Das 21 milhões de unidades que formarão o suprimento final de bitcoins, 19,8 milhões já foram mineradas. Mas nem tudo está em circulação. Há mais bitcoins perdidos, por exemplo, do que em fundos – mesmo com a popularidade crescente dos ETFs de bitcoin.
Não há como detectar quem possui cada bitcoin, ou quantos estão mesmo perdidos para sempre. Mas existem estimativas. Umas das mais recentes é da River Financial, uma financeira focada em cripto.
Ei-la:
Investidores individuais (69,4%)
Apesar da pulverização que o bitcoin teve nos últimos anos, a maior parte ainda está na mão de investidores individuais, principalmente das chamadas “baleias” – não exatamente pessoas, mas carteiras com milhares de BTCs. Pelos registros da blockchain dá para acompanhar as movimentações entre elas.
Também não há como ter certeza de quantas pessoas, quantos “CPFs”, possuem bitcoins. Apesar de a blockchain deixar registros públicos, é impossível saber quais carteiras pertencem a quem. Empresas de inteligência digital fazem estimativas, de qualquer forma. Segundo a River, seriam entre 81,7 milhões e 130,4 milhões de investidores individuais no mundo.
Bitcoins perdidos (7,5%)
Tirando quem investe por corretora ou via fundos e outras formas indiretas, o método tradicional de armazenar bitcoins é usando uma carteira, que pode ser um dispositivo (cold wallet, no jargão) ou estar online (hot wallet). Em ambos os casos é preciso ter uma senha de 12 a 24 palavras, e se você esquecer delas, nunca mais conseguirá acessar seus ativos.
É o que aconteceu com muita gente (veja aqui), e empresas de análise tentam olhar para endereços de carteira parados por muito tempo. Normalmente são as inativas há 5 ou 10 anos, a depender da avaliação. A River acredita que pelo menos 1,5 milhão de unidades estejam perdidas para sempre.
Fundos/ETFs (6,1%)
Desde 2021 o Brasil tem fundos que investem em bitcoin. Nos EUA, eles são bem mais recentes. Só em janeiro do ano passado que foram aprovados ETFs (fundos negociados em bolsa) de BTC.
O maior ETF do mundo, o IBIT da BlackRock, já tem mais de 570 mil bitcoins – US$ 48 bilhões. É mais do que o tradicional ETF de ouro da gestora.
A serem minerados (5,7%)
O último bitcoin do mundo só será minerado no ano de 2140. Mineração, grosso modo, é o ato de resolver problemas matemáticos com supercomputadores. A cada conjunto de problemas (blocos), alguns novos bitcoins são “desenterrados” do sistema, como recompensa aos mineradores.
A cada 210 mil blocos (cerca de 4 anos) ocorre um evento chamado halving, que reduz essa recompensa pela metade, diminuindo o ritmo de criação de novos BTC. Hoje, essa recompensa é de 3,125 bitcoins por bloco.
Em média, um bloco é concluído a cada 10 minutos, ou seja, são 144 blocos por dia, o que resulta em 450 novos bitcoins diariamente no mercado. Com o ritmo cada vez mais lento é possível estimar quando que o BTC número 21 milhões será minerado: na década de 40 do século 22.
Satoshi Nakamoto (4,6%)
Satoshi Nakamoto, o criador do bitcoin, pode ser uma pessoa ou um grupo de programadores. Sua identidade segue sendo um mistério completo. Mas as empresas de análise dão um jeito de estimar quantos bitcoins esse personagem ainda teria. Eles olham para endereços de carteiras criados logo nos primeiros dias da criação do BTC, em 2009, e tentam estipular quais poderiam ser as que têm Satoshi como dono.
A River imagina que ele tenha 968 mil BTCs. Se for isso mesmo, estamos falando em US$ 90 bilhões. Seria o bastante para colocá-lo na em 18º lugar na lista de mais ricos do mundo, empatado com Jensen Huang, fundador da Nvidia.
Empresas (4,4%)
O caso mais conhecido de empresa que compra bitcoins para ter em caixa é o da MicroStrategy (hoje chamada só Strategy). Sozinha, ela já tem mais de 530 mil BTCs. A companhia virou um repositório do bitcoin. Sua “estratégia” é pegar dinheiro emprestado para comprar cripto, pagar conforme ela se valoriza, e ir juntando mais e mais.
A ideia é que o ato de comprar uma ação da Strategy signifique comprar um pedaço de uma “usina” que terá cada vez mais bicoins em caixa – se essa tática é sustentável, essa é outra história.
Mais recentemente, a brasileira Méliuz adquiriu BTCs para ter em caixa e agora irá votar em assembleia a possibilidade de adotar uma estratégia parecida com a da Strategy.
A empresa mais valiosa com bitcoins em caixa é a Tesla. Ela possui uma reserva de 11,5 mil bitcoins.
Governos (1,4%)
Entre os governos que possuem BTC, os Estados Unidos ocupam o topo da lista com 198 mil, todos apreendidos em casos de fraude e hacking – o maior lote veio da queda da Silk Road em 2013.
A China aparece em segundo, com 190 mil atribuídos a carteiras ligadas ao governo após o colapso da pirâmide PlusToken em 2019, embora Pequim não tenha confirmado. A Ucrânia acumulou 46 mil bitcoins em doações durante a guerra com a Rússia, aproveitando a agilidade das transferências em cripto.
Na Coreia do Norte, espiões ocidentais dizem que o grupo Lazarus, ligado ao regime, reúne 13,5 mil BTCs roubados.
O Butão, desde 2021, minerou 8,5 mil bitcoins usando sua energia hidrelétrica barata — isso equivale a 25% do PIB do país. E El Salvador, que adotou o bitcoin como moeda oficial em 2021, comprou 6,1 mil BTCs desde então (veja mais clicando aqui).
Outros (0,9%)
Por fim, a River separa ainda uma pequena quantidade de bitcoins que não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores ou que não há como estimar se pertencem a um investidor individual, a uma empresa, a um governo… Mas que esses bitcoins também não estão em carteiras paradas, como os BTCs perdidos.