Finanças
Renda fixa em 2024: pré-fixados e emissores de mais risco devem ficar atrativos
Essa é a avaliação de especialistas em um cenário de juros ainda em queda.
Que o ciclo de queda da Selic iniciado em 2023 deve continuar ao longo do próximo ano já é consenso de mercado. E, via de regra, juros mais baixos costumam tornar a renda fixa menos atrativa para o investidor. Porém, especialistas apontam que, apesar de estar diminuindo, a taxa brasileira ainda deve continuar alta – embora não descartem a necessidade de avaliar quais investimentos nessa modalidade fazem mais sentido para o momento.
Nos últimos meses, o Banco Central reduziu a Selic em 2 pontos percentuais, a 11,75% ao ano, em um cenário de inflação mais controlada. Ainda assim, o Brasil segue na lista das maiores taxas de juros reais do mundo. “Ainda temos uma boa janela no próximo ano em que a renda fixa, em termos reais, continua bem interessante”, comenta Guilherme Sharovsky, Investment Banker da Bloxs Capital Partners.
Para 2024, a previsão é que a Selic caia até 9,25% ao ano, segundo o Boletim Focus de 15 de dezembro. Com isso, “a transição para renda variável será paulatina”, prevê Caio Schettino, head de alocações da Criteria, sobre renda fixa e renda variável.
“Até porque ainda temos dívidas de alta qualidade de crédito com remuneração média de CDI+ 2% a.a., o que garantirá o desejado 1% ao mês com liquidez e segurança ao longo de 2024”, complementa.
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O que muda na estratégia
Apesar de os especialistas concordarem que a renda fixa deve seguir atrativa em 2024 mesmo com juros em queda, isso não significa que a estratégia do investidor deva permanecer a mesma diante do novo cenário.
Títulos pós-fixados, por exemplo, tendem a render menos quando os juros estão em queda. Um exemplo é o Tesouro Selic, que remunera o investidor pela taxa básica de juros ao final do prazo. A rentabilidade, então, fica sujeita às mudanças na política monetária, diferente do que acontece com papéis pré-fixados, em que a remuneração já é conhecida no momento da compra.
“Quando a taxa Selic cai, os títulos pré-fixados sobem, mas tem que ter um cuidado porque tem que saber o que está fazendo. Quem entrar nesses títulos pensando nisso, se resgatar antes do vencimento, pode ter prejuízo”
Cleide Rodrigues, analista chefe da Money Rise Research
Sobre esse ponto, Marina Renosto, head de alocações da Blackbird Investimentos, acrescenta que “também existe a possibilidade de ganhar na marcação a mercado (venda antes do vencimento), caso a trajetória de queda dos juros seja maior que a já precificada no momento da compra”.
Rende menos, mas ainda vale a pena?
Ainda que títulos pós-fixados e outros produtos de renda fixa possam render menos com a Selic em queda, especialistas apontam que eles ainda podem fazer sentido na composição da carteira do investidor. “Renda fixa continua excelente para objetivos de curto e médio prazo”, diz Ivan Eugênio, analista da Money Wise Research.
“Estamos presenciando títulos pagando cada vez menos, tanto CDBs quanto LCI, LCA, especialmente pré-fixados e títulos híbridos – em que parte do prêmio está pós-fixada e outra, pré-fixada, como o IPCA+. Ainda que pague menos, o investidor tem que considerar uma posição em renda fixa para ter um portfólio mais equilibrado, pensando no risco-retorno de toda a sua carteira de investimento.”
Ivan Eugênio, analista da Money Wise Research.
Rodrigues concorda, e diz que “o fato é que, para esses objetivos de curto prazo, não se deve buscar uma rentabilidade absurda”.
Mas renda fixa não é só títulos públicos
Não é somente a estratégia para investimentos em títulos públicos que sofre mudanças pelo cenário dos juros. Os especialistas mencionam também os títulos de empresas privadas, como debêntures, entre outros exemplos em que há uma variação maior de risco (afinal, a classificação depende da consolidação do emissor – ou seja, da empresa na qual se está investindo).
Diante disso, Sharovsky afirma que a grande mudança com a diminuição da taxa Selic não é se a renda fixa ainda faz sentido ou não, mas “qual seu papel exato”.
“Quando a taxa de juros está muito alta, em tese faz mais sentido alocar em ativos de empresas mais consolidadas, porque é um aumento de estresse do mercado. Quando a taxa de juros começa a cair, o prêmio para essas emissões de pagadores já consolidados fica um pouco mais apertado. Isso abre mais espaço para alocar em operações com taxa maior. Você muda de papéis com teses de segurança melhores para papéis um pouquinho mais arriscados.”
Guilherme Sharovsky, Investment Banker da Bloxs Capital Partners.
Na mesma linha, Schettino comenta que será necessário analisar teses high yield, em que é possível “encontrar boas empresas a taxas ainda atrativas”, e lembra que houve emissões com volumes expressivos de empresas mais alavancadas, especialmente no setor de saneamento.
Mas Eugênio alerta para a necessidade de avaliar o perfil de risco do investidor antes de optar por papéis com rentabilidade maior. “Ainda que haja proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), o investidor precisa ter muito cuidado em se expor a emissores de baixa qualidade.”
Renda fixa em 2024: onde investir?
O InvestNews perguntou aos especialistas quais são as recomendações em renda fixa para os investimentos no próximo ano e, com a ênfase na necessidade de se atentar ao perfil de risco, eles apontaram que, com o cenário de juros mudando, a diversificação ganha ainda mais importância.
Renosto enxerga para 2024 “os investidores reduzindo um pouco a exposição aos ativos atrelados ao CDI, como decorrência do movimento de corte de juros e alternando este montante parcial para alguns ativos prefixados ou até mesmo outras classes que podem se beneficiar com este movimento, como ações e fundos imobiliários”.
“Não acho que é o momento de zerar CDI, até porque a queda deve ser gradual. Entendo que cada vez mais existe um pouco mais de conforto em migrar para prefixados de diferentes vencimentos”
Marina Renosto, head de alocações da Blackbird Investimentos.
Já Schettino, por sua vez, comenta suas recomendações de investimentos em renda fixa de emissores privados, e diz que a Criteria prioriza “setores com teses seculares em 2023, como infraestrutura, agronegócio, saúde e óleo e gás, como Equatorial, Eletrobras, Taesa, JBS, Raízen, Rede D’Or e Raia Drogasil”.
“Nos mesmos setores, encontramos no segundo escalão teses com perfis mais arrojados, embora com boa estrutura de governança e balanços robustos. Empresas como FS Bio, Lavoro, Enauta, Aegea, Hapvida devem compor a carteira de Renda Fixa dos nossos clientes em 2024”, complementa ele.
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