Siga nossas redes

Geral

Taylor Swift: queixas a T4F geram notificação do Procon e pedido ao MP

Especialista afirma que empresa pode ter multa milionária; relembre outros casos como Coldplay e RBD.

As vendas para os shows da cantora Taylor Swift no Brasil duraram menos do que os fãs esperavam. Em cerca de meia hora, não havia mais ingressos disponíveis, gerando milhares de queixas contra a T4F (SHOW3) e chegando a ensejar notificação do Procon e pedido de investigação de uma deputada ao Ministério Público. O caso, no entanto, não é isolado e já aconteceu com outros eventos – tanto no Brasil quanto lá fora.

Taylor Swift em Chicago na "Eras Tour" em 2 de junho de 2023. (Foto: Shanna Madison/Tribune News Service/Getty Images - via Bloomberg)
Taylor Swift em Chicago na “Eras Tour” em 2 de junho de 2023. (Foto: Shanna Madison/Tribune News Service/Getty Images – via Bloomberg)

Por volta das 10h30, na segunda-feira (12), os ingressos para ver a cantora norte-americana que estavam disponíveis havia 30 minutos se esgotaram para as três datas. Naquele momento, mais de 1,7 milhão de pessoas esperavam a chance de garantir uma entrada. 

O caso é semelhante ao registrado na pré-venda da turnê, a “The Eras Tour”, nos Estados Unidos. Na época, em novembro de 2022, a demanda foi tão grande que o sistema da Ticketmaster, responsável pelas vendas no país, colapsou. Além disso, todos os ingressos para os shows foram comercializados durante a pré-venda, e a venda ao público geral, prevista para o dia seguinte, foi cancelada.

Além da alta demanda, os dois casos se assemelham por relatos de fãs de que cambistas teriam tomado seus lugares nos momentos de compra. Segundo queixas nas redes sociais e no Reclame Aqui contra a T4F, empresa responsável pela comercialização no Brasil, cambistas teriam comprado as entradas e já estariam realizando a revenda em sites não oficiais. 

Colapso foi ‘fraude’?

Assim como no Brasil os consumidores acusam cambistas, a acusação nos EUA era de uma “fraude intencional”: fãs alegaram que a Ticketmaster estaria dando prioridade a esses revendedores. A companhia se defendeu ao comunicar que houve “demandas extraordinariamente altas” e “estoque insuficiente para atender”.

A empresa explicou que selecionou 1,5 milhão de pessoas para obter códigos de pré-venda previamente com o objetivo de eliminar bots e evitar superlotação. A previsão de compra era de 3 ingressos por pessoa – o que não aconteceu. Cerca de 14 milhões tentaram garantir as entradas para uma das 52 datas nos estádios, que têm capacidade de 70 a 80 mil pessoas.

“Um número impressionante de ataques de bots, assim como fãs que não tinham códigos, geraram um tráfego sem precedentes em nosso site, o que resultou em 3,5 bilhões de solicitações”, comunicou a empresa na ocasião.

Taylor Swift (Foto: Kevin Winter/Getty Images North America - via Bloomberg)
Taylor Swift (Foto: Kevin Winter/Getty Images North America – via Bloomberg)

A própria cantora Taylor Swift se pronunciou em suas redes sociais sobre o tema.  “Perguntamos, várias vezes, se eles poderiam lidar com esse tipo de demanda e nos garantiram que sim”. Swift também reforçou que o processo foi conduzido por ela e sua equipe para garantir “uma experiência melhor aos fãs”.

História que se repete 

No Brasil, o caso é semelhante. A fila digital da venda geral bateu a da pré-venda, realizada na última sexta-feira (9) para clientes do C6 Bank, que contava com 1 milhão de pessoas. Os ingressos se esgotaram em 37 minutos para usuários do banco digital. Já a venda geral não chegou a durar uma hora.

Nas redes sociais, fãs publicaram diversos vídeos contando suas experiências nas filas para a compra de ingressos. Segundo relatos, cambistas teriam coagido pessoas nos pontos físicos de venda.

Os valores dos ingressos variavam de R$ 190 a R$ 1.050 a inteira na pista premium. Pacotes VIP também foram vendidos na faixa de R$ 1.000 a R$ 2.250. Todas as entradas para as datas 18, 25 e 26 de novembro estão esgotadas. 

Investigações

A deputada federal Erika Hilton enviou um ofício ao Ministério Público com pedido de investigação sobre o envolvimento de cambistas durante a venda dos ingressos para os shows da cantora. Em fevereiro deste ano, a parlamentar já havia entrado com um ofício para investigação de esquemas entre cambistas e a plataforma de ingressos Eventim durante as vendas dos shows da banda mexicana RBD.

