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Quais são as possibilidades de o Ibovespa cair abaixo de 100 mil pontos?

Analistas divergem sobre possibilidades e apontam a PEC dos precatórios como fator que deve guiar a tendência nos próximos dias.

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O Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, a B3, atingiu na última semana o patamar de 102 mil pontos, na menor pontuação de fechamento do ano. Para os analistas, a possibilidade de o indicador continuar caindo nos próximos dias até chegar abaixo dos 100 mil pontos depende de um fator principal: a PEC dos precatórios

A expectativa é de que o Senado aprove nos próximos dias a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera o pagamento dos precatórios e o teto de gastos, abrindo espaço no orçamento do governo para gastos como o Auxílio Brasil. A medida, que já foi aprovada na Câmara, não é vista com bons olhos pelo mercado, mas alivia ao menos as incertezas de curto prazo para as contas públicas. 

Diante das dúvidas sobre como será o avanço da PEC no Senado, alguns especialistas acreditam que o Ibovespa pode, sim, cair abaixo dos 100 mil pontos nos próximos dias.

“Essas chances são altíssimas”, diz Leonardo Santana, especialista em ações da Top Gain, afirmando que, “caso essa PEC não seja aprovada, o mercado vai ver isso com péssimos olhos e a gente pode não só chegar a perder os 100 mil com muita facilidade”.

“Caso não aprove a PEC, o Bolsonaro vai querer, da mesma forma, aprovar o Auxílio Brasil. E de onde vai sair esse dinheiro se não tem? Ele já tinha falado que, se a PEC não for aprovada, ele vai ter que colocar a medida de calamidade pública, que tira o limite do teto e aí você pode gastar com muito mais facilidade. Outra coisa que ele tinha comentado é aumento de salário de servidores públicos. Ele vai querer encaixar tudo isso. Auxílio para os caminhoneiros, e ainda mais o que pode vir à frente. Ou seja, o rombo vai ser muito maior”, analisa Santana. 

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, também condiciona a queda do Ibovespa aos 100 mil pontos à PEC dos precatórios. “São vários fatores que podem derrubar a bolsa no médio prazo”, diz ele, citando o aumento dos juros e a questão fiscal. “Agora, no curto prazo, ela ir para 100 mil pontos claramente é a questão da PEC dos precatórios. Não tem outro suporte para a nossa bolsa a não ser a PEC dos precatórios”, afirma. 

Para Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, “internamente tem motivo, sim, para o Ibovespa, em algum momento nos próximos meses, perder esses 100 mil pontos”. Ele também cita as questões fiscais e as dúvidas sobre a PEC dos precatórios, e acrescenta ainda os fatores externos entre as dúvidas. 

“Externamente, surgiram outros motivos bons e ruins recentemente. A parte boa é os Estados Unidos com os pacotes trilionários sendo aprovados. Até o Japão aprovou um quase trilionário também. Então, está tendo mais recursos sendo despejados no mundo. A parte ruim: o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) de fato começou a retirar os estímulos da economia. E também a Europa que voltou a ter uma piora na questão da pandemia, com algumas regiões entrando em lockdown novamente”, diz Cruz. 

Imprevisibilidade do Ibovespa

Enquanto alguns especialistas enxergam possibilidades claras de o principal indicador da bolsa de valores perder o patamar de 100 mil pontos, outros afirmam que isso não deve acontecer. 

Entre eles está Bruno Komura, da equipe de análise da Ouro Preto Investimentos. “Tem espaço para cair mais? Tem, mas acho que resolvendo este problema (PEC dos precatórios), o mercado se anima e começa a focar no rali de fim de ano”, diz ele, argumentando que “o interesse político para resolver isso logo é alto, porque a PEC possibilita o pagamento do Auxílio Brasil”. 

Enrico Cozzolino, analista da Levante, também não acredita que o Ibovespa chegue a fechar abaixo de 100 mil pontos nos próximos dias. “Do ponto de vista de probabilidade, a gente usa bastante análise técnica”, diz ele, apontando que a marca dos 102 mil pontos, atingidos pelo Ibovespa na última quinta-feira (18), é importante para prever os próximos passos. 

“Os 102 mil pontos é um fundo de um canal de baixa. A partir do momento em que essa linha inferior do canal é encostada, existe um repique de preços. Sobe. E com o Ibovespa fazendo um topo menor, talvez para os 105 mil pontos”. 

Cozzolino afirma que, “vendo tudo isso, acaba entrando fluxo comprador”, o que faz a bolsa subir. “E por quê? Só por causa do ponto gráfico? Não. Tem um fundamento por trás, que acaba sendo empresas baratas.” 

“Eu fiz um levantamento recente. Se a gente pegar o lucro das empresas, excluindo Petrobras, Vale e financeiras para não distorcer a amostra, a gente está com lucro líquido 140% maior do que foi em 2020. Comparei com o lucro de 2019, antes da pandemia. 350% maior. Então, são amostras, fatores que falam: tem empresas baratas”, explica o analista. 

Já Franchini, da Monte Bravo, lembra que é preciso levar em conta a grande imprevisibilidade do cenário, já que, para ele,”claramente a gente tem um risco Brasil, que leva o investidor a tirar o dinheiro daqui”. “Perder os 100 mil não é o que a gente olha hoje. Mas, infelizmente, é Brasil e você tem uma dependência do cenário político enorme. Então, tem que esperar para ver o que vai acontecer.”

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