Finanças
Friend Tech: nova rede social das criptos cheira a pirâmide financeira?
Apesar de já ter atraído mais de 100 mil pessoas cadastradas, seu modelo de negócio levanta sinais de alerta.
*ARTIGO
A revolução da Web 3.0 está transformando a maneira como interagimos online, oferecendo um horizonte promissor de descentralização, autonomia do usuário e novas formas de monetização. Nesse cenário, surge o Friend.tech, uma rede social descentralizada que está rapidamente atraindo a atenção dos entusiastas das criptomoedas.
Com abordagem similar ao BlueSky, é uma plataforma disponível apenas para smartphones que tem ganhado destaque devido à sua combinação de redes sociais com princípios das criptomoedas. Sua versão beta foi lançada no dia 10 de agosto e já atraiu mais de 100 mil pessoas cadastradas.
Além de permitir que usuários monetizem suas interações por meio de chat em grupo privado, o Friend.tech também oferece recompensas em criptomoedas para incentivar a participação ativa na plataforma — mesmo que seja preciso comprar ações do proprietário desse chat.
O sucesso — ou hype — foi tão grande que, segundo o agregador de dados DefiLlama, a nova rede social já acumula praticamente US$ 8 milhões em taxas em menos de 20 dias.
Entretanto, nem tudo são flores: devido ao seu modelo de negócio, surgiram várias críticas quanto à falta de privacidade da plataforma, seus requisitos de depósito de ethereum (ETH) durante o cadastro e suas incertezas operacionais.
A ascensão meteórica
Essa nova plataforma traz consigo um potencial revolucionário ao criar uma rede social no ambiente descentralizado da Web3.
A rápida ascensão da rede, gerando taxas de mais de US$ 1,4 milhão em menos de 20 dias desde seu lançamento, demonstra o apetite crescente por alternativas descentralizadas quando se fala das plataformas digitais.
Para manter os usuários engajados, o Friend.tech dá cripto de recompensa por determinadas ações de marketing, incluindo compartilhamento de taxas e os frequentes airdrops.
Como o Friend Tech funciona?
Para usar e conseguir acessar o Friend.tech, os usuários precisam de uma carteira de criptomoedas (wallet), como a Metamask, um código de acesso, e também um depósito de pelo menos 0,01 ETH (cerca de US$ 16 na cotação atual) para realizar o cadastro.
O coração da plataforma é constituído por bate-papos em grupos privados. Apesar da abordagem um pouco distinta, ela possui forte semelhança com outros aplicativos populares, a exemplo do Telegram.
Para ingressar em um chat privado, os usuários precisam não só de um convite, mas também comprar ações do proprietário desse chat. Isso inaugura um mercado interno, no qual a popularidade e a demanda por um chat específico influenciam diretamente o valor das ações associadas — que podem subir ou despencar a qualquer momento.
No entanto, seu modelo de negócio liga um sinal de alerta, e a descentralização, bem como a capacidade de monetização da rede, devem ser examinados com cuidado.
O sinal de alerta
Analisando com um olhar mais cético, algumas críticas quanto ao modelo adotado pela Friend.tech, são:
- Preocupações sobre a privacidade: críticos apontam a falta de uma política de privacidade sólida na plataforma, levantando questionamentos sobre a segurança dos dados dos usuários.
- Depósito de ethereum: a obrigação do depósito de pelo menos 0,01 ETH que devem ser transferidos de uma carteira no blockchain da Base é bem suspeita.
- Grandes incertezas operacionais: relatos de uma interface instável e falta de transparência no roteiro operacional da rede aumentam as desconfianças sobre a seriedade do projeto.
- Modelo de preços e sustentabilidade suspeitas: a estrutura de preços da plataforma segue uma função quadrática, o que pode resultar em aumentos exponenciais com a demanda — e também em quedas exponenciais a qualquer momento.
A crítica quanto a sua estrutura de preços é extremamente relevante e o principal ponto que não se pode ignorar. Afinal, a necessidade de aporte inicial para fazer parte da rede e a exigência de compra de “ações” de um usuário para entrar em um chat específico, são parecidas com um esquema Ponzi, a tão temida Pirâmide Financeira.
Não menos importante, o fundador da Friend.Tech é o @0xRacerAlt, o que faz com que o ponto de interrogação sobre a solidez e seriedade do projeto seja ainda maior.
Conhecido no mundo cripto por seus “experimentos sociais”, além do Friend.Tech, o @0xRacerAlt lançou projetos os TweetDAO e Stealcam, onde ambos tinham promessas inovadoras, mas foram descontinuados após um curto período de alguns meses de funcionamento, deixando usuários a ver navios.
*As informações, análises e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews.
Veja também
- 123Milhas apostou em ‘cenário perfeito’ e pôs em xeque modelo de negócio
- Pirâmide financeira: o que é e como não cair nessa armadilha?
- CPI das criptomoedas vai ser instalada nesta terça; veja como vai funcionar
- Quem é o influenciador de criptomoedas investigado por pirâmide financeira
- Juliana Paes e outros famosos são vítimas de esquema de pirâmide, diz site