Finanças
Tesouro x CDB: quais as diferenças na hora de formar a reserva de emergência?
Embora sejam aplicações recomendadas para o mesmo fim, diferenças nos riscos e rentabilidade impactam investidor.
Quando o assunto é a escolha do investimento para guardar a reserva de emergência, os papéis de dívida de bancos, os chamados Certificados de Depósito Bancário (CDBs), com possibilidade de resgate a qualquer hora, e os títulos de dívida do governo, em especial o Tesouro Selic, costumam estar entre as opções mais recomendadas pelos especialistas.
“O valor principal desses títulos não é mexido. Ou seja, o investidor não corre o risco de perder o valor investido na hora do resgate. Às vezes, ele pode resgatar com uma rentabilidade baixinha, mas a intenção da reserva de emergência não é rentabilizar e sim proteger da inflação”, alerta Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais.
Em contrapartida, as aplicações têm características diferentes, como a capacidade dos emissores em honrar com o pagamento.
“Se tudo der errado na economia, quem vai quebrar primeiro é o banco, não o governo. E o governo ainda tem a opção de se auto financiar emitindo moeda, o que diminui ainda mais o que a gente chama de risco soberano”
Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais
Vale destacar que, embora o risco de falência de uma instituição financeira seja muito superior ao de um país, quem investe em CDB conta com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que devolve até R$ 250 mil por CPF em caso de quebra. O ideal, portanto, é não ultrapassar essa quantia em cada instituição na hora de investir.
Outro ponto distinto entre as aplicações é o indexador usado para remunerar os investidores. Enquanto o Tesouro leva em conta a taxa básica de juros, a Selic, os CDBs acompanham a taxa DI (Depósito Interbancário) que é, em media, 0,10% menor do que a Selic.
A taxa DI é a mesma usada pelos bancos quando emprestam dinheiro entre si. “Essas operações de curto prazo acontecem sempre ao final do dia e os bancos que fecharam com sobra de caixa emprestam para os que tiveram excedente, e essa é a taxa que remunera essas operações”, diz Luciana Ikedo, assessora de investimentos e especialista em finanças.
Mas se no mundo dos investimentos quanto maior o risco, maior o retorno exigido, por que as instituições financeiras – que são menos seguras – pagam um prêmio menor do que o governo?
“Se a taxa DI fosse maior, os bancos escolheriam vender seus títulos públicos (descapitalizando o governo) para gerar caixa, em vez de pegar empréstimos por meio dos CDIs”
Adriana Matheus, economista com certificação CFP e especialista em investimentos
O processo é parecido com a contratação de crédito por uma pessoa física que tem dinheiro investido. Se no momento de comprar um bem, por exemplo, o custo do empréstimo for menor do que os juros obtidos com a aplicação financeira, valerá mais a pena recorrer ao crédito bancário do que resgatar o valor aplicado.
Paulo Azevedo, consultor e professor nas áreas de finanças e contabilidade do Insper, explica ainda que ao negociarem a taxa DI a um custo menor, os bancos também podem pagar menos na hora de remunerar os investidores.
“O banco topa emprestar dinheiro para outro banco por uma taxa mais baixa para poder manipular o CDI para baixo e pagar menos em todas as captações”, reitera.
Veja também: Como funciona o Tesouro Direto
O que vale mais?
Como saber então o que é mais vantajoso na formação da reserva de emergência? Ariane explica que, para um CDB valer mais a pena do que o Tesouro, o rendimento deve superar a Selic, o que significa pagar mais do que 100% do CDI.
Em simulação feita pelo próprio site Tesouro é possível notar a diferença de ganhos. Ao investir R$ 10 mil em um Tesouro Selic, com vencimento em 2026, e um CDB que remunere 105% do CDI, o investidor da segunda opção terá ao final do período um valor líquido maior do que o título público: R$ 12.439,91 contra R$ 12.320,31.
O cálculo leva em conta o pagamento de Imposto de Renda e a taxa de custódia da B3, cobrada do investidor que tem mais de R$ 10 mil investidos e que corresponde a 0,20% do saldo total de suas aplicações.
Ao mesmo tempo, se a aplicação for em um CDB que renda 100% do CDI, o valor recebido pelo Tesouro ultrapassará a do título bancário.
Entretanto nem sempre será fácil encontrar disponível no mercado um título que pague mais do que a taxa DI, quando se trata de investimentos com facilidade de resgate.
“Sabendo que o investidor pode tirar os recursos a qualquer momento, o banco não vai alavancar esse dinheiro, ele vai fazer uma utilização mais conservadora, logo ele vai pagar menos para o investidor também”, explica Ariane.
Por fim, os especialistas explicam que nem sempre será fácil contabilizar se vale mais a pena comprar um CDB ou o título do Tesouro, o ideal é que o investidor simule as opções e busque proteger parte de sua reserva de emergência com investimentos em títulos do governo.
Se decidir emprestar dinheiro para o banco, é sempre indicado buscar taxas de retorno mais atrativas para compensar o risco, além da facilidade no resgate e se atentar ao limite do FGC.
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