Os cotistas do fundo Pátria Special Opportunities II viram o capital investido descer “ladeira abaixo” após as cotas serem precificadas pela gestora a impressionantes R$ 301 negativos. Antes, os papeis eram negociadas em R$ 10,51.
O FIP Multiestratégia da Pátria Investimentos, fundo que investe em participações em empresas, está com as cotas negativas devido ao investimento da gestora em uma rede de shoppings centers, segundo fato relevante. O ajuste no valor é devido ao desinvestimento integral no negócio, uma vez que, com o custo da venda dos ativos, foi utilizado o caixa dos fundos da gestora. Dessa forma, o Especial Opportunities II ficou sem capital suficiente para sanar as dívidas.
Em documento, a companhia disse ter vendido no último dia 19 a holding Portfólio Centro Sul que detinha quatro shoppings centers nas cidades de Taubaté (SP), Lages (SC), Varginha (MG) e Bragança Paulista (SP). Este seria “o desfecho final”, uma vez que no ano passado a gestora já tinha se desfeito de outros 9 empreendimentos de shopping centers, a fim de se livrar de dívidas, segundo fontes ouvidas pelo InvestNews.
A pandemia foi citada pela Pátria Investimentos como um catalisador, assim como a falta de linhas de financiamento subsidiadas, dado o mau momento do mercado.
Segundo apuração do “Brazil Journal”, os sócios do Pátria estão entre os principais cotistas do fundo afetado e estão se comprometendo a colocar recursos. No entanto, não se sabe qual seria o montante.
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo tem 49 cotistas pessoas físicas, 5 pessoas jurídicas não financeiras e 19 fundos de investimento. E os investidores que detêm cotas podem ter que arcar com o prejuízo do fundo, sendo ele integral ou parcial. Isso porque o regimento do Especial Opportunities II indica que cabe aos cotistas arcar com possíveis prejuízos:
“12.5.1. Na medida em que o Administrador e o Gestor identifiquem necessidades de recursos para (i) a realização de investimentos nos termos deste Regulamento, ou (ii) o pagamento de Encargos ou manutenção de caixa para o pagamento de tais despesas, tudo nos termos dos Compromissos de Investimento e/ou deste Regulamento; ou (iii) a cobertura das chamadas não atendidas pelos Cotistas Inadimplentes, os Cotistas serão chamados a aportar recursos no Fundo, mediante a integralização das Cotas que tenham sido subscritas por cada um dos Cotistas nos termos dos Compromissos de Investimento (o valor que venha a ser efetivamente entregue, pelos Cotistas, ao Fundo, a título de integralização de suas Cotas, é doravante designado de “Capital Integralizado).”
Até a última atualização desta matéria, não havia fato relevante informando o montante necessário a ser levantado pela base de cotistas. Além do prejuízo nas cotas, é possível que sejam necessários novos aportes pelos investidores.
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Não é a 1ª vez
Caso semelhante aconteceu com outro fundo da gestora, o Pátria Special Opportunities I. O FIP (fundo de investimento em participações) era focado em investir em shoppings por meio da operadora Tenco. Com os lockdowns da pandemia por covid-19, o fundo foi reavaliado e as cotas que eram negociadas a R$ 1 mil caíram para R$ 4.
Foi uma queda de 99,7% no patrimônio dos cotistas do fundo, que abriram um processo de arbitragem (que está em sigilo) contra a gestora em 2020, alegando que os problemas financeiros já vinham de antes da pandemia e que teriam sido escondidos.
Para fugir de uma recuperação judicial, a Tenco conseguiu capital por meio do Pátria Special Opportunities II. À época, o fundo levantou cerca de R$ 106 milhões, sendo 70% dos recursos provenientes dos sócios da gestora.
O montante foi usado para pagamento de dívidas e reformas nos shoppings. No entanto, a segunda onda de covid-19 voltou a fechar os shoppings e levou a gestora a desistir do negócio, vendendo todo o portfólio do fundo criado para salvar seu antecessor.
Segundo fontes, o Pátria vai se desfazer do problema sem gerar retorno aos cotistas e ao fundo, com a possibilidade de a base de investidores terem ainda mais prejuízos.
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