O Fed (Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos) sinalizou preocupações renovadas com a inflação ao reafirmar que precisa de mais evidências de que a alta de preços está diminuindo antes de reduzir as taxas de juros, que estão no seu mais alto patamar em duas décadas.
Os membros do Fed decidiram, por unanimidade, manter a taxa dos Fed funds de referência na faixa entre 5,25% a 5,5% ao ano — mesmo patamar desde julho do ano passado — após uma série de dados macroeconômicos que apontaram pressões de preços persistentes na economia dos Estados Unidos.
“Nos últimos meses, não houve avanço adicional em direção à meta de inflação de 2% ao ano do comitê”, informou nesta quarta em comunicado o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, ligado ao Fed).
A frase se soma a outra incluída pelo Fomc em dezembro citando que a inflação “diminuiu ao longo do último ano, mas permanece elevada”.
Em outra mudança, o Fed disse que os riscos para alcançar os objetivos de emprego e inflação do Fed “se moveram para um melhor equilíbrio ao longo do último ano”, referindo-se ao progresso no tempo verbal passado. A declaração anterior dizia que os objetivos estavam “se movendo para um melhor equilíbrio”, no gerúndio.
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O Fed parou de sinalizar que consideraria aumentar as taxas novamente, um temor que chegou a crescer em Wall Street nas últimas semanas.
Após a divulgação do comunicado, às 15h de Brasília, o índice S&P 500 reduziu as perdas, enquanto o rendimento do título de dois anos do Tesouro americano e o Índice Bloomberg Dollar Spot caíram.
Inflação ainda preocupa
Enquanto as pressões de preços arrefeceram nos últimos meses de 2023, o avanço em direção à meta de inflação de 2% do Banco Central estagnou-se em 2024. A economia americana continua a se expandir com base em um mercado de trabalho forte e consumo e investimento estáveis.
O comunicado de quarta-feira (1) reiterou que o crescimento do número de vagas de trabalho permanece “forte”, com uma baixa taxa de desemprego, enquanto a economia se expandiu a um “ritmo sólido”.
Dados divulgados na terça-feira (30) mostraram que os custos trabalhistas das empresas tiveram no primeiro trimestre a maior alta em um ano, superando as expectativas e apontando para um crescimento salarial robusto.
Três meses consecutivos de números de inflação decepcionantes provocaram uma grande revisão das expectativas de taxas de juros, com os mercados futuros agora indicando que o Fed deverá realizar apenas um corte este ano – bem abaixo dos três projetados por membros do Fed em março e dos cerca de seis estimados pelos mercados no início de 2024.
As preocupações de que o Banco Central americano possa não cortar nada este ano também cresceram diante de questões de até quanto a política do Fed está restringindo a economia.
Em meio a um cenário de uma economia resiliente, o aumento nos preços também levou a uma mudança de tom entre os representantes do Fed. Os cortes de juros sinalizados pelo presidente Jerome Powell em dezembro dependiam fortemente de uma desaceleração contínua na inflação — algo que não aconteceu.
Como resultado, Powell disse em abril que provavelmente levaria “mais tempo do que o esperado” para obter o nível de confiança na trajetória da inflação necessário para reduzir as taxas de juros. Ele acrescentou que o Banco Central pode manter as taxas estáveis pelo “tempo que for necessário”.
O índice de preços observado pelo Fed subiu 2,7% em março (dados anualizados) em relação ao ano anterior, uma aceleração em relação ao período anterior. Excluindo alimentos e energia, avançou 2,8%.
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