A última sexta-feira (23) foi histórica para a JBS. Os acionistas minoritários aprovaram a dupla listagem das ações da companhia, que agora vão aparecer tanto na Bolsa de Nova York (Nyse), quanto na B3. Isso significa que os cotistas da brasileira JBS S.A. passam a ser agora a ser detentores de BDRs da holding JBS N.V.. Para cada duas ações JBSS3 que circulam hoje, o investidor vai receber um BDR.

Na prática, o preço do BDR que o investidor brasileiro detém vai acompanhar pari passu a oscilação de preço do papel lá em NY. E esse BDR dará a ele o direito aos benefícios da ação, como dividendos.

Na visão dos analistas, essa parece uma boa notícia para os acionistas da companhia. Um dos objetivos da dupla listagem da JBS é o que o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, chama de “destravar o valor da empresa”. Isso porque, nos Estados Unidos, a companhia terá acesso a um universo muito maior de investidores. E a um mercado onde a taxa de juros não é um concorrente tão forte quanto no Brasil.

Só que, mesmo com essa perspectiva de valorização dos papéis, as ações da JBS caíram 3,96% nesta segunda-feira (26). A princípio, isso aconteceu por razões puramente técnicas: muitos fundos de investimento têm como objetivo seguir o comportamento de índices. O Ibovespa é um índice, obviamente. Como a JBS vai sair dele, vários fundos que seguem o Ibov têm de abrir mão do papel.

Hoje a JBS está em 15 índices, diz Leonardo Alencar, da XP. Mas esse é um efeito que pode ser sentido por um tempo limitado. Quando a ação começar a ser negociada no mercado americano, a tendência é que ela passe a fazer parte de outros índices, o que abrirá o acesso a novos investimentos de fundos.

“Ainda faltam algumas etapas nesse processo. Ainda não sabemos qual vai ser o desenho final de free float nem a liquidez do novo papel da empresa”, afirma Alencar.

A listagem da JBS em Nova York deve ampliar também o acesso da companhia ao mercado de capitais de lá. E, com mais dinheiro em caixa, a JBS poderá acelerar seu programa de aquisições nos EUA, América do Sul, Europa e Oceania, regiões que já estão no radar da companhia.

É bom lembrar que, ao mesmo tempo em que a dupla listagem traz benefícios à empresa, ela também traz obrigações – que custam tempo e dinheiro para a companhia. A JBS terá, a partir de agora, seguir às exigências dos órgãos reguladores do Brasil (Comissão de Valores Mobiliários, a CVM) e dos Estados Unidos (Securities and Exchange Commission, a SEC).

Melhora no valuation

Isso tudo pode ajudar, portanto, a aumentar o valor da companhia – o chamado valuation – ao longo dos próximos anos.

Hoje, a JBS é negociada a 4,5 vezes o EV/Ebitda, ou seja, a relação entre Enterprise Value (EV, o valor de empresa,) e o lucro sem juros, depreciação e amortização. Pelas projeções de Alencar, da XP, essa relação deve chegar em 6 vezes até o final de 2025.

Só para se ter uma ideia, a Tysson Foods, que é concorrente da JBS, tem múltiplo de quase 8 vezes. “E, claro, uma mudança no múltiplo é muito positiva para o investidor”, afirma Alencar.

Os detentores das BDRs precisam ficar atentos a outras mudanças:

O tamanho da JBS

Ninguém duvida da potência que é a JBS. Aos 72 anos, a companhia tem o selo de maior produtora de carne do mundo. Com fábricas em 17 paíse e consumidores em mais de 180, tem cerca de 280 mil funcionários. É dona de marcas como Friboi, Pilgrim’s, Swift e Seara.

A JBS saiu de um prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2023 e atingiu lucro líquido de R$ 9,6 bilhões no ano seguinte.