A estratégia é bem vista pelos investidores, que vinham mesmo preocupados com o nível de endividamento após a temporada de compras – entre 2019 e 2022, foram mais de 30 aquisições. Ainda assim, o desempenho das ações denuncia uma boa dose de ceticismo no mercado: desde janeiro, os papéis DASA3 caem 29%. Em cinco anos, a queda é de 98%.
Ainda é cedo, é verdade, para cravar se essa estratégia será bem executada. Afinal, se crescer é difícil, diminuir pode ser ainda mais traiçoeiro.
Em relatório publicado no início deste mês, o BTG disse que “a integração com a Amil pode gerar valor ao longo do tempo, mas, diante dos riscos de execução, preferimos não precificar todo esse potencial agora”. O banco manteve sua recomendação neutra para a ação.
A companhia concluiu em abril a formação da Rede Américas, empresa conjunta com a Amil. Para a nova companhia, a Dasa transferiu os hospitais que havia incorporado com a compra da Rede Ímpar, em 2019. E manteve em seu guarda-chuva apenas três ativos hospitalares: o Hospital São Domingos (MA), o Hospital da Bahia (BA) e a rede de oncologia AMO.
Mais recentemente, em outubro, levantou R$ 704,8 milhões com a venda de duas operações: a Diagnóstico Maipú, na Argentina, e a Mantris, sua subsidiária de saúde ocupacional.
O desafio financeiro
No 1º trimestre, a dívida líquida da Dasa era de R$ 9,3 bilhões. Nos três meses seguintes, caiu para R$ 6,8 bilhões. Mas a melhora não veio exatamente de uma virada operacional: com a criação da Rede Américas, uma fatia de R$ 3,4 bilhões da dívida foi transferida para lá e saiu do balanço da Dasa.
Agora, a dívida equivale a 2,6 vezes seu lucro operacional, que ficou em R$ 738 milhões no 2º trimestre. Ainda é um patamar alto – em média, empresas do setor trabalham com dívidas em torno de 1,8 vez o lucro operacional.
Além de reduzir a dívida, outro desafio ali é sustentar o faturamento e as margens em níveis saudáveis, agora com uma estrutura mais enxuta. No 2º tri, a receita bruta consolidada somou R$ 2,7 bilhões – 37% abaixo do mesmo período de 2024, quando a companhia ainda incluía a operação hospitalar.
A liquidez
Outro obstáculo para as ações da Dasa voltarem a ganhar tração é a baixa liquidez. Na sessão de quinta-feira (9), os papéis DASA3 movimentaram algo em torno de R$ 700 mil – bem abaixo de outras empresas de saúde, como Fleury (R$ 7 milhões) e Rede D’Or (R$ 350 milhões).
Tem a ver com a estrutura de capital: 85% das ações da Dasa estão nas mãos dos controladores – a família Godoy Bueno e a holding Cromossomo II, que também tem participação indireta da família. Só 14% dos papéis circulam no mercado.
“Os investidores institucionais têm dificuldade de fazer alocações em uma empresa com tão pouca liquidez na bolsa”, diz Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners.
A concorrência
A Dasa ainda detém a maior rede de diagnósticos do país e conta com uma boa vantagem em escala e capilaridade, graças à força de suas marcas regionais.
Outra vantagem é o posicionamento no segmento premium: no 2º trimestre, a divisão de Diagnósticos Nacional cresceu impulsionada pelo aumento do valor médio dos exames – reflexo do bom desempenho nos serviços de maior complexidade e de alto padrão.
Mas a concorrência no setor ficou mais acirrada. A Dasa não foi a única que saiu comprando empresas nos últimos anos: entre 2019 e 2022, foram ao todo 244 aquisições no setor. Foi nesse período que Fleury e Hermes Pardini anunciaram uma fusão.
Hoje, essa dupla vem ameaçando o espaço da Dasa. “O Fleury, junto com o Pardini, hoje é o principal rival. Eles têm focado bastante num discurso de qualidade e confiança médica – aí começa a pegar esse market share da Dasa”, diz Gustavo Harada, head de alocações da Blackbird Investimentos.