A Nippon Steel obteve aprovação condicional do governo dos EUA para a compra da United States Steel, por US$ 14,1 bilhões, encerrando uma longa novela e selando uma fusão que criará será a segunda maior siderúrgica do mundo.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira, as empresas disseram ter aceitado um acordo de segurança nacional proposto pelo governo Trump, que havia aprovado o negócio anteriormente, com essa condição.
Como parte do acordo, a empresa japonesa vai investir mais US$ 11 bilhões até 2028, incluindo um compromisso inicial em um projeto greenfield que só será concluído após 2028. A Nippon já havia elevado sua promessa de investimento adicional para obter a aprovação do presidente Donald Trump.
Segundo pessoas familiarizadas com o assunto, a Nippon Steel também investirá mais US$ 3 bilhões depois de 2028 para a construção de uma nova usina siderúrgica, o que elevará o investimento adicional total — além do preço da aquisição — para US$ 14 bilhões.
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Mais cedo na sexta-feira, Trump abriu oficialmente caminho para a aprovação da venda da US Steel ao apresentar o acordo às empresas e modificar a ordem executiva do ex-presidente Joe Biden que havia bloqueado o negócio.
A ação de Trump liberou a venda, desde que as empresas cumpram as condições impostas pelo governo.
“O presidente Trump prometeu proteger o aço e os empregos americanos — e cumpriu essa promessa”, disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, em comunicado por escrito. “A ordem executiva de hoje garante que a US Steel permanecerá na grande Comunidade da Pensilvânia e será protegida como um elemento crítico da segurança nacional e econômica dos EUA.”
A Nippon Steel e a US Steel informaram no comunicado que receberam as aprovações regulatórias necessárias e que “a parceria deverá ser finalizada em breve”. Segundo o jornal japonês Nikkei, o negócio deve ser concluído até 18 de junho, data limite do contrato de fusão.
Nesta semana, Trump disse que os EUA teriam uma chamada “golden share” (ação dourada) na empresa resultante da transação, embora ainda não esteja claro o que isso significa exatamente. As empresas confirmaram que os EUA terão essa golden share, mas não deram detalhes.
Os termos do acordo de segurança incluem medidas de controle significativas e inéditas por parte dos EUA, como o poder de influenciar algumas cadeiras do conselho e exigências de que alguns cargos de liderança sejam ocupados por cidadãos americanos, segundo uma fonte familiarizada com o pacto. A golden share, no entanto, não envolve participação acionária na empresa, disse essa pessoa.
“O governo japonês acredita que esse investimento fortalecerá a capacidade das indústrias siderúrgicas do Japão e dos EUA de gerar novas inovações e aprofundará a parceria entre os dois países”, afirmou o ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Yoji Muto, em comunicado. “Acolhemos com satisfação a decisão do governo dos EUA.”
Trump, Biden e a ex-vice-presidente Kamala Harris haviam feito campanha contra o negócio, antes de o ex-presidente bloqueá-lo em janeiro. Desde então, Trump reverteu sua posição, insistindo que o acordo preservará empregos no setor siderúrgico dos EUA.
O texto do acordo de segurança ainda não foi divulgado. Trump e outros já haviam anunciado alguns elementos do acordo anteriormente, incluindo bônus para os trabalhadores siderúrgicos, a exigência de manter os altos-fornos existentes em operação por pelo menos uma década e poder de veto do governo sobre o conselho da subsidiária da US Steel.
Trump também celebrou o acordo como uma validação de suas políticas comerciais, que têm incluído tarifas com o objetivo de forçar empresas a trazer mais produção para os EUA. O Japão tem conduzido negociações com os EUA sobre comércio para tentar evitar tarifas mais altas que Trump vem ameaçando. A decisão de Trump de apoiar a oferta da Nippon Steel pode dar novo impulso a essas conversas.
Duas semanas atrás, Trump realizou um comício na Pensilvânia, na icônica unidade da US Steel no Vale do Monongahela, comemorando o acordo com uma multidão de trabalhadores siderúrgicos — mesmo antes de sua finalização.
Naquele evento, Trump também anunciou que estava dobrando as tarifas sobre aço e alumínio, de 25% para 50%.
Desde então, autoridades do governo, executivos das empresas e assessores da negociação trabalharam para acertar os últimos detalhes e obter as assinaturas finais.
O negócio cria uma empresa combinada que se tornará uma concorrente doméstica de peso para a Nucor, que há décadas domina a indústria siderúrgica americana. A aquisição também abre caminho para avanços na produção de tipos de aço em que os EUA têm ficado para trás nos últimos anos, incluindo o aço essencial para reforçar as redes elétricas fragilizadas do país.
A aquisição pela empresa japonesa virou um tema político delicado depois que a liderança nacional do sindicato United Steelworkers — com sede, assim como a US Steel, em Pittsburgh — se opôs veementemente ao negócio. Biden apoiou o sindicato, assim como Trump. O acordo seguiu um caminho tortuoso, com prorrogações, bloqueio por Biden, disputa legal e, por fim, a reavaliação de Trump antes da aprovação final.
Nippon Steel e US Steel trabalharam para tentar responder às preocupações, com o vice-presidente Takahiro Mori fazendo visitas repetidas aos EUA para assegurar o fechamento do negócio.
As divisões dentro do sindicato ficaram expostas durante o processo, com líderes locais demonstrando apoio ao acordo e rompendo com a liderança nacional.
A reversão de Trump foi um processo de meses. Em fevereiro, ele surpreendeu as partes ao anunciar apoio a algum tipo de participação minoritária — uma declaração que os envolvidos não esperavam e não entenderam. O acordo, então e agora, sempre foi baseado na compra total da US Steel pela Nippon Steel. A questão eram as medidas de mitigação.
O presidente declarou apoio a uma “parceria planejada” entre as empresas em 23 de maio, sem dar detalhes, num anúncio que pareceu sinalizar a bênção ao acordo original com medidas adicionais de controle.
Por Josh Wingrove e Joe Deaux