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Saiba como escolher o melhor CDB e fugir das armadilhas

Especialistas apontam que é preciso se atentar à rentabilidade, mas também ao risco do emissor.

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O ciclo de alta de juros e a fase de maior volatilidade na economia nos últimos anos expandiram os investimentos em renda fixa, em especial no Certificado de Depósito Bancário (CDB). Levantamento da B3, bolsa de valores brasileira, mostra crescimento de 21% no número de pessoas físicas que investiram em CDBs entre dezembro de 2021 e junho de 2022: foram 8,7 milhões de investidores no período, com movimentação de R$ 562,8 bilhões. 

“Em termos de rentabilidade, o que a gente tem visto são CDBs oferecendo taxas superiores à poupança e ao Tesouro Direto”, diz Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da Eu me Banco, ao recordar a escalada da Selic, hoje em 13,75% ao ano, a partir de meados de 2020. 

O CDB é um título privado emitido por uma instituição financeira para captar dinheiro. Ao adquirir um CDB, o investidor recebe em troca o pagamento de juros acordado no ato da compra. É uma aplicação considerada mais segura, porque tem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até limite de R$ 250 mil por instituição e R$ 1 milhão por Cadastro de Pessoa Física (CPF). 

O economista Rodrigo Azevedo enfatiza que a escalada do número de investidores em CDB se deve também à liquidez diária e à facilidade na aquisição desses títulos, oferecidos por gerentes de bancos com mais afinco que outros papeis, como títulos do Tesouro Direto, por exemplo.

“A vida do investidor é facilitada por ter esse relacionamento com seu banco. Ele pode fazer a aplicação para não deixar o dinheiro parado em conta corrente e, se precisar, o dinheiro estará disponível em poucos cliques no internet banking para resgatar. Isso contribui para a popularização do ativo.” 

Há vários tipos de CDBs, com diferentes prazos de vencimento, de valores de aplicação mínima, de garantias e de taxas em função da instituição que faz a emissão e do perfil de relacionamento que o cliente tem com esse banco. “O que é mais comum de se verificar é um CDB com aplicação mínima de R$ 500 e com prazo que varia de um ano (liquidez diária), até de 360 a 720 dias, ou seja, de um a dois anos, prazo do CDB”, diz Ricardo Jorge, analista de renda fixa da Quantzed.

“O mesmo banco, inclusive, pode fazer emissão de CDB com diferentes condições, com prazo mais longo, uma taxa melhor, com um valor de aplicação mínimo maior ou menor. Tudo isso depende do emissor”, complementa.

O que deve ser considerado na escolha do melhor CDB? 

Apesar da abundância de CDBs no mercado, Jorge, da Quantzed, afirma que o investidor deve observar a solidez do banco emissor (risco de liquidez) para evitar perdas na hora do resgate do investimento ou até levar um calote da instituição financeira.

“Os melhores CDBs são aqueles que pagam mais, mas é preciso considerar o risco do emissor e o limite garantido pelo FGC de até R$ 250 mil. Quanto menos reconhecido e quanto menor for o emissor, maior é o risco que ele oferece. Obviamente, esse risco precisa ser compensado com uma taxa maior.”

Ricardo Jorge, analista de renda fixa da Quantzed

Quando se investe em um CDB, o investidor empresta dinheiro para uma instituição financeira e corre risco de crédito. Embora o CDB ofereça baixo risco, se o banco emissor do título entrar em falência, o investidor pode levar alguns meses para receber o recurso investido e, nesse período, o dinheiro fica parado. Para amenizar o risco de crédito, é importante diversificar sempre a carteira de investimentos. 

Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem comprar CDBs. Para isso, o investidor deve estar com CPF regularizado e ter conta ativa em uma corretora ou banco de investimentos regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, há três fatores a se avaliar para escolher um CDB. São eles: o emissor da dívida, a taxa paga e o prazo do título, que varia entre 30 dias e 5 anos. Há cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para resgate inferior a um mês. 

