O trabalho de domar o aumento de preços vinha surtindo efeitos, é verdade. Mas ainda há um caminho até que a inflação volte para a meta de 2% ao ano. E esse trabalho ficou muito mais difícil desde que o presidente Donald Trump decidiu travar uma guerra comercial com todo o mundo.
Logo após comunicar a decisão de manter a taxa de juros inalterada em 4,25% a 4,5%, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi bem explícito: o efeito das tarifas comerciais está começando a aparecer nos preços ao consumidor – o que pode acabar levando a um ajuste na política monetária. “E esperamos ver mais disso adiante”, afirmou na tarde desta quarta-feira (30).
Powell já prevê que as empresas vão repassar os custos maiores de produção ao consumidor. É uma preocupação que já apareceu antes, e foi reforçada na mensagem de hoje.
O índice PCE, indicador de inflação preferido da autoridade monetária, vem cedendo. Mas Powell deixou claro que o mercado de trabalho continua aquecido, o que pode tornar esse alívio da inflação mais lento. E, por isso, é preciso adotar cautela, especialmente num momento em que o aumento das tarifas sobre produtos importados ainda cobra seu preço. De um lado, expôs Powell, agir tarde demais pode pressionar o mercado de trabalho, enquanto agir cedo demais significa falhar no controle dos preços.
O Fed está tentando ficar fora dos holofotes políticos, em um momento em que Trump vem ampliando a pressão sobre Powell para que a autoridade monetária derrube as taxas de juros. Hoje, mais um fator mostra o crescimento dessa pressão: dois membros do BC americano – Michelle Bowman e Christopher Waller, ambos indicados por Trump – discordaram da decisão de manter os juros inalterados e votaram pelo corte. Isso, por si só, pode trazer aquela dose de incerteza ao mercado financeiro – e se traduzir em piora do ambiente de negócios.
Powell tentou acalmar os ânimos. Insistiu que ambos “explicaram claramente” a sua posição e defendeu o trabalho técnico da autoridade monetária. “A independência do Fed é o que permite tomar decisões com base em dados e não com base em fatores políticos.”
O dirigente do Fed abordou até mesmo a recente ida de Trump às obras em curso no prédio do BC, dizendo que foi “uma boa visita”. Mas buscou não especular sobre o significado disso para o futuro: “Não tomamos nenhuma decisão para setembro”, referindo-se à próxima reunião da autoridade monetária. “Dados do futuro é que vão direcionar o caminho do Fed daqui em diante.”
O cenário, de fato, é bem incerto: as projeções dos analistas mostram uma clara divisão entre a aposta na manutenção e em um corte de juros na próxima reunião do Fed, segundo estimativas captadas pela ferramenta CME FedWatch.