No dia da ascensão do DeepSeek, as bolsas americanas ficaram deep sick (bem doentes). E a brasileira, bem contente.

O S&P 500 amargou -1,46%. A Nasdaq, mais sensível aos papéis de tecnologia, -3,07%. Culpa dessa inteligência artificial chinesa, que mostrou-se pelo menos tão boa quanto o ChatGPT e, neste fim de semana, se tornou o aplicativo mais baixado na app store americana.

A questão: de acordo com o fundador dessa IA, o sistema foi construído em dois meses, com chips defasados e custou não muito mais do que uma padaria: US$ 6 milhões.

Bom para o público, ruim para as ações com mais peso no mundo da IA. A Microsoft cedeu 2,14%; o Google, -4,03%. Natural: se “qualquer um” pode fazer uma ótima IA, eles perdem vantagem competitiva.

E se, além disso, ainda dá para fazer com chips que não sejam de última geração, pior para a grande fabricante de chips de última geração, a Nvidia: queda de 16,86%.

Entre os índices americanos, salvou-se o DowJones, que reflete mais a indústria tradicional. Alta de 0,65%.

A troca de ações ligadas a IA por papéis de setores mais vintage, digamos assim, refletiu-se por aqui. O Ibovespa, que é praticamente um deserto em termos de empresas tecnológicas, passou por uma alta exuberante, de 1,97%.

Magalu (9,42%) e Minerva (9,23%) lideraram o bonde. Asaí (8,29%), Vamos (6,58%) e CSN (6%) completaram o top 5 – ou seja, um frigorífico, duas varejistas, uma siderúrgica e uma locadora de carros, deixando claro que a bonança foi bem distribuída entre setores.

Das 84 empresas que compõem o Ibovespa, apenas 4 ficaram no vermelho. Destaque negativo para a WEG, com gélidos -7,72%.

O tombo da multinacional de Jaraguá do Sul (SC) ajuda a explicar o clima do dia. Boa parte da receita que se espera da WEG para o futuro vem da demanda por infraestrutura de energia dos países desenvolvidos, seus clientes. E quem alimenta essa demanda é a construção de mais e mais datacenters de IA, que consomem um abuso de energia.

Mas aí veio o furacão DeepSeek, mostrando que talvez não seja necessária tanta estrutura assim.

Nvidia: meio trilhão de dólares menos valiosa

No fim das contas, a IA chinesa causou a maior perda de valor de mercado de uma única empresa na história da humanidade. Foram aqueles -16,86% da Nvidia. Em dinheiro, isso significou US$ 589 bilhões a menos para os papeis da fabricante de chips – o equivalente a 86% do valor de todas as empresas listadas na B3 (US$ 684 bilhões), de acordo com a empresa de análise Elos Ayta.

Tudo isso depois de ter subido 1.150% em dois anos. Com a grande correção de hoje, a alta nesse período perdeu a casa dos quatro dígitos. Está em 940%.

A Nvidia deixou também a liderança entre as empresas mais valiosas do mundo. Agora, com um valor de mercado de US$ 2,9 tri, ela fica atrás de Microsoft (US$ 3,23 tri) e Apple (US$ 3,47 tri).

Por aqui, o tombo da WEG representou uma perda de R$ 19 bi em valor de mercado. E ela caiu do posto de terceira companhia mais valiosa da B3 para quarta, com R$ 223 bi. Petrobras (R$ 508 bi) e Itaú (R$ 305 bi) seguem na ponta. E a Vale (R$ 230 bi) ultrapassou a catarinense.