“É importante avaliar o emissor da dívida. No caso do CDB, a taxa que está sendo paga por ele e se é melhor ou pior em relação à média do mercado. Além do prazo, pois se for uma ótima taxa, só que para um prazo muito longo, o investidor pode ficar muito exposto às mudanças de mercado, e essa taxa pode ficar defasada muito rápida. É muito importante casar esses três fatores.”

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil

Considerado uma aplicação tributável, o CDB segue a tributação regressiva do Imposto de Renda (IR) para aplicações de renda fixa. Quanto menor o tempo, maior a alíquota a ser paga pelo investidor: 22,5% (até seis meses), 20% (de seis meses a um ano), 17,5% (de um ano a dois anos) e de 15% (acima de dois anos). 

E qual é o perfil de investidor para CDBs?

Investimentos (Foto: Pixabay)

“Para todos os perfis, mas em especial para o perfil conservador, pois casa segurança e boa rentabilidade. O investidor agressivo normalmente usa os CDBs mais como opção de caixa, em que o dinheiro vai ficar aplicado até surgir uma nova oportunidade. Já o investidor conservador costuma alocar em CDBs pensando no médio e no longo prazo, o que garante um ótimo retorno, pois quanto maior o prazo, maior a taxa de retorno que o investidor pode conseguir”, explica Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil.

Como escolher CDB com liquidez diária?

O CDB com liquidez diária é uma alternativa a quem quer investir com a possibilidade de resgatar a aplicação a qualquer momento. Ao realizar essa transação, o investidor recebe os juros proporcionais ao período em que o dinheiro ficou aplicado, sem penalidades. O investidor recebe o dinheiro no prazo de um dia útil. Entre as opções de CDBs, a modalidade pós-fixada é uma das mais usadas nos CDBs de liquidez diária. 

prós e contras no CDB com liquidez diária. Entre as vantagens há o investimento de curto prazo para evitar o dinheiro parado na conta (como na poupança), a formação de uma reserva de emergência, a oportunidade para aproveitar bons momentos no mercado e o alto nível de segurança. Mas a oscilação do mercado pode trazer rendimento menor que os títulos de longo prazo e taxas menos atrativas. 

“Geralmente os CDBs, uma boa parte deles, são opções de investimentos de curtíssimo prazo. O investidor não quer deixar o dinheiro parado em conta corrente e deixa no CDB. No momento que ele precisar daquele recurso, ele vai lá e faz o resgate de maneira muito simples e rápida no banco emissor”, diz Ricardo Jorge, analista de renda fixa da Quantzed.

“O quesito liquidez é muito importante para aquelas pessoas que não têm um planejamento financeiro mais apurado, dado que ela não sabe quando vai precisar daqueles recursos. Ter a liquidez diária é um fator muito importante para quem precisa daquele capital de giro, para quem precisa daquele giro do dinheiro muito constante ou não tem como se se planejar financeiramente”, complementa. 

Como a rentabilidade do CDB é calculada?

A rentabilidade do CDB é calculada conforme a modalidade de investimento e pode ser verificada na corretora ou no banco. São três tipos: prefixada, pós-fixada ou híbrida.

No prefixado, a taxa de juros é definida no ato da aplicação. O investidor já sabe a remuneração que receberá no final do prazo no ato da compra, sem se preocupar com as oscilações na economia.

Já no pós-fixado, a rentabilidade acompanha algum índice. O mais comum é atrelar o título a um percentual do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), com lastro em operações entre instituições bancárias. Monitorado pelo Banco Central, a transação consiste em empréstimos diários para garantir o saldo positivo dos caixas dos bancos. 

Nessa operação, a taxa de juros cobrada é chamada de CDI ou taxa DI, calculada diariamente a partir das taxas médias dos empréstimos pela Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privado (Cetip), operada pela B3. Ainda no pós-fixado, o CDB pode ser atrelado ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). 

“A preferência esmagadora dos investidores é o CDB pós-fixado, aquele que paga um percentual do CDI. Isso varia muito de instituição para instituição e do relacionamento do cliente com o banco. Geralmente, a remuneração gira em torno de 100% do CDI. Quanto maior o seu relacionamento com o banco, maior é a taxa que o banco provavelmente vai te pagar nesse segmento. E o contrário é verdade. Cada banco pratica uma taxa, que varia em função, também, do relacionamento do cliente com banco emissor”, diz Jorge.

