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De morador de comunidade no Rio a diretor de um dos maiores bancos do mundo

Conheça a trajetória de Gilberto Costa, líder negro do mercado financeiro que atua pela inclusão racial.

Gilberto Costa, executivo com 27 anos de mercado financeiro

A desigualdade social no contexto brasileiro não é novidade, principalmente para as populações da cor preta ou parda, que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivem em maior nível de vulnerabilidade. O último relatório da instituição aponta que este grupo está em desvantagem em distribuição de renda e condições de moradia, tem maior taxa de analfabetismo, sofre mais violência e ocupa menos cargos gerenciais e políticos.

Embora o relatório seja recente, o problema da exclusão racial é antigo e sempre afetou esses grupos ao longo da história. Há casos de superação, mas ainda são exceções. Um exemplo é Gilberto Costa, executivo com 27 anos de mercado financeiro, hoje diretor de operações do JP Morgan, maior banco dos Estados Unidos e terceiro do mundo. Ele cresceu em uma comunidade da Baixada Fluminense e, com muito esforço, conseguiu superar as adversidades sociais para construir sua carreira.

Continue a leitura para conhecer a história de Costa e descobrir como ele chegou em sua posição entre tantos impasses.  

Dificuldades no caminho

Para o diretor do JP Morgan, as condições sociais em que ele cresceu foram as maiores dificuldades que já enfrentou. Quando jovem, Costa conta que viveu com a família numa comunidade carente da Baixada Fluminense, onde seus membros dividiam apenas um cômodo.

Nesta região, Gilberto explica que, por ser um local de pouca assistência pública nas diversas áreas de desenvolvimento, o principal grande obstáculo para ele foi a falta de acesso à educação de qualidade. “Meu início foi muito difícil porque estudei em uma escola que não tinha uma educação adequada”, conta.

Para superar essa dificuldade, depois de concluir a educação básica, o executivo foi para a Academia da Força Aérea (AFA), momento em que relata que sua vida realmente começou a mudar, porque, segundo ele, “a educação da escola militar tem uma qualidade muito alta… a barra fica lá em cima”. Dessa forma, quando Costa saiu da escola militar, conseguiu ingressar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde cursou Ciências Contábeis.

Outro fator de tribulação na história de Costa foram episódios de racismo que enfrentou. Ele conta que, no início de sua carreira, quando atuava como almoxarife, o tema da “diversidade não era algo tão presente nas organizações”. Dessa forma, pela falta de consciência das pessoas, relata ter passado por diversas situações do tipo, “quer sejam com piadas, brincadeiras ou falta de apoio”.


“Já me chamaram de fumaça, negão… essas coisas eram comuns.”


Hoje, além de líder representante, ele conduz o tema da diversidade racial

Para fomentar a pauta da diversidade racial, como representatividade negra dentro do mercado financeiro, Gilberto se tornou um dos líderes do grupo de diversidade racial do JP Morgan.

Esse grupo é formado pelos próprios funcionários da organização e tem como objetivo trabalhar a inclusão racial em todo o ecossistema do banco, tanto internamente quanto com os clientes, fornecedores e a sociedade. Além disso, o executivo também representa o JP Morgan na comissão de diversidade da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).

Fora do mercado financeiro, Costa se dedica como conselheiro de organizações do movimento negro, como Vale do Dendê e Casa Sueli Carneiro, além de também ser diretor do Pacto de Promoção da Equidade Racial.

Como promover a diversidade no mundo corporativo?

Para o executivo, atualmente, “a própria sociedade vem cobrando das organizações uma agenda mais propositiva, do ponto de vista de equidade racial”, o que é importante para que a transformação social ocorra.

Então, além das empresas estarem abertas a assumirem a causa, Gilberto explica que “o mercado precisa trabalhar muito a formação técnica”, porque para atuar no mercado financeiro, é necessário qualificação.


“Para que não tivéssemos uma falta de mão de obra negra tecnicamente preparada para ingressar nas organizações, seria muito importante que as empresas tivessem programas de formação técnica.”


Costa ainda acrescenta que “falta um pouco de estímulo dos órgãos públicos para que as empresas tenham mais ações efetivas de formação e contratação de mão de obra negra”.

“Nós temos ações acontecendo, mas não na velocidade que deveria. Aí o governo tem que ser um agente de catalisação, um agente condutor dessas políticas”, conclui.

Um conselho aos jovens negros

Aos jovens negros que desejam ingressar no mercado financeiro, o executivo recomenta que eles “busquem formação técnica”.

Para quem não tem condições, que é a maior parte da população negra do país, Gilberto diz que “hoje em dia existem vários programas de bolsas, várias organizações que apoiam jovens negros para que eles tenham o seu primeiro emprego, para que eles tenham formação”. A B3 (B3SA3), por exemplo, lançou essa semana um programa de formação no mercado financeiro para pessoas negras.

Para Costa, entre a formação técnica, também está o conhecimento da língua inglesa como algo importante para a carreira. Para quem não tiver recursos para estudar por conta própria, ele lembra que o consulado americano e o Goldman Sachs possuem projetos que oferecem ensino gratuito da língua inglesa para afrodescendentes.

Ademais, o executivo pontua que também é muito importante que os jovens busquem por mentoria e rede de relacionamento. “Hoje em dia, com o advento das redes sociais… fica muito mais fácil se conectar com outras pessoas”, explica.

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