O resultado da corrida presidencial bem mais acirrado do que apontavam as pesquisas e o destaque de nomes ligados ao bolsonarismo nas eleições para o Congresso Nacional e os governos estaduais já alimenta um rali dos ativos na segunda-feira (3), segundo gestores e analistas.
A percepção é de que uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro se tornou mais desafiadora do que o previsto, o que deve levar o petista a sinalizações mais pragmáticas na economia. Além disso, no caso de vitória de Lula, o Congresso centrista deve impedir mudanças drásticas, sobretudo no fiscal.
Na bolsa, ativos de estatais federais e estaduais devem reagir positivamente ao pleito. Destaque para Sabesp, com uma visão de maior chance para privatização com a liderança de Tarcísio de Freitas para o governo de São Paulo no primeiro turno, contrariando as pesquisas – ele disputará o segundo turno com Fernando Haddad.
O tamanho do impacto na renda variável, nos juros e no câmbio, contudo, deve depender do cenário externo, que segue desafiador com a estratégia de aperto monetário dos principais bancos centrais.
Com 99,5% das urnas apuradas, Lula tinha 48,3% e Bolsonaro, 43,3% dos votos. Simone Tebet aparecia em seguida, com 4,2% e Ciro Gomes, com 3,05%.
Veja o que dizem analistas:
Julio Fernandes, sócio e gestor dos fundos multimercado macro da XP Asset Management
- Disputa apertada entre Lula e Bolsonaro é indiscutivelmente um “resultado surpreendente para o mercado” e deve embalar um rali dos ativos locais na segunda-feira
- “Bolsonaro está vivo e com chances reais de reeleição”
- “A bolsa deve abrir subindo bem, juros longos cedendo e real apreciando, a depender do desempenho das outras moedas”
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Capital
- Bolsonarismo saiu fortalecido do primeiro turno, à medida que governadores e senadores ligados ao presidente Jair Bolsonaro venceram o pleito por todo o país
- Essa configuração, aliada a uma eleição bem mais acirrada, deve se refletir positivamente nos mercados amanhã
- Isso porque, mesmo num cenário Lula, onde há dúvidas sobre o compromisso fiscal por parte do mercado, a configuração que se desenhou para o Congresso impediria mudanças muito drásticas
- “O resultado que saiu hoje indica que, se for Bolsonaro, continua a agenda de reformas, mas se for Lula, é um Lula mais ao centro, o que é uma coisa positiva”
Gustavo Pessoa, Legacy Capital
- “Lula vai ter que migrar mais pro centro, sinalizar um plano de governo mais ponderado e possivelmente Meirelles pra conseguir se eleger. Vai precisar ganhar eleitorado de centro”
- “Os ativos devem reagir bem ao resultado. A perspectiva fiscal com composição do Congresso, possibilidades de Guedes ou Meirelles na Fazenda melhoraram”
Frederico Sampaio, diretor de investimentos de renda variável da Franklin Templeton no Brasil
- Lula está bem posicionado e ainda é favorito, mas, no mínimo, terá de ser mais moderado em sua agenda. E isso é excelente para o mercado”
- A composição do Congresso também parece positiva, dificultando possíveis retrocessos na área econômica
- “Vejo Sabesp subindo muito” nesta segunda-feira
Marcio Fontes, gestor do Asa Hedge
- Surpresa no resultado das eleições não foi vista apenas na disputa presidencial, mas também nas votações para senador, governador e deputados
- “Candidatos ligados a uma maior ortodoxia econômica surpreenderam e isso vai ser visto pelo mercado de maneira positiva”
- Para ele, o destaque principal amanhã nos mercados locais será visto na bolsa, como a Petrobras, dada a perspectiva de privatização no caso de uma vitória de Bolsonaro
- “Mas provavelmente também teremos uma boa performance na taxa de câmbio e nos juros”
Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital
- Estatais federais, Petrobras e Banco do Brasil, e estaduais, com destaque para Sabesp, devem ter dia positivo na segunda-feira
- “A principal leitura é a de que Lula, se vencer no segundo turno, não sairá tão forte quanto se imaginava”
- Ele pondera que o exterior deve seguir uma influência negativa, mas isso não deve impedir “um rali sem exageros” na bolsa, fechamento da curva de juros e câmbio melhor
- Candido destaca que a configuração eleita para o Congresso, majoritariamente de centro, deve ajudar no bom desempenho
- “Quem ganhar não terá tanto poder porque o Congresso é centrista”
Katrina Butt, economista sênior da América Latina da AllianceBernstein em Nova York
- “Como os resultados foram mais próximos do que a maioria das pesquisas antes do primeiro turno indicavam, os ativos brasileiros devem subir”
- “No entanto, ainda há uma incerteza significativa no segundo turno, incluindo um risco de agitação social e chamadas de fraude eleitoral se Bolsonaro perder no segundo turno”
Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter
- “O resultado mais acirrado do que mostrava as pesquisas e o Congresso mais de centro-direita pode trazer a disputa no âmbito de políticas econômicas mais para o centro, o que seria bem recebido pelo mercado”
- “Mas a incerteza ainda deve ser predominante, principalmente com o cenário internacional mais desafiador”
Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes da Aegon Asset Management em Chicago
- “Pode haver um breve rali de alívio, mas os ativos brasileiros serão influenciados principalmente pelos mercados globais”
- “O foco do mercado agora mudará novamente para as urnas e como as expectativas evoluem entre Lula e Bolsonaro”
- “Os mercados esperam mais sinais de uma pausa no ciclo de alta dos banco centrais de mercados desenvolvidos, o que não acredito que eles terão, então os ativos de risco provavelmente permanecerão vulneráveis”
Jefferson Lima, responsável pela mesa de juros da CM Capital
- “O atual presidente Jair Bolsonaro conseguiu representatividade no Congresso. Se eleito, terá apoio. No caso da eleição do Lula, encontrará forte oposição e dificuldades para aprovações”
Wilson Ferrarezi, economista para Brasil da TS Lombard
- “Talvez tenha sido o resultado mais favorável do ponto de vista do mercado, dado que isso diminui a margem para radicalização de ambos candidatos no futuro próximo”
- Apesar de a incerteza quanto ao resultado prevalecer por mais praticamente um mês inteiro, há um lado positivo para o mercado: ambos candidatos terão que buscar votos menos polarizados e dar sinais mais concretos sobre a direção da política econômica num eventual governo
- Cenário base da TS Lombard continua sendo o de uma vitória do ex-presidente Lula
Patricia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos
- “Juros futuros longos vão cair bem”
- “Uma diferença acachapante pró-Lula seria entendida como maior legitimidade, e está claro que não teve onda pró-Lula”
- Com composição do Congresso que se formou, “tem que vir um Lula com muito mais cara de Alckmin”
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator
- “Anima o mercado a surpresa de Bolsonaro. Desanima o risco de segundo turno com propostas vistas como irresponsáveis no tema fiscal”
- “O resultado das urnas foi menos favorável a Lula do que se esperava. Tanto na disputa com Bolsonaro como em relação à votação para governadores e senadores. A votação para deputados sugere pouca mudança, o que é ruim para Lula”
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