No híbrido, o investidor combina parte prefixada e outra pós-fixada – normalmente atrelada ao IPCA. A vantagem dessa aplicação é a garantia do poder de compra, pois o investidor sempre busca ganho real (acima da inflação). Essa modalidade tem características de NTN-B, Notas do Tesouro Nacional de série B ou Tesouro IPCA+, com cupom de juros mais variação do IPCA daquele período da aplicação.

“A característica remuneratória desses CDBs funciona exatamente como os títulos do Tesouro Direto. O cálculo e a composição são iguais. A diferença é que CDB é um tipo de emissão privada, com um risco privado. E o Tesouro Direto são ativos que possuem um risco soberano, ou seja, um risco emitido pelo Tesouro Nacional”, diz Ricardo Jorge, ao destacar que os CDBs precisam pagar mais que os títulos do Tesouro para serem mais competitivos. 

O analista ressalta que os bancos, muitas vezes, se “aproveitam da falta de informação dos investidores e vendem CDBs que pagam menos que uma LFT, Letra Financeira do Tesouro ou Tesouro Selic”. “O banco vende CDB que ‘oferece um risco maior que um título do governo’ e, ainda assim, o banco consegue pagar menos para fazer a captação de recursos dos investidores.”

“Isso acontece devido à falta de educação financeira. As pessoas não entendem do produto, não sabem o que ele significa e se deixam vencer pelos argumentos dos gerentes que vendem produtos ruins, uma vez que há opções melhores disponíveis no mercado com a mesma facilidade”, complementa.

Como saber qual é a taxa do CDB hoje?

Os CDBs prefixados não sofrem influência direta de nenhum indexador. Contudo, se a expectativa da Selic for de queda, o investidor pode ter uma remuneração melhor se aplicar em CDB pré-fixado a um CDB pós-fixado a curto prazo. 

Já os títulos pós-fixados e híbridos são suscetíveis à taxa Selic e ao IPCA. A taxa básica de juros da economia impacta diretamente o CDI (taxa DI) e o IPCA, ambos usados na rentabilidade dessas duas modalidades. É mais comum o investidor optar por CDBs pós-fixados com taxa DI para avaliar a performance da carteira de investimentos, pois o percentual está atrelado à Selic. 

O valor da taxa CDI acumulada em 2022 até agora é de 13,65% ao ano. No mês de agosto, o índice mensal era de 1,17% ao mês. No site da bolsa de valores (B3), o investidor pode visualizar a taxa DI. O índice é usado como parâmetro para calcular a rentabilidade de vários ativos, entre eles os de renda fixa (públicos, corporativos ou bancários), como o CDB.

TABELA

Com Selic em 13,75%, investir em CDBs é uma boa alternativa, segundo Idean Alves, da Ação Brasil. “É um excelente investimento, pois hoje dá um retorno bruto de quase 1,2% por mês, enquanto a bolsa no ano a ano conta com uma valorização de 8,64%, fora a volatilidade que incomoda e assusta alguns investidores.”

“As taxas dos CDBs hoje estão bem atrativas e mostram-se vantajosos os CDBs que estejam rendendo acima do CDI, que hoje está em 13,65%. Aplicação com 105%, 112% do CDI ganham destaque, assim como prefixados de 16% por ano, ou indexados a inflação com retorno acima de 8% (IPCA+8%)”, complementa. 

Alves alerta que o investidor que optar por investir em CDBs com indexador atrelado ao IPCA precisa ficar atento ao início da deflação neste semestre. “Quando há deflação, a rentabilidade do título que está atrelada a inflação, no caso o IPCA+, vai ser menor. Parte do rendimento dele é fixa, por exemplo, IPCA+8%, o que garante um retorno mínimo. Só que quando ocorre a deflação, ela ‘subtrai’ rentabilidade dos papéis de inflação, causando volatilidade nos papéis com marcação a mercado.”

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