O Procon já comunicou que verificará se a empresa organizadora adotou todas as medidas cabíveis para evitar a ação dos cambistas. Segundo Julia Bogdan, advogada do Ricardo Trotta Sociedade de Advogados, “a depender do que for apurado, estima-se que a empresa organizadora poderá ser multada em até aproximadamente R$ 13 milhões”.

Taylor não é a única

Outro exemplo recente foi a turnê da banda britânica Coldplay no Brasil, com a Eventim responsável pela venda de ingressos para as 11 datas. Os ingressos para os eventos em São Paulo também se esgotaram em questão de minutos em 2022. O que chamou a atenção de diversas pessoas que não conseguiram garantir suas entradas foi que, minutos depois, os ingressos já estavam disponíveis em sites de revenda com preços muito mais altos.

A banda britânica Coldplay (Foto: Mauro Pimentel/AFP/Getty Images - via Bloomberg)
A banda britânica Coldplay (Foto: Mauro Pimentel/AFP/Getty Images – via Bloomberg)

Na época, o Procon-SP notificou a Eventim para prestar esclarecimentos sobre o motivo dos ingressos terem se esgotado tão rapidamente. Em maio de 2022, o órgão julgou que a resposta da empresa não esclareceu as indagações. 

Mais tarde, consumidores reclamaram do mesmo problema em relação ao show da cantora Avril Lavigne. O Procon-SP convocou a Eventim Brasil para discutir o rápido término dos ingressos para os shows que a empresa comercializou diante disso.

O InvestNews entrou em contato com a T4F (SHOW3), responsável pelos shows e vendas para a turnê de Taylor Swift, que não retornou até a última atualização desta reportagem.

Revendas chegam a triplicar valores de ingressos

Com as entradas rapidamente esgotadas, fãs de Taylor Swift passaram a procurar o mercado secundário de vendas de ingressos

A maioria dos vendedores externos consegue recuperar os valores iniciais da compra e ainda obter lucros exorbitantes sobre ingressos que foram originalmente adquiridos por US$ 50, por exemplo. Para os shows dos Estados Unidos, algumas entradas para datas próximas podem ser encontradas para os mais variados setores e custar até cerca de US$ 10,8 mil (aproximadamente R$ 52 mil). 

Imagem do site de revendas StubHub. Ingressos disponíveis para o show do dia 16 no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. (Imagem: Reprodução)

Na mesma plataforma, os ingressos para os shows no Brasil chegam a custar até R$ 8.550. A pista premium, originalmente vendida a R$ 1.050, é comercializada por R$ 5.225 por entrada.

Ingressos disponíveis para o show em São Paulo, no Allianz Parque, em 25 de novembro. (Imagem: Reprodução)

Nas redes sociais, fãs também tentam comprar entradas para uma das datas agendadas no Brasil, o que pode abrir brechas para golpes.

A advogada Julia Bogdan alerta que, para um processo seguro, as vendas dos ingressos geralmente devem ser feitas por meio de um cadastro completo do consumidor, para que sejam validadas as suas informações. É importante que haja limite de compras por CPF, o que busca evitar a atuação dos cambistas.

“Se o consumidor verificar que foi vítima de algum tipo de golpe, é preciso registrar um boletim de ocorrência, denunciar a fraude no Procon e procurar imediatamente um advogado para verificar se será possível ingressar com ação de indenização”, explica a especialista.

O que diz o Procon

O Procon-SP informou na segunda-feira (12) que emitiu notificações à T4F, empresa organizadora dos shows da cantora. 

Após análise preliminar das reclamações de consumidores, a conclusão é de que os ingressos teriam se esgotado em poucas horas nos canais oficiais, mas estariam sendo anunciados e vendidos em sites não-oficiais a preços muito maiores.

“É essencial que os consumidores registrem suas reclamações em nosso site, porque elas geram as notificações para que as empresas expliquem seus procedimentos e ainda ajudam os órgãos de defesa do consumidor, como o Procon-SP, a analisar e estudar formas de melhorar as relações de consumo, além, claro, do apoio na mediação de conflitos”, comunicou Rodrigo Tritapepe, diretor de Atendimento e Orientação do órgão, por nota.

A empresa organizadora deve, agora, apresentar suas explicações e, nos casos pertinentes, adotar medidas que solucionem os problemas apontados, conforme as regras do Código de Defesa do Consumidor, informou o órgão.

Procurado pelo InvestNews, o Procon não quis comentar o caso além do comunicado divulgado.

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.