Finanças
Microcaps: as vantagens e riscos das empresas que valem menos de R$ 1,5 bi
Grandes companhias como Magazine Luiza e Raia Drogasil já foram microcaps no passado; lucros entregues aos acionistas foram exponenciais.
Elas são menores que as small caps, as empresas de baixo valor da bolsa brasileira. Embora pouco exploradas pelo mercado, as microcaps podem garantir ao investidor ótimos retornos no longo prazo, mas é preciso conhecer as armadilhas das ações de companhias menores e fora do radar, segundo especialistas.
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Não há um consenso no mercado sobre o que define uma microcap. Na definição de Werner Roger, CIO da Trígono Capital, este tipo de ativo engloba um universo de ações com valor de mercado inferior a R$ 1,5 bilhão. Dentro deste grupo, ainda é possível dividi-lo em duas categorias:
- Microcaps natas: valor de mercado entre R$ 250 milhões e R$ 1,5 bilhão;
- “Nanicas”: toda ação com valor de mercado inferior a R$ 250 milhões;
Seguindo esta classificação, das 354 empresas brasileiras listadas atualmente na B3, cerca de 130 são consideradas microcaps.
Por serem empresas pequenas, as microcaps costumam ter suas peculiaridades. Veja abaixo:
- São ativos com pouca liquidez: Em outras palavras, não é tão fácil comprar ou vender volumes substanciais da ação e resgatar o dinheiro em pouco tempo.
- São investimentos de longo prazo: Os interessados em comprar microcaps precisam estar dispostos a segurar a ação de 5 a 10 anos para começar a enxergar resultados.
- Carecem de muitas informações no mercado: Os analistas não costumam fazer muitos relatórios sobre microcaps. É preciso procurar com lupa os dados entre balanços da companhia, informações do mercado, notícias e até provedores de dados. São recomendadas apenas para investidores arrojados e com um grau de conhecimento sobre o mercado financeiro.
Dá para ganhar dinheiro com elas?
Se garimpadas corretamente, algumas microcaps da bolsa podem oferecer chances de lucro exponencial, algo que as gigantes não conseguem fazer. Leonardo Pontes, especialista em microcaps da Inversa, explica que grandes empresas como a Petrobras (PETR4; PETR3), atualmente com valor de mercado de R$ 298 bilhões, têm uma dificuldade maior de dobrar de tamanho porque não existe capital suficiente no mercado para financiar.
“Você não consegue pensar no Itaú Unibanco (ITUB4) multiplicando dez vezes seu tamanho NO médio, longo prazo. Enquanto uma microcap posicionada em um bom nicho pode entregar isso”, afirma Pontes.
Por este motivo, as microcaps são conhecidas pelo potencial de crescimento exponencial, o que pode enriquecer seus acionistas. Um case de sucesso em microcaps é a ação da varejista Magazine Luiza (MGLU3). Em dezembro de 2015, a varejista era considerada uma microcap e suas ações eram negociadas em torno de R$ 8. Desde então, os papéis da Magazine valorizaram mais de 35.000%.
Embora os especialistas defendem que Magazine Luiza foi um caso excepcional, há outros exemplos bem-sucedidos de valorização de microcaps. Para Roger, algumas companhias que começaram pequenas e cresceram exponencialmente ao longo do tempo foram a fabricante de motores industriais WEG (WEGE3), ea fabricante de bebidas Ambev (ABEV3). Hoje ambas estão entre as dez empresas com maior valor de mercado da B3: WEG valendo cerca de R$ 136,2 bilhões, enquanto a Ambev vale R$ 194,3 bilhões.
Pontes cita a rede de drogarias Raia Drogasil (RADL3), que um dia já foi pequena e hoje possui valor de mercado de R$ 37,4 bilhões. “O crescimento não foi tão rápido quanto o de Magazine Luiza, mas nos últimos sete anos o papel multiplicou quase 10 vezes”, explica.
Conheça os riscos
Nem tudo é lucro expressivo quando falamos de microcaps. É preciso ter cuidado com algumas armadilhas ao investir nestas companhias. Algumas podem ter endividamento elevado ou estar à beira da falência.
Rodrigo Weinberg, analista da Suno, adverte que nas microcaps também é possível encontrar empresas “zumbi”, aquelas que perderam tanto dinheiro e permaneceram na bolsa apenas para morrer. “É o caso da OSX Brasil (OSXB3) [empresa fundada pelo ex-bilionário Eike Batista]. São as famosas pegadinhas da B3 ou companhias no fundo do poço”, explica.
Além deste tipo de ação, o analista adverte sobre algumas companhias que foram as estrelas do passado mas caíram no ostracismo. Uma delas é a Paranapanema (PMAM3) ou até mesmo da Saraiva (SLED4). “Muitas microcaps enfrentam processos de ‘turn around’ [ponto de virada], mas a maioria não se recupera”, aponta.
