Apesar do Congresso derrubar as mudanças nas regras do IOF definidas pelo governo, mantendo a alíquota em 1,1% para quem comprar moeda estrangeira em contas globais (valor mais competitivo do que os 3,5% cobrados em operações com cartão de crédito e débito), ainda se manteve uma variável importante, que pode fazer bastante diferença no custo de quem quer investir ou viajar: o spread do câmbio.
Spread nada mais é do que a diferença entre o preço que a instituição paga para comprar e o preço que ela cobra para vender dólares ou outra moeda. Essa diferença vai ser embutida no valor final da operação. Quanto maior o spread, mais as instituições ganham com o câmbio negociado. E, portanto, maior o custo para o cliente.
Nesse ponto, as plataformas de contas globais saem na frente, com opções de câmbio que não passam de 2% de spread. É o caso de Nomad, Wise, Avenue, Nubank, C6 e Inter. Enquanto isso, existem instituições que cobram mais de 6% em taxas nas compras com o cartão de crédito. Algumas empresas oferecem condições especiais para novos clientes ou “promoções” de spread para atrair usuários, principalmente com a recente mudança do IOF, mas essas são oportunidades pontuais.
Na prática, o cliente paga menos pelo dólar ao usar essas plataformas, mesmo com o novo patamar de IOF igual para todos. Essa diferença de preço pode ser relevante principalmente para quem movimenta valores maiores ou faz transferências frequentes, tornando o uso dessas contas uma alternativa financeiramente mais vantajosa.
Ainda é importante o investidor se atentar ao tipo de dólar usado para cotação, já que casas de câmbio e algumas instituições utilizam o dólar turismo, que tem um preço maior. Porém, tem sido mais comum o uso do comercial, reforçando o papel do spread para encontrar a taxa de câmbio mais vantajosa.
Mais gastos, menos taxas
Em geral, os spreads definidos pelas contas globais vai variar de acordo com o volume que o cliente deseja comprar: quanto mais moeda estrangeira se compra, menores são as taxas.
Na Nomad, o spread é progressivo dependendo do volume adquirido pelo cliente. E pode variar de 2% a 1%.
Já o C6, por exemplo, cobra um spread diferente dependendo da operação. Para valores até 999,99 dólares ou euros, é cobrada uma taxa de 0,9%. E quando o valor em moeda estrangeira supera 5 mil, essa alíquota cai para 0,75%. Outras plataformas, como a do Inter, cobra um spread fixo de 0,99%.
Confira abaixo quanto cobra cada plataforma:
Considerando um dólar a R$ 5,50, a diferença entre um spread de 2% de uma conta global e de 5,5% do cartão de crédito, por exemplo, representa R$ 0,19 para cada dólar, com o valor final da moeda na primeira opção em R$ 5,61, contra R$ 5,8025 na segunda. Na compra de US$ 1.000, o gasto total seria de R$ 5.610 contra R$ 5.802,50, uma diferença de R$ 192,50.
No caso de um spread ainda menor, como os 0,50% da Avenue em seu valor mínimo, essa diferença aumenta. O valor final do dólar ficaria em R$ 5,5275 (R$ 0,2750 menor que no spread de 5,5%), o que resultaria em um gasto de R$ 5.527,50, ou seja, R$ 275 a menos que no maior spread e R$ 82,50 sobre a taxa de 2%.
Novela do IOF
Iniciada no dia 22 de maio, a novela sobre a cobrança de IOF segue ainda sem uma definição. Isso porque a Advocacia-Geral da União (AGU) decidiu entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para defender o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que elevava alíquotas do imposto e que foi derrubado pelo Congresso.
Antes do decreto – e modelo que voltou a valer agora -, o IOF era cobrado de formas diferentes dependendo da forma de pagamento ou transferência. O IOF é um tributo federal que incide sobre diversas aplicações, incluindo crédito e câmbio, desde compras com cartão até envio e recebimento de valores.
Contas globais são tributadas com um IOF de 1,1%, o que as torna um modelo muito mais vantajoso de compra de moeda estrangeira – já que cartões de crédito internacionais têm um imposto de 3,38%. Uma outra modalidade, a transferência entre contas, usada principalmente por quem ia morar fora ou conhecia alguém no exterior, é a mais vantajosa, já que o tributo era de apenas 0,38%.
O governo agora luta para voltar a valer um decreto anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que elevou a alíquota para todas essas modalidades para os mesmos 3,5%, além de diversas outras medidas. A ideia do governo busca aumentar a arrecadação e evitar um bloqueio de gastos maior que o previsto.