados entre 180 e 360 dias, o CDB vai ter originado um ganho acima da inflação e líquido de IR de R$ 6.560 em um ano. São R$ 546 a cada mês.
Se o valor da assinatura é de R$ 2,7 mil mensais, com o rendimento real do CDB, você terá um custo efetivo de R$ 2.154. O assinante teria uma economia de R$ 846 por mês ou R$ 10 mil no ano. Ou seja, na prática o custo mensal cai 28%, se você optar pelo aluguel e aplicar o dinheiro.
Também você pode pensar de outra forma: se somar os R$ 546 aos R$ 2,7 mil do aluguel você pode pegar um carro de um valor mais alto. Por exemplo, poderia trocar o HB20 por um VW T-Cross ou um Jeep Renegade, que custam em torno de R$ 145 mil.
O custo fixo do carro começa a se tornar mais vantajoso em relação a assinatura a partir do terceiro ano de uso. Isso porque a mensalidade nas locações por temporada não mudam e costumam ter reajustes pelo IPCA. A depreciação faz o valor do carro cair e, como consequência, os custos de seguro e IPVA. Desse modo, a partir do terceiro ano o custo fixo do dono do carro fica mais baixo que o da assinatura.
Mas se for considerado o ganho extra com a aplicação do capital principal, a assinatura ainda será vantajosa no período de três anos. Por isso, no cenário atual de juros, para quem compra o carro à vista, o custo fixo tende a se tornar mensalmente menor do que a assinatura a partir do quarto ano de uso.
E comparado ao financiamento?
Se você não tem o valor total para comprar à vista, a maré vira ainda mais a favor da assinatura. A MIT Locadora, divisão de aluguel de veículos da Mitsubishi no Brasil, fez uma simulação com números reais de mercado, na qual compara a compra financiada de um SUV Mistubishi Eclipse Cross Rush, que custa R$ 170 mil, a uma assinatura do mesmo modelo por três anos.
Nas compras financiadas, como prática do mercado, o cliente paga uma entrada de, pelo menos, 20% do valor do veículo. Já o empréstimo em si tem uma taxa média de 1,80% ao mês. Com base nessas premissas, a aquisição do Eclipse Cross com parcelamento de 36 vezes vai significar um custo de R$ 5,2 mil mensais, além de uma entrada de R$ 34 mil.
O aluguel mensal em um contrato de 36 meses de assinatura do mesmo modelo sai por R$ 3.570. A simulação mostra que, no fim do contrato, o cliente terá pagado R$ 128,5 mil.
Já o financiamento terá custado R$ 220 mil no mesmo período. Se considerarmos os custos como IPVA, seguro, manutenção, licenciamento e emplacamento, o desembolso sobe para R$ 267 mil no período. Vale lembrar que, na assinatura esses gastos, já estão embutidos na mensalidade, ou seja, a locação por temporada só vai custar ao usuário aqueles R$ 3,5 mil por mês.
A MIT calcula que após três anos o valor da venda do seminovo cai para R$ 110 mil. O cálculo considera uma depreciação de 25% ao ano, mais a correção da inflação, estimada em 5% ao ano. Isso significa que, se o dono vender o carro por R$ 110 mil, no fim de três anos de uso o desembolso real terá sido de R$ 156,5 mil. Há portanto uma economia de R$ 28 mil com a assinatura.
Isso sem considerar ainda o custo de oportunidade. Caso você coloque os R$ 34 mil da entrada em um CDB que renda 100% do CDI e considerando a Selic de 13,25% ao ano, você terá mais de R$ 49 mil na aplicação após 36 meses. Ou seja, a economia potencial no contrato de assinatura comparado ao financiamento seria de R$ 77 mil: você terá deixado de desembolsar R$ 28 mil e ainda terá uma reserva financeira de R$ 49 mil.
Quando comprar fica mais vantajoso?
A opção pela compra ou pela assinatura, na prática, depende do perfil e dos objetivos do cliente. Quem pensa em trocar de carro a cada ano ou depois de 24 meses, por exemplo, tem na assinatura uma aliada valiosa. Mas se você vai ficar com o carro mais de três anos, comprar pode fazer mais sentido.
“Costumo dizer para a pessoa fazer contas e entender a própria necessidade”, afirma o chefe de operações da MIT, Juliano Pires. “Carro sempre é custo.”
No cenário atual com juros em elevação e perspectiva de o investidor obter retornos altos por mais tempo, pode fazer mais sentido alugar o carro e esperar para adquirir um veículo novo só quando o mercado ficar mais favorável. “No momento de juro real tão elevado, vale a pena manter o dinheiro aplicado.”
Quando os juros caem, por outro lado, a situação se inverte. Aí, surgem dois incentivos para a compra: o retorno das aplicações diminui e o custo do financiamento também fica mais baixo. No período em que a Selic estava em um dígito, por exemplo, a compra de veículos em parcelas tinha taxas abaixo de 1% ao mês, entre 0,49% e 0,90%. Mas esse cenário, por ora, parece um pouco distante.
A escolha entre comprar ou alugar, portanto, pode até ser uma questão de momento de mercado. Mas é preciso levar em conta o fator psicológico. Muitos preferem ser donos do veículo. E tudo bem. O importante é saber usar o investimento a seu favor.
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