Como escolher uma microcap
Para evitar cair em pegadinhas, Werner Roger, da Trígono Capital, aconselha aos investidores escolher companhias com dívida baixa, bom crescimento e que ofereçam bom retorno ao investidor. E sempre que possível consultar estes dados em provedores de dados ou com a sua corretora. Confira algumas das dicas do especialista:
- Invista em companhias com crescimento: Nos últimos 10 anos, a inflação média do IPCA foi de 5,85%, então busque empresas com crescimento nas receitas de pelo menos 10% ao ano.
- Procure empresas rentáveis: a rentabilidade sobre o patrimônio líquido e o ROIC (retorno sobre capital investido) devem ser superiores a 10%.
- A dívida da empresa deve ser baixa: dívida líquida abaixo de duas vezes o Ebitda (lucro operacional depois das depreciações) indica que a empresa tem segurança financeira.
Roger também destaca duas microcaps com fundamentos interessantes que podem entregar bons resultados. A primeira é a produtora de pigmentos Tronox Pigmentos (CRPG5; CRPG6). Segundo o especialista, a companhia quase não tem dívidas e possui um caixa de R$ 120 milhões. “O seu faturamento é em dólar e não tem concorrente na América do Sul”, reforça.
A segunda microcap que Roger considera “segura” para o investidor é a Schulz (SHUL4), empresa que produz compressores de ar. Ela tem 89% de participação no mercado brasileiro, atendendo multinacionais, com um caixa de R$ 500 milhões.
Veja abaixo as microcaps com valor de mercado entre R$ 250 milhões e R$ 1,5 bilhão, segundo um levantamento exclusivo da Economatica Brasil para o InvestNews:
Empresa | Código | Valor de Mercado até 09/09/2020 (em R$ milhares) |
Pettenati | PTNT4 | 251.765 |
Santanense | CTSA3 | 260.312 |
Eternit | ETER3 | 269.695 |
Bahema | BAHI3 | 275.201 |
Unicasa | UCAS3 | 280.867 |
Merc Financ | MERC4 | 309.330 |
Melhor SP | MSPA4 | 314.488 |
Josapar | JOPA3 | 317.460 |
Dommo | DMMO3 | 329.449 |
Alper S.A. | APER3 | 345.732 |
Springs | SGPS3 | 350.000 |
Metalfrio | FRIO3 | 369.526 |
Priner | PRNR3 | 373.738 |
Terra Santa | TESA3 | 376.182 |
Seg Al Bahia | CSAB3 | 376.320 |
Le Lis Blanc | LLIS3 | 389.008 |
Panatlantica | PATI4 | 390.594 |
Padtec | PDTC3 | 409.509 |
Pine | PINE4 | 410.397 |
Rni | RDNI3 | 428.360 |
GPC Part | GPCP3 | 455.178 |
Excelsior | BAUH4 | 469.928 |
Paranapanema | PMAM3 | 503.034 |
Grazziotin | CGRA4 | 514.183 |
Bombril | BOBR4 | 521.018 |
GP Invest | GPIV33 | 526.099 |
Alfa Holding | RPAD5 | 542.278 |
Banese | BGIP3 | 543.156 |
Ceee-D | CEED3 | 583.599 |
D1000vfarma | DMVF3 | 600.656 |
Alfa Financ | CRIV3 | 612.016 |
Profarma | PFRM3 | 614.281 |
Alfa Consorc | BRGE12 | 620.904 |
Cristal | CRPG5 | 622.339 |
Csu Cardsyst | CARD3 | 623.137 |
Afluente T | AFLT3 | 662.393 |
Positivo Tec | POSI3 | 672.594 |
Alfa Invest | BRIV4 | 684.027 |
Taurus Armas | TASA4 | 684.334 |
Wlm Ind Com | WLMM3 | 698.423 |
Valid | VLID3 | 717.668 |
Moura Dubeux | MDNE3 | 751.448 |
Inds Romi | ROMI3 | 761.206 |
Par Al Bahia | PEAB3 | 796.717 |
Merc Brasil | BMEB4 | 819.277 |
Eletropar | LIPR3 | 824.892 |
Tecnisa | TCSA3 | 825.269 |
Portobello | PTBL3 | 837.392 |
Lopes Brasil | LPSB3 | 861.721 |
Lavvi | LAVV3 | 880.893 |
Dohler | DOHL4 | 898.847 |
Gafisa | GFSA3 | 916.346 |
Biomm | BIOM3 | 978.748 |
Ceb | CEBR3 | 1.001.361 |
Eucatex | EUCA4 | 1.084.040 |
Imc S/A | MEAL3 | 1.087.541 |
Emae | EMAE4 | 1.112.105 |
Kepler Weber | KEPL3 | 1.118.260 |
Fras-Le | FRAS3 | 1.150.074 |
Schulz | SHUL4 | 1.168.314 |
Amazonia | BAZA3 | 1.208.073 |
Brasilagro | AGRO3 | 1.250.346 |
Irani | RANI3 | 1.407.555 |
Alliar | AALR3 | 1.417.089 |
Fonte: Economatica