Venda de ativos. Essa foi a grande mola propulsora da forte valorização da Raízen e da Cosan na bolsa de valores ao longo desta semana. A euforia tem um motivo: com os anúncios recentes das duas empresas de deixar para trás algumas operações, ambas devem conseguir diminuir seu endividamento e, com isso, melhorar seu resultado.

Em cinco pregões, a Raízen registrou uma alta de 17,4%; já a Cosan acumulou uma valorização de 27,6%. O movimento foi selado em um dia de novo recorde para o Ibovespa em 142.640 pontos, após oscilar na faixa dos 143 mil pontos.

A Cosan está no foco do mercado financeiro depois de afirmar que avalia alternativas para “aprimorar sua estrutura de capital”. Isso inclui encontrar novos investidores para a Raízen, empresa que ela controla junto com a Shell. A companhia informou que “tem sido ativamente procurada por interessados em potenciais investimentos”, embora nenhuma das tratativas em curso tenha sido fechada até agora.

Foi o suficiente para convencer os analistas. Para o Bank of America (BofA), a Cosan é um caso único de turnaround – reestruturação seguida de retomada de lucratividade – e redução do endividamento na América Latina. A empresa tem endereçado bem a alavancagem do balanço, como no caso da gestão de passivos e na venda da fatia na Vale, além de cuidar bem dos problemas operacionais, principalmente envolvendo a fatia na Raízen.

“Um potencial aumento de capital na Raízen poderia gerar valor para a companhia, enquanto a entrada de um novo sócio estratégico para a Cosan poderia resultar em maior crescimento”, dizem os analistas do BofA, em relatório. A recomendação do banco para as ações da empresa é de compra.

Raízen: sem distrações

O Grupo Nós, joint venture entre a Raízen e a colombiana Femsa firmada há alguns anos para desenvolver lojas de conveniência Oxxo em postos da Shell no Brasil, será encerrado – e o mercado comemorou a notícia. É como “minimizar as distrações” e manter foco nos ativos essenciais, nas palavras dos analistas do BTG Pactual.

“Desde o começo, acreditamos que a sociedade com a Femsa para desenvolver um negócio de varejo no Brasil foi um movimento inteligente”, escrevem os analistas em relatório. “Mas, dada a situação do balanço da Raízen, que não consegue mais dar o suporte financeiro para os planos agressivos de crescimento da joint venture, o anúncio parece ser uma decisão razoável.”

A Raízen, na opinião do banco, deixou de ser um investimento galgado em crescimento e se tornou um negócio de turnaround, semelhante ao da controladora Cosan. O fim da iniciativa leva a empresa “de volta ao básico”: como não estava consolidado, o negócio não afeta diretamente o balanço da companhia, mas pode impulsionar o lucro no futuro.

No relatório, o BTG recomenda a compra das ações da Raízen, já que mesmo uma pequena melhora nas perspectivas para o fluxo de caixa livre já seria o suficiente para trazer ganhos significativos para os papéis da empresa.

A Raízen vem apresentando uma alta firme na bolsa desde que a Operação Carbono Neutro foi deflagrada, em 28 de agosto. É cedo para afirmar se isso teria algum tipo de efeito para a companhia, mas os investidores correram para se posicionar no papel com a expectativa, mesmo remota, de que a quebra do esquema de postos clandestinos abriria margem para um ganho de participação de